Sabemos desde os primórdios da humanidade que "a arte imita a vida" - já dizia um cara chamado Aristóteles. É por isso mesmo que a arte nos faz refletir, nos emociona e até nos faz questionar determinados pontos da vida. 'It Takes Two' é uma obra de arte em todos os sentidos: do visual à jogabilidade. Mas deixando toda a minha crítica técnica de lado, hoje falo a vocês sobre os aspectos terapêuticos do jogo desenvolvido pela Hazelight Studios e publicado pela EA.
Antes de tudo, preciso explicar que a repórter que vos escreve pouco gosta de se colocar como personagem da história. Mas alguns momentos se tornam íntimos demais para separar o fato do interlocutor. Momentos esses que vivi durante o gameplay de 'It Takes Two' com a participação do meu namorado, o Zé.
Desde os primeiros momentos do jogo, sentimos uma grande identificação com a história. Quem nunca viu um relacionamento de alguém próximo, seja o dos pais ou de amigos, estar perto de acabar. Todo o enredo se torna ainda mais indigesto ao ver o sofrimento da filha do casal, Rose, pela iminente separação dos pais.
Com pouquíssimo tempo de gameplay, eu e Zé já queríamos salvar o relacionamento de Cody e May a qualquer custo. Veja bem, acompanhamos muitos conhecidos se separando durante a quarentena - afinal, boa parte dos casais foi desafiada a passar 24h por dia trancafiada em casa. E conto para vocês que a convivência muitas vezes não é fácil.
Faço uma pausa para contextualizar. Eu e Zé decidimos morar juntos depois de apenas cinco meses de namoro e, em menos de um ano sob o mesmo teto, veio a maior pandemia do século. Home office, casa para limpar, pets para cuidar, contas para pagar... E por vezes esquecemos que relacionamentos são feitos de cooperação e tentamos lidar com os problemas sozinhos.
Neste cenário, interpretar Cody e May, em 'It Takes Two', se tornou uma terapia. Muitas das questões de convivência estão em pauta: as horas e horas de trabalho, a falta de descanso, os problemas da casa e os hobbies deixados de lado. Nos enxergamos naqueles dois personagens.
Na trajetória do casal, Dr. Hakim, o livro do amor, tenta consertar a relação fazendo com que eles usem a cooperação para solucionar os puzzles. Detalhe: por alguns momentos a gente esquece disso no começo do jogo, tenta resolver sozinho e morre.
Quanto mais o tempo vai passando, mais simples é perceber a importância do papel do outro e entender que, assim como na vida, um jogo Co-op torna missões mais fáceis de serem superadas. E apesar de se tratar de uma relação amorosa, o roteiro deixa bem claro que o principal objetivo do jogo é retomar a amizade entre Cody e May. Sem amizade não há relação que dure, não é mesmo?
Por isso, se a arte imita a vida, a vida imita a arte em 'It Takes Two'. Seja para os casais ou para os amigos, tudo fica mais fácil com ajuda. Eu e Zé zeramos e pretendemos fazer isso mais vezes. Que bela terapia arrumamos para nossa quarentena.