BGS 2024: Shota Nakama sobre o Brasil: "Sinto que faço parte daqui"

Músico e produtor japonês fala sobre seu trabalho com video games em mais uma passagem pelo Brasil

13 out 2024 - 02h47
Entrevista com Shota Nakama
Entrevista com Shota Nakama
Foto: AvcF / Reprodução

Game On: Shota Nakama, muito obrigado por nos receber, seja mais uma vez bem-vindo ao Brasil! Para começar, você já esteve aqui no país algumas vezes, certo? O que você descobriu desta vez em sua estadia aqui em São Paulo?

Shota Nakama: Desta vez eu não pude descobrir muito porque eu estive muito ocupado com a produção, mas...eu bebi muito, descobri novos sabores de caipirinhas! (risos) Falando sério, desta vez pude trabalhar com alguns músicos brasileiros fantásticos, eu pude descobrir e aprender muito com eles, tem sido ótimo.

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Game On: Falando de você, agora, pode nos contar sobre como começou sua carreira como músico, como produtor e posteriormente com as músicas de games? 

Shota Nakama: Eu fui para uma escola de música nos Estados Unidos e quando estava lá eu comecei o projeto chamado Video Game Orchestra, para tocar músicas de videogames com uma orquestra. No começo era mais uma coisa entre amigos, mas de repente a virou um sucesso no YouTube, as pessoas nos chamavam para apresentações, eventos e tal. Foi aí que alguns amigos me perguntaram:  "por que além de executar, por que você também não grava canções para vídeo games?" e eu pensei "pois é, isso faz sentido" Foi assim que eu meio que entrei para a indústria dos vídeo games. Inicialmente eu não imaginava chegar tão longe, mas as coisas deram certo e enquanto eu fizer as pessoas felizes vou continuar tocando.

Game On: Quando você começou, a ideia de misturar videogames com orquestra era estranha, mas cada vez mais os games fazem parte da cultura popular. Então você acha que a aceitação do público também tem evoluído? 

Shota Nakama: Eu creio que sim. Quando eu comecei havia poucos concertos de vídeo games acontecendo pelo mundo, então algumas pessoas na época achavam que eu estava de brincadeira, mas não estava. Mas agora, todos esses jovens jogadores acham os shows a coisa mais legal do mundo. Realmente as coisas foram mudando com as gerações, eu acho hoje as pessoas aceitam melhor. Acho que é meio que inevitável, porque muita gente cresceu jogando videogames, então é natural que elas procurem as músicas que tinham a ver com isso. Acho que é por isso que o mercado está crescendo.

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Game On: E como o Sonic Symphony começou?

Shota Nakama: O Sonic Symphony começou quando rolou a apresentação para os 30 anos de Sonic, em 2021, foi tão legal e foi tão bem recebido que nós discutimos "e se fizermos um show ao vivo quando toda esse negócio da pandemia tiver terminado?" Foi meio assim que aconteceu, para nós pareceu bastante natural desenvolver a ideia de fazer os shows ao vivo, parece que todo mundo curte, os fãs estão sempre presentes e sou muito grato que isso tenha dado certo. 

Game On: Como tem sido trabalhar para uma companhia de videogames tão tradicional quanto a Sega?

Shota Nakama: Então, eu já trabalhei para várias empresas japonesas e americanas. Mas trabalhar para a Sega é uma honra, claro. Cada companhia tem a sua abordagem quanto as músicas para jogos e meu trabalho consiste em entender isso, me adaptar e fazer as coisas acontecerem. Adoro ir ao escritório deles ( da Sega), é muito legal ver todos aqueles jogos que jogamos e crescemos juntos, os consoles que já tive, é bem incrível ver tudo isso.

Game On: Falando do lado mais técnico, resumidamente como é sua abordagem para transportar uma música de um jogo para o contexto de um show ao vivo?  

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Shota Nakama: hm...vou colocar dessa forma: imagine uma canção que já foi composta, ou que pertence a uma banda de rock, por exemplo. Eu não gosto muito de desviar das ideias originais, particularmente com as músicas de Sonic the Hedgehog, porque os fãs conhecem essas canções tão bem e eles sabem o que querem ouvir. Geralmente eu transcrevo o que tem no álbum original, e aí eu começo a pensar em como eu posso adicionar uma orquestra e maximizar o impacto emocional de uma música. Tanto como arranjador quanto como produtor, eu vou tendo todas essas ideias de como "isso aqui vai ficar demais no show, as pessoas e a orquestra vão gostar, aí tocamos com mais intensidade..." Então eu organizo esses pensamentos e tendo a considerar o impacto emocional da canção e tento fazê-la ainda maior.

Game On: E nesse sentido, você acha que existem grandes diferenças entre o jeito ocidental e oriental de compor músicas para vídeo games? 

Shota Nakama: Eu acho que tem, sim. Acho que os compositores ocidentais tendem a ser "hollywoodianos", sabe? Uma música mais de plano de fundo, eu acho que ela te ajuda a se envolver no jogo, acho que é com isso que eles se preocupam. Já com relação a muitas companhias japonesas em particular, as músicas tendem a ser mais direcionadas à melodia, e se isso for feito do jeito certo pode ser bom, porque ao mesmo tempo você não quer distrair os jogadores do jogo. É uma linha tênue, e os compositores lendários sabem como lidar com isso. Eu acho que as músicas no oriente ficam mais cativantes, enquanto as do ocidente são mais plano de fundo. Eles consideram que a música faz parte de toda uma experiência, enquanto muitas companhias japonesas tendem a pensar a música como um elemento independente, digo, elas ainda fazem parte do game, mas tem mais independência.  

Game On: E quais são seus planos futuros? Novos shows, projetos...

Shota Nakama: Com o Sonic Symphony, eu vou focar em expandi-lo internacionalmente, eu quero levar o show para mais países. Eu sei que agora os shows tendem a rolar mais nos Estados Unidos, e é meu trabalho levá-lo a mais fãs de fora. De minha parte, quero continuar fazendo os shows, continuar produzindo ótimas músicas, é tudo o que quero fazer! (risos) Quero fazer mais pessoas felizes. 

Game On: então, para encerrar, você gostaria de deixar uma mensagem aos seus (muitos) fãs brasileiros? 

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Shota Nakama: primeiramente eu gostaria de agradecer a todos vocês que me apoiam. É um privilégio poder voltar ao Brasil tantas vezes para fazer o que eu amo (e tomar um pouco de açaí e apreciar um churrasco!). Honestamente, eu acho os fãs brasileiros incríveis, eles são muito acolhedores e respeitosos...eu sinto a mesma vibe da minha cidade natal...eu sou de Okinawa, e lá eu acho que as pessoas são como os brasileiros... ok, com menos festas (risos). Eu sinto que eu faço parte daqui, isso é ótimo. Então muito obrigado!

Fonte: Game On
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