Quem assistiu à cerimônia do The Game Awards certamente ficou bastante incomodado.
A ideia era presenciar na noite (até altas horas da madrugada) da última quinta-feira (7) uma celebração de gala em homenagem aos grandes videogames de 2023. Talvez fosse essa a intenção dos organizadores ao elaborar o roteiro do show ao vivo com mais de três horas de duração. A proposta devia ser a divulgação dos vencedores em três dezenas de categorias, com entregas de troféus a alguns dos criadores. Em meio a tudo isso, aparições de celebridades e revelações sobre títulos futuros. Até aí, tudo certo.
Mas não foi bem isso que vimos. Uma análise informal apontou que pouco mais de 30 minutos (ou 15 por cento do tempo da cerimônia) foram reservados para celebrar os ganhadores de fato. Todo o restante (cerca de duas horas e meia) foi destinado aos vídeo-teasers de games inéditos, além de apresentações musicais de gosto duvidoso e monólogos de artistas com nada a ver com os jogos vitoriosos.
Se o nome do evento é "The Game Awards", por que oferecer tão pouco tempo para os prêmios? Qual é o propósito de cortar o barato de um vencedor em seu raríssimo momento de consagração pública? Relatos dos presentes apontam que os premiados sabiam previamente que teriam meros 30 segundos para falar ao microfone. O constrangimento era perceptível para o público, no local e em casa: a cada entrega de troféu, o prazo curtíssimo era evocado de forma inconveniente, com uma música em alto volume e um aviso rude no teleprompter, "please wrap it up" (por favor, finalize).
Não foi divertido ver profissionais veteranos como Swen Vincke (diretor de Baldur's Gate 3), Sam Lake (diretor de Alan Wake 2) e Neil Druckmann (criador da série The Last of Us) sendo quase enxotados do palco ainda com tanto a dizer. Sem contar que categorias importantes nem tiveram direito a agradecimentos formais, como foi o caso de "Melhor Game Indie", vencido por Sea of Stars.
Enquanto isso, houve tempo sobrando para trailers e muito conteúdo audiovisual (e discursos vagos) sobre jogos previstos para 2025 e além, sobre os quais mal captamos o nome ou compreendemos do que se tratam. Não me entenda mal, eu adoro novidades. Mas é para isso que existem eventos como Summer Game Festival, Gamescom e E3 (agora, extinta de uma vez por todas). É querer demais que o TGA seja somente a celebração dos games que estamos jogando agora, e não daqui dois anos?
No fim das contas, é o capitalismo, estúpido. A gente imagina que as empresas paguem bem caro pelo direito de divulgar seus materiais durante a cerimônia, e é natural que tal espaço seja tão valorizado. E ainda que a gente não desejasse que fosse, o dinheiro continua sendo a força motriz do negócio dos videogames. Mas se o equilíbrio é uma virtude, o bom senso parece ter passado longe do Peacock Theater esse ano.
Em premiações desse porte, costuma-se apontar merecedores e injustiçados. No caso do The Game Awards 2023, as vitórias de Baldur's Gate 3 e Alan Wake 2 nas categorias principais foram merecidas e inquestionáveis. Chega a ser uma ironia cruel que as injustiças da vez tenham ocorrido justamente com os próprios vencedores, que não foram valorizados e respeitados como a pomposa ocasião pedia.
Fica aqui o meu desejo de um futuro para o The Game Awards com menos games... e mais prêmios. Só para variar um pouco.
*O texto acima faz parte da edição mais recente da newsletter semanal Extra Level, assinada por Pablo Miyazawa. Para assinar gratuitamente e não perder os assuntos mais importantes do mundo dos games e da cultura pop, clique aqui.