A franquia Like a Dragon, antes conhecida como Yakuza, está presente em quatro gerações de consoles, possui oito jogos na linha principal e já conta com diversos derivados e remakes.
Definitivamente não é uma saga novata no mundo dos games, mas teve um árduo caminho até, enfim, ser vista com bons olhos pelos jogadores no Brasil e continua crescendo muito a cada novo lançamento. Entenda como a história de Kiryu, Ichiban e um bando de ex-integrantes da máfia japonesa caiu nas graças por aqui.
Superando barreiras culturais e linguísticas
No início, ainda como Yakuza, a franquia teve dificuldades para atrair o público de fora do Japão por conta de suas raízes culturais e temas pouco convencionais no ocidente, incluindo o nosso país. Apesar de ser intrigante para alguns saber como é ou era a vida de um membro da Yakuza e as tradições do submundo do crime japonês, a forma como o jogo aborda os temas - misturando drama digno de novelas mexicanas com esquetes de humor para lá de exageradas - e o seu marketing global não ajudaram, especialmente com lançamentos em datas diferentes entre regiões do mundo.
A falta de localização para o português impedia uma aproximação maior com a série por aqui também. Se as piadas e referências históricas e culturais já são difíceis ou impossíveis de entender no nosso idioma, em inglês ou japonês tornavam o desafio para o gamer médio brasileiro uma barreira intransponível. O ambiente de Kamurocho, um distrito inspirado em Kabukicho onde os jogos vivem passando seus capítulos, é cheio desses detalhes nas fachadas de lojas, missões secundárias e diálogos em geral, que acabavam passando despercebidas por jogadores não acostumados com a cultura japonesa.
O primeiro passo para a Sega, então, foi localizar os jogos para outros idiomas, incluindo a adição de legendas em português para os últimos dois jogos da franquia principal. Essa decisão não apenas tornou mais fácil a compreensão da narrativa e dos diálogos, como também permitiu que os jogadores brasileiros se importassem com os personagens e suas histórias.
A primeira tradução foi bastante atenciosa aos detalhes culturais, garantindo que as piadas e referências não fossem perdidas, também contou com algumas adaptações pensando exatamente no linguajar e gírias que usamos no Brasil, o que ajudou ainda mais na parte do humor e a conquistar o público.
Embora nem todos os jogos da franquia tenham sido lançados com legendas em português, a inclusão de legendas em jogos mais recentes fortaleceu a comunidade e popularizou as traduções feitas por fãs, que são adicionadas nos jogos via mods no PC, o que levou mais jogadores a experimentar os capítulos mais antigos, lá da era do PS3, quando, inclusive, eram exclusivos da plataforma.
Outro passo importante foi criar os remasters e remakes dos jogos antigos, como Yakuza Kiwami e Kiwami 2. A modernização dos gráficos ajudou a introduzir novos jogadores ao universo da franquia, facilitando o acesso a histórias anteriores, dando mais poder para as continuações modernas, que seguem a vida dos personagens por décadas e não têm medo de usar o que aconteceu nos capítulos anteriores.
O equilíbrio entre drama e humor na série
Like a Dragon foi se destacando por suas narrativas profundas, que lembram, muitas vezes, novelas ou filmes com temática da máfia e crime, com personagens marcantes que são aprofundados ao longo dos jogos. O enredo explora temas profundos como lealdade, honra e questões morais, atraindo jogadores que apreciam uma boa história.
Personagens como Kazuma Kiryu, o protagonista de muitos jogos da série, conquista o jogador com sua personalidade, sendo um cara “durão” e emburrado, com um código moral firme e um grande senso de justiça, dando um contraste com o universo criminoso ao seu redor. Já o protagonista mais recente da série, Kasuga Ichiban, é o oposto de Kiryu. Ichiban é conhecido por seu otimismo e sempre faz de tudo pelos seus amigos. Mesmo diante de uma dificuldade que parece intransponível, ele mantém a confiança e segue de cabeça erguida.
Enquanto a trama principal costuma ser dramática, o humor da série brilha nas missões secundárias e nos momentos mais leves do jogo. Os jogadores são frequentemente colocados em situações absurdas, como ajudar a produzir um vídeo clipe de um cantor chamado Miracle Jackson, entrar numa trama sobre um VHS assombrado e lutar com um chimpanzé que está numa retroescavadeira. Esse humor ajuda a dar um contraste com o tom sério da narrativa principal, criando uma sensação de tranquilidade e quebra de expectativa que agrada o jogador e o mantém envolvido.
Outro ponto que contribui para essa mistura são os inúmeros minigames que estão presentes no universo de Like a Dragon, como jogar boliche, administrar uma empresa, pescar, cuidar de uma ilha ou gerenciar um cabaré. Mas o mais famoso é definitivamente o karaokê, que foi de longe o que mais ajudou a popularizar a franquia. Com músicas originais e marcantes, como “Like a Butterfly”, “24-hour Cinderella”, “Judgement -Shinpan”, e a dona dos memes da comunidade de Yakuza, “Baka Mitai”, que virou o hino da franquia e retorna em quase todos os jogos, atrai jogadores nas redes sociais pelos vídeos divertidos que gera.
Maior acessibilidade
Como você viu mais acima, a franquia, em determinado momento, foi exclusiva do PlayStation e teve lançamentos focados somente no Japão, com pouca escalada global. Com o interesse ocidental cada vez maior na franquia, a Sega quebrou essa barreira e começou a lançar os jogos da saga em tudo que é plataforma, incluindo aí Xbox, Nintendo Switch e PC.
Outra jogada de mestre foi distribuir os jogos mais antigos da franquia nos serviços de assinatura. A iniciativa começou com o Game Pass e deu tão certo que a Sega acabou traçando o mesmo caminho para a série Persona, outra que tem trajetória parecida com Yakuza no Brasil. Mais recentemente os jogos também pintaram na PS Plus e facilitaram a experimentação dos jogadores, aumentando bastante a comunidade de jogadores pelo mundo.
O resultado dessa estratégia já é visto nos jogos mais recentes. Like a Dragon: Infinite Wealth, jogo mais recente da franquia, vendeu mais de um milhão de cópias em apenas uma semana. O capítulo anterior a ele demorou meses para atingir a marca. A comunidade vem crescendo bastante, e o Brasil é um dos focos da Sega para continuar essa expansão.
Considerações
A popularidade da franquia Like a Dragon no Brasil mostra como uma história enraizada na cultura japonesa pode alcançar jogadores de todo o mundo. A narrativa envolvente, personagens inspiradores, o humor peculiar e a jogabilidade diversificada, além da localização que se tornou comum, foram fatores que conquistaram o público brasileiro.
O sucesso é consequência da crescente curiosidade por elementos da cultura japonesa. Ao se reinventar com novos estilos de jogo, como o RPG por turnos de Yakuza 7: Like a Dragon e Like a Dragon: Infinite Wealth, a franquia mostra que pode continuar inovando e aumentando sua base de fãs, sem perder o seu charme e identidade únicos.