Sejam amadores que gostam de interpretar seus heróis favoritos em encontros com amigos ou profissionais que vivem de fazer ou vestir estes personagens, os cosplayers e cosmakers são a faceta mais colorida e vibrante da cultura pop, Assim como outros profissionais e artistas, foram impactados pelas medidas de isolamento decorrentes da pandemia de Covid-19, que impede a realização de eventos que serviam de palco e ponto de encontro para a comunidade.
Ana Luiza Amui, 19 anos, é estudante de psicologia e trabalha com confecção de costura e cosmaker (como são chamadas as pessoas que produzem trajes e adereços para cosplay) em Uberlândia (MG). Ela conta que passar mais de um ano sem eventos fez com que precisasse mudar bastante seus planos: "Meu objetivo era ir nos eventos e fazer apresentações, tive que me adaptar para ter um destaque aqui [nas redes sociais]".
Para a cosplayer profissional Samanta Bravin, 26, de São Paulo (SP), essa adaptação envolve entender as limitações das produções para alimentar seu canal do Instagram em tempos de isolamento social: "É importante assimilar a produção de conteúdo e o cosplay, quando você faz cosplay para um evento, nem posta foto, quer aparecer de surpresa. Com a pandemia não tem evento e ninguém é rico para comprar um cosplay diferente toda semana para gerar conteúdo em rede social".
Pensando em formas de contornar a situação, Samanta passou a investir no que chama de "costeste", modalidade em que a cosplayer não se fantasia por completo, mas usa alguns adereços e maquiagem para 'testar' o personagem: "É a improvisação, o cosplay de armário", explica. "Eu acho sensacional, acho que todo cosplayer, iniciante ou não, precisa experimentar, descobrir se gosta ou não, se combina com o personagem".
Samanta conta que seus seguidores se divertem com os costestes, mas que ela deixa bem claro não ser um cosplay completo. "Tem gente que se sente mal ao ver alguém fazer isso e dizer que é cosplay, sendo que aquela pessoa teve todo cuidado e trabalho paraa fazer algo mais elaborado".
A cosplayer já trabalhava com divulgação de marcas, de produtos de moda, lojas e cursos nas redes sociais, mesmo antes da pandemia, mas sente que mesmo para quem gera muito conteúdo, a renda com publicidade vem diminuindo. Segundo ela, as marcas querem trabalhar muito com troca de produtos.
Tem mais pessoas fazendo cosplay?
Para Samanta, sempre teve gente interessada em cosplay e que não tinha experimentado. A cosplayer acredita que a popularização do Tiktok ajudou a normalizar que as pessoas fazem maquiagens diferentes, se vestem de formas diferentes. "Isso aumenta os costestes e o cosplay. As pessoas fazem mais coisas em casa, sozinho ou em grupo, numa call com amigos".
A cosmaker Ivigna Sales, 24, de Fortaleza (CE), tem uma percepção parecida: "Cosplay virou um meio de fugir, de escapar para não pirar com a loucura que estão sendo esses tempos".
Ivigna que trabalha com cosplay e cosmake há 9 anos, conta que seu trabalho aumentou muito no último ano, mesmo sem a realização de eventos, por ter adotado uma mudança de estratégia em seu negócio.
"Eu fazia para cosplay que vai para eventos, tem muitos cosmakers, entao a concorrencia era grande. Eu preferi aumentar meu leque de possibilidades, eu faço decoração geek para casas, isso aumentou muito a minha renda. Eu vendo mais decoração para casa do que itens para cosplay atualmente".
A cosmaker acredita que o tempo que as pessoas passaram dentro de casa no último ano influenciou nessa procura por itens de decoração. "Eu nao ligava pro que tem dentro de casa, antes da pandemia. Só que quando passei a ficar mais tempo aqui dentro, comecei a pensar no que colocar na parede, no que vai ficar mais bonito, aparecer em vídeo".
Com a expansão do negócio para o segmento de decoração geek, Ivigna e sua mãe, que é costureira, tem conseguido manter a família, pagando as contas da casa com o dinheiro das vendas.
Plajenando a volta aos eventos
Quando questionada sobre como será depois que a vida voltar ao normal, a cosplayer Ana Luiza não tem dúvidas: "Pretendo dar uma largada nisso aqui", fala, se referindo à criação de conteúdo digital. "Quero seguir com apresentações e buscar eventos diferentes".
Ivigna deve continuar com a produção de artigos para decoração, mas não vê a hora de voltar a frequentar eventos de cultura pop, como o Sana, em Fortaleza. "Sinto muita falta", conta a cosmaker. "Muitos cosplayers artesãos perderam isso, que é terminar de fazer o cosplay para usar, muita gente faz para tirar foto em casa, mas é sozinho. Eu sinto muita falta de encontrar e abraçar as pessoas, ver elas juntas".
Samanta já planeja quais cosplays vai fazer nos grandes eventos de cultura pop, quando eles voltarem a acontecer, como a Irélia Lâminas Divinas de League of Legends. "Ela tem 6 ou 9 espadas num suporte nos ombros. Estamos terminando as espadas, tenho que fazer a peruca, é um cosplay maior, para vento mesmo, difícil de usar para gerar conteúdo dentro de casa", explica.
Ela também está se preparando para fazer um crossplay em um evento público. "É algo que eu experimentei na pandemia e acabei gostando, fiz vários". Samanta explica que o crossplay é quando ela, mulher Cis, personifica um personagem do gênero masculino, sem transformá-lo em uma versão feminina.
"Estou fazendo uma vaquinha com meus seguidores para comprar um busto masculino e fazer o Inosuke, de Demon Slayer. Imagina, a comunidade está me ajudando a fazer crossplay!", conta Samanta, que ficou surpresa com a recepção dos fãs com a nova experiência.