Dead Island 2 teve um longo ciclo de desenvolvimento, tão conturbado que seu lançamento já tinha virado quase uma lenda urbana entre os fãs dos games, mas finalmente está pronto e prestes a chegar ao PC e aos consoles PlayStation e Xbox. O Game On já jogou e falo com propriedade: é o jogo de zumbis mais divertido do ano.
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O game é uma sequência distante do Dead Island original, apropriadamente ambientado uma década depois dos mortos-vivos devastarem a paradisíaca ilha de Banoi. Ninguém fora da ilha soube do que aconteceu, já que uma infestação zumbi é o tipo de coisa que governos e forças de segurança abafam para não assustar a população.
Mas a coisa muda de figura quando o surto de mortos-vivos acontece em plena Los Angeles, uma das mais famosas cidades dos EUA. Cercada por militares, a população tenta escapar de qualquer jeito e um terremoto acaba por isolar a cidade em meio ao caos - justificando o novo cenário não ser exatamente uma ilha, apesar do nome do jogo.
Caçar zumbis é muito bom
Entre os sobreviventes do surto zumbi - e de um acidente aéreo, na empolgante cena de abertura - estão os seis possíveis personagens dos jogadores. Dá para jogar Dead Island 2 sozinho ou em modo cooperativo online com mais dois amigos, inclusive com os mesmos personagens. Cada um dos 'Slayers', ou Caça-zumbis, como são chamados na localização brasileira, tem uma breve motivação pessoal e bastante personalidade, que se reflete na aparência e falas em algumas situações. Eles também têm atributos físicos diferentes, que impactam um pouco o estilo de jogo.
São personagens mais atuais e diversificados do que o quarteto do Dead Island original, mas o que faz deles realmente diferentes é o sistema de habilidades, que usa cartas adquiridas conforme o personagem sobe de nível e cumpre desafios específicos. Algumas cartas são exclusivas para um ou dois Slayers, mas a maior parte está disponível para todos. Dá para desbloquear mais espaços para equipar cartas e aos poucos, ir montando sua 'build' ideal, adequada para o estilo do jogador.
As mecânicas básicas de jogo seguem a receita que fez a fama da franquia: ação em primeira pessoa com foco no combate corpo a corpo, usando o que encontrar pela frente, de pedaços de madeira e ferramentas pesadas até tacos de golfe, cutelos, sabres e assim por diante. É possível aprimorar essas armas, instalando melhorias que causam dano elétrico, flamejante e corrosivo, fabricar facas explosivas e também equipar itens de arremesso como bombas de atordoamento ou estrelas ninja - esses itens se 'regeneram' com o tempo, o que incentiva o jogador a usar mais esses equipamentos, sem medo de ficar sem quando surgir um inimigo mais robusto um pouco adiante.
O jogo tem todo um sistema de desmembramento e os zumbis são feitos em camadas, que são impactadas pelos diferentes tipos de dano, o que é muito satisfatório de se ver. Há um sistema de bloqueio que quando executado no momento exato, dá abertura para contra-ataques devastadores (e diferentes para cada tipo de arma). Voadoras e pisões complementam o arsenal, além de, eventualmente, armas de fogo. É até engraçado pensar que as armas de fogo só começam a aparecer lá pela metade da campanha - em plena América! - mas ao menos são bem mais eficientes do que as do jogo original.
Há muita interação com o cenário, em geral com a intenção de causar dano em vários inimigos ao mesmo tempo, como ao abrir uma mangueira para criar uma poça d'água em fios de energia, ou para escapar do dano, apagando um incêndio com um galão de água providencial. Chutar mortos-vivos em uma piscina cheia de ácido também é mais satisfatório do que se poderia imaginar.
Mortos-vivos de todos os tipos
Um elemento notável no jogo é a variedade de zumbis que cruza o caminho dos Slayers. Há corpos em diferentes estados de decomposição, desde aqueles que quase parecem humanos (até saltarem na sua garganta) e outros mais acabados. Alguns são mais magros, outros mais gordos ou musculosos e mesmo entre os zumbis da mesma categoria (rastejantes, caminhantes e assim por diante), eles vestem trajes diferentes e têm aparências distintas. Dá para imaginar o que faziam quando foram infectados.
