Já se foi o tempo em que videogame era uma brincadeira apenas para as crianças: quem começou a jogar nas décadas de 1980 e 1990 continua jogando depois de adulto, e em um país em que mais da metade dos gamers são mulheres, começa a surgir um novo tipo de jogador: as mães gamers.
É o caso de Janaína Karam, funcionária pública de 42 anos, que começou a jogar ainda pequena e compartilha a paixão pelos jogos com o filho Marlon, de 20 anos. “Meu pai me apresentou os games, e meu filho pegou essa paixão comigo e o avô”.
Janaína é fã de jogos de ação e aventura como Uncharted, The Last of Us e Resident Evil. O filho gosta mais de jogos de tiro como Counter-Strike, Call of Duty e Fortnite. “Ele joga mais no PC, eu prefiro o PlayStation. Mas com o crossplay, sempre jogamos um ‘Codzinho’ juntos”, explica, se referindo à opção que permite jogar partidas online independente da plataforma.
A engenheira química Márcia Berimbau, de 55 anos, pegou gosto pelos games com o irmão mais novo, Mauro, na época do Atari, mas se encantou mesmo com os consoles portáteis muitos anos depois. “Tive um PSP, joguei muito Ratchet & Clank, fiz tudo no jogo, adorava jogar Patapon também”.
Hoje Márcia tem três filhos: Gabriel, de 9 anos, e as gêmeas Rafaela e Karina, que vão fazer 8 anos. “Voltei a jogar por causa das crianças. Começamos a jogar no Xbox 360 com o Gabriel e mais recentemente, com um PS4 e os óculos de realidade virtual, o PSVR”.
Com três filhos para compartilhar a diversão, Márcia adotou um esquema de “passar o controle”, ou no caso, os óculos. “Cada um joga uma fase, daí vai passando os óculos para o outro. A mãe sempre fica por último, é claro”.
Márcia também joga bastante no celular, mas não se considera gamer, por achar que esse termo se refere mais a uma pessoa que joga muito e conhece de tudo, enquanto ela está mais acompanhando a diversão.
Ambas afirmam que jogar videogame ajuda na comunicação com os filhos. Para Janaína, os games são uma linguagem que ela e Marlon entendem. Márcia acredita que por jogar com os pequenos, está mais próxima do mundo deles. “Se você pensar em quanto tempo eles ficam jogando, se você não conhece, não participa, você está alheio. Eles estão lá brincando e você está fora. Se você conhece e está brincando junto, isso aproxima”.
Mas você deixaria seu filho jogar GTA ou outro jogo violento?
Janaína lembra que quando o filho era mais novo e queria jogar GTA, ela não proibiu. “Muitas vezes ele me via jogando com meus amigos, hoje sou eu que jogo com ele e os amigos dele”, comenta. “Sempre acho muito maluco a mãe brigar porque o filho está jogando um jogo violento. Eu participo, sempre estive do lado, mas nunca fui muito preocupada, porque estou vendo com quem ele está conversando”.
Para Márcia, o diálogo é o mais importante: “A gente conversa muito sobre isso, explico que tem uma idade ali no jogo, que são mais apropriados para a idade deles, que entenderam esse lado. A proximidade ajuda nisso, é alguém como eles, que leva susto junto, que brinca junto. A gente vai testando e vendo o que a família gosta mais”.
Márcia não sabe se essa dinâmica vai mudar quando as crianças crescerem, mas acredita bastante no diálogo. “Funciona bem melhor do que proibir, falar que não pode sem explicar o motivo”.
“Não é porque a pessoa está jogando um game violento que ela vai sair matando”, reforça Janaína. “As mães deveriam ficar mais perto, perguntar o que o filho está jogando, o que está acontecendo no jogo. Tentar entrar no mundo dos games para poder ter um diálogo maior com os filhos. Tecnologia é assim, tem que abrir mais a mente”.
Diversão em casa durante a pandemia
Márcia diz que nos últimos meses, ela e sua família passaram a jogar mais. “Antes a gente saia no fim de semana, não ficava em casa. Ia visitar a família ou passear em algum lugar, agora precisa ficar em casa e os jogos ajudam bastante nesse sentido”.
Para ela, o videogame é uma diversão segura nesse período. “É mais uma atividade para fazer em casa e quebrar a monotonia, se divertir sem se expor ao risco. E se enjoar, sempre pode procurar outro jogo”.
A rotina de jogos de Janaína e do filho envolve algumas partidas de Call of Duty depois do expediente. “Hoje jogamos muito mais. Moramos juntos e os dois estamos de home office por causa da pandemia. Acabou o horário de trabalho, a gente senta pra jogar. A não ser nos finais de semana, temos uma chácara e vamos para lá passar o fim de semana... Mas como lá tem internet, às vezes levamos o PC e o videogame pra lá também!”.