Cartuchos são o novo vinil? Como devs indie revivem o Mega Drive

Console clássico da Sega virou moda entre produtores de games independentes

15 mai 2023 - 09h14
Financiado pela comunidade, Xeno Crisis teve até capas variantes para cada região do Mega Drive
Financiado pela comunidade, Xeno Crisis teve até capas variantes para cada região do Mega Drive
Foto: Xeno Crisis / Divulgação

Com a ascensão dos jogos digitais, nunca houveram tantos desenvolvedores independentes, mas assim como na música há quem prefira o vinil, entre os fãs dos games, muita gente ainda prefere jogar - e fazer - seus jogos em mídias mais tradicionais.

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É dentro desse cenário nostálgico que se encaixam os desenvolvedores que apostam não só em uma estética ou mecânicas retrô para suas criações, mas também no formato, lançando jogos em CD ou cartucho em pleno 2023. O Mega Drive, console 16-bit da Sega, é um dos favoritos dessa turma e vive uma espécie de 'renascimento' entre os produtores independentes.

O primeiro motivo é a facildade de se desenvolver para o Mega: uma versão do kit de desenvolvimento do console foi lançada online alguns anos atrás pelo francês Stéphane Dallongeville e rapidamente caiu no gosto dos devs. 

Chamado SGDK (Sega Genesis Development Kit), o software é gratuito, aberto e está em constante atualização. O SGDK já inclui uma biblioteca de desenvolvimento e funções prontas, mas é bom ter uma boa base em C, a linguagem de programação usada nos jogos do Mega Drive. Com o kit digital, qualquer desenvolvedor pode trabalhar em seu jogo como se tivesse as ferramentas que, antigamente, ficavam limitadas aos estúdios licenciados pela Sega.

"Eu descobri a emulação quando estava no ensino médio, com o Nesticle (um emulador de NES) e fiquei maravilhado", contou Dallongeville ao blog da Tectoy em 2017. "Fiquei muito intrigado com isso e depois de algumas pesquisas, decidi começar a escrever meu próprio emulador, para meu sistema favorito, o Mega Drive".

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Pier Solar é um incrível RPG indie feito para Mega Drive
Foto: 8bitPlus / Reprodução

Foi a partir desse emulador, o Gens, que Dallongeville se aproximou da comunidade de fãs e também passou a entender melhor a arquitetura dos jogos do 16-bit da Sega. Foi em 2003 que ele começou a desenvolver um software para desenvolvedores e, eventualmente chegou ao SGDK, uma linha de ferramentas completa para o Mega Drive.

Disponível de graça no github e com o código aberto para outros desenvolvedores acrescentarem suas contribuições à plataforma, o SGDK atraiu produtores em todos os cantos do mundo, interessados em criar seus próprios jogos para o console da Sega.

Em 2017, Dallongeville já antecipava que os jogos indie retro teriam um espaço crescente na comunidade: "Eu acho que os sistemas clássicos e retrogaming em geral ganham mais interesse ultimamente, mesmo que permaneça um mercado (muito) menor do que o jogo moderno, mas num futuro próximo, veremos mais e mais novos games nos sistemas retrô, não só produções caseiras, mas jogos desenvolvidos pelas empresas à medida que o mercado aumenta", disse o pai do SDGK.

Dallongeville está sempre divulgando novas criações feitas na plataforma em seu perfil do Twitter:

Sucesso com a comunidade

A base de fãs de jogos retrô e, em particular, do Mega Drive, apoiou a iniciativa, aderindo em peso aos financiamentos coletivos de jogos como Metal Dragon, The Cursed Knight, Demons of Asterborg, Xeno Crisis e vários outros que ganharam não só versões em cartucho, com caixinha e manual, como até edições de colecionador.

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Alguns desses jogos chegaram também às plataformas atuais, com distribuição digital via Steam no PC e também nos consoles. Xeno Crisis passou uma temporada no Xbox Game Pass. Outros se estabeleceram no Nintendo Switch, que com sua telinha, parece mais do que apropriado para games em que cada pixel importa e deve ser apreciado.

Mas as versões para Mega, rodando em cartuchos, são as mais cobiçadas, mesmo com limitações técnicas quando comparadas aos outros jogos, pela fidelidade da experiência proporcionada pelo hardware, de certa forma, bem similar ao que os apreciadores de música sentem ao ouvir um disco de vinil.

O Brasil, um dos países em que o 16-bit da Sega fez mais sucesso, também conta com uma produção crescente de jogos em cartucho para o console. Pier Solar, o primeiro grande jogo indie feito para Mega Drive, já tinha um brasileiro entre os líderes do projeto.

Mais recente, Irmãos Aratu ,do produtor Nemezes Games, é um ótimo exemplo de indie para Mega, um game de pancadaria inspirado nas músicas do grupo Chico Science e Nação Zumbi. O jogo foi lançado em 2022, com uma caixinha e cartucho que replica perfeitamente as dos jogos de Mega Drive dos anos 1990.

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Ou quase. Como os jogos não são licenciados oficialmente, não podem usar a marca da Sega, nem na embalagem, no cartucho ou no software. Não, a nova geração de jogos de Mega Drive não tem aquele saudoso sonzinho de "Seee-ga" antes da partida começar.

Erico Fritzen, da Retro X Eletronics, produz e distribui jogos de estúdios brasileiros em cartuchos de Mega Drive. "Eu comecei fazendo mídias de backup para os amigos, ressucitar uma mídia morta para o pessoal", contou o empresário ao Game On. "Conheci desenvolvedores independentes que me convidaram para ser publicador dos jogos deles".

A Retro X Eletronics lançou quatro jogos brasileiros em um cartucho chamado Balaio de Jogos. "Foi nosso primeiro cartucho. Entre mídias produzidas e vendidas, no mínimo, foram 50 peças. É um mercado de nicho", explicou Fritzen. "Quem quer um Mega Drive, tem que correr atrás". Conheça o trabalho da Retro X Eletronics no vídeo abaixo:

Conheça o brasileiro que faz jogos de Mega Drive em 2022
Video Player

A renascença do Mega Drive tem despertado a atenção de gente grande na indústria, como o produtor e compositor Yuzo Koshiro, uma verdadeira lenda da indústria e responsável por clássicos emblemáticos do console, como The Revenge of Shinobi, a trilogia Streets of Rage e Beyond Oasis.

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Em novembro de 2022, Koshiro anunciou que está trabalhando em um novo game. Para qual plataforma? Mega Drive, é claro! Trata-se de um jogo do gênero shoot'em up, ou, como se chama por aqui, um jogo de nave. Veja as primeiras imagens divulgadas pelo produtor:

“Parece um jogo de navinha antigo, mas é um novo jogo que estamos desenvolvