Mais uma vez, os Beatles mostraram o futuro

A maior banda do mundo continua aqui, ali, em todo lugar

8 nov 2023 - 07h00
Mais uma vez, os Beatles mostraram o futuro
Mais uma vez, os Beatles mostraram o futuro
Foto: Reprodução / Harmonix

O que os videogames têm a ver com os Beatles?

A resposta está em algo como "Now and Then". Trata-se da primeira canção original da banda britânica lançada em quase três décadas. O que por sua vez é um feito incrível, já que o maior nome da música em todos os tempos não existe oficialmente há mais de cinco décadas.

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Esse é o tipo de história que deveria fascinar não só a apreciadores de música, mas a todos que se interessam por novas tecnologias (o que acredito que seja o teu caso). Durante anos, uma canção de John Lennon, gravada de forma caseira em 1977, ficou largada na gaveta de Paul McCartney. A gravação era difícil de ser aproveitada, pois ruídos externos prejudicavam a qualidade sonora. Os Beatles tentaram por um tempo, mas desistiram.

Recentemente, a inteligência artificial entrou na jogada. A equipe da empresa de efeitos especiais Wētā FX, de Peter Jackson, conseguiu isolar e reconstituir os sons da fita cassete original, permitindo que os integrantes sobreviventes se empenhassem em estúdio. A demo tosca de Lennon virou "Now and Then" nas mãos de Paul e do produtor Giles Martin, com participação da bateria de Ringo Starr e da guitarra gravada por George Harrison em 1995.

O resultado é o mais próximo que o mundo tem de uma criação nova dos Beatles – e que talvez seja a última. Isso deveria explicar tamanha comoção, e eu compartilho dela. É claro que a tecnologia sempre conduziu a evolução da música, mas é de se convir que as condições que temos hoje não eram nem imaginadas na época em que os Beatles estavam em atividade. A gente tende a esquecer das dificuldades passadas quando aproveitamos as facilidades atuais.

Penso nisso enquanto escrevo este texto em um sistema computadorizado de publicação online e me inspiro escutando a nova faixa por um sistema de streaming, com a mínima dificuldade de apertar alguns botões. É tudo muito louco se você pensar sobre o estado das coisas, em como era e como está (e imaginar como será). O futuro foi hoje, e é amanhã. E será ontem também.

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Os Beatles superaram os limites do tempo e do espaço com "Now and Then". Por quatro minutos, é como se nunca tivessem deixado de existir, em vozes (John soa como se gravado ontem), sons (o piano de John foi regravado por Paul), estilos (Paul imita o estilo de George com uma guitarra slide) e até na batida característica de Ringo (que teve de ser convencido a participar, mas topou).

Em seguida, ouço "Love Me Do", primeiro single lançado pelos Beatles em 1962, que está no lado B de "Now and Then", e penso em evolução. Mais de sessenta anos separam as duas gravações, ainda que ambas tenham recebido “banhos de loja” de acordo com suas necessidades. Agora podemos ouvir as duas faixas na sequência, reunidas especialmente para evidenciar esse ciclo completo. Não foi premeditado, mas é quase como se fosse.

Respondendo (e invertendo) a questão lá de cima: o que os Beatles têm a ver com os videogames? Bem, tudo. Vale lembrar que foi uma das primeiras bandas a abrir o coração e as músicas para o mundo experimentá-las em um jogo doméstico. Lançado em 2009, The Beatles: Rock Band é um marco, tão sincero quanto bem planejado, o que é exatamente o caso de "Now and Then". Desde sempre os Beatles só se metem no que querem, utilizando os recursos mais modernos a seu favor. Às vezes beiram os limites do bom gosto, mas normalmente acertam em cheio e viram exemplos a serem seguidos. A ousadia saborosa de The Beatles: Rock Band faz falta aos videogames de hoje.

Sempre pensando à frente, os quatro rapazes de Liverpool nunca duvidaram do potencial da eletrônica para ousar em suas ideias, por mais que isso significasse mudar a cada ano (e incrementando o que havia sido feito). Se sempre soaram modernos, muito também foi porque duraram pouco. Pioneiros, marcaram tudo o que veio depois e continuam fazendo a diferença hoje. Jamais vão desaparecer.

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Inspirados pelos Beatles, os videogames são disruptivos, incomodam e nem sempre são compreendidos, mas são essenciais para entendermos o mundo em que vivemos – e imaginarmos um melhor. Felizmente, o tempo é generoso com as boas ideias. Da mesma forma que a maior banda de todos os tempos continua a ser relevante por gerações, os jogos vão seguir desbravando, ditando e quebrando as regras.

E assim, seguimos sonhando.

*O texto acima faz parte da edição mais recente da newsletter semanal Extra Level, assinada por Pablo Miyazawa. Para assinar gratuitamente e não perder os assuntos mais importantes do mundo dos games e da cultura pop, clique aqui.

Fonte: Game On
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