Também há zumbis especiais, mutantes resistentes com ataques poderosos vindos dos Dead Island anteriores, e outros inéditos. Um dos mais assustadores tem uma colmeia de abelhas instalada no lugar das entranhas. Também há militares mortos, que vagam com um colete cheio de granadas prontas para explodir.
Outra boa surpresa de Dead Island 2 são as batalhas de chefe. Além de introduzir novas aberrações - que depois surgem em variações mais regulares - são momentos quase cinematográficos, com trilha sonora própria e toda uma estratégia para se descobrir, ainda que na base da tentativa e erro. Uma noiva cadáver fisiculturista precisa ser abatida enquanto uma balada dos anos 50 toca no salão de festas. Um zumbi inchado vomita ácido em um set de filmagem, com os alto-falantes tocando um rock pesado e o jogador operando efeitos especiais e uma aranha gigante. Ou luta contra hordas num terraço para ajudar uma Tiktoker a gravar o vídeo da sua vida. São batalhas eletrizantes e que acontecem com uma boa frequência, ótimas para quebrar a rotina.
Cidade dos Mortos
Los Angeles (ou HELL-A) não é um mundo aberto. A cidade é dividida em 10 distritos, dentro dos quais o jogador cumpre missões e explora livremente. Leva um bom tempo para ganhar acesso a todos, pois é preciso progredir na campanha principal para isso. A maior parte das fases inclui locações famosas como Beverly Hills, Bel-Air ou Venice Beach, mas também há passagens criativas como um estúdio de cinema e uma nojenta fase nos esgotos de L.A., abarrotados de mortos-vivos.
Aliás, um ponto que pode desapontar os fãs dos jogos antigos: enquanto as armas de fogo aparecem relativamente cedo, os carros não. Talvez por causa do terremoto ou da confusão de veículos abandonados travando as ruas e as saídas trancadas pelo exército, o fato é que só dá para andar a pé. Uma pena, já que atropelar zumbis era particularmente divertido. A ausência dos carros também ajuda a disfarçar o tamanho dos mapas - que são menores do que os do Dead Island original, mas mais densos em atividades e população.
Visualmente, a cidade é linda de se ver, com cada distrito reproduzindo a arquitetura e a atmosfera local. Os gráficos nunca foram o forte de Dead Island (embora a versão remasterizada do original mostre a exuberância de Banoi), mas em Dead Island 2 a história é outra. É um jogo bonito de se ver, ainda que sangrento. Tanto o cenário quanto os NPCs e os zumbis são muito bem feitos - e há poucos bugs, acredite.
O que faltou?
Na verdade, é tudo tão bem feito que a falta de vida própria nos personagens secundários acaba incomodando mais do que antigamente. Quando suas missões são cumpridas, eles ficam em suas casas/esconderijos, esperando pela próxima interação com o jogador. Tudo em Dead Island 2 depende dos Caça-Zumbis, com algumas raras exceções, que não vou detalhar para não dar spoilers da trama. Saiba apenas que os Slayers não são os únicos imunes - e que essa imunidade é um tema central na campanha.
A localização brasileira ficou restrita aos menus e legendas, sem a opção de uma boa dublagem nacional. Não vai ser problema para muitos jogadores, mesmo com alguns termos mal traduzidos (reciclável virou reciclar, por exemplo), mas é uma pena que um jogo deste calibre, em 2023, não esteja dublado em português. Da mesma forma, faz falta o suporte ao crossplay. O recurso que permite jogar com amigos em qualquer plataforma já deveria ser a norma em jogos multiplayer online.
Considerações
Dead Island 2 preserva boa parte da essência do jogo original, lançado mais de uma década atrás, mas deixa no passado os elementos mais chatos e repetitivos, enquanto evolui as mecânicas de RPG para entregar um excelente game de aventura cooperativa no apocalipse zumbi mais divertido do ano.
Dead Island 2 chega em 21 de abril para PC, PS4, PS5, Xbox One e Xbox Series X/S.
*Esta análise foi feita no Xbox Series X, com uma cópia do jogo gentilmente cedida pela Deep Silver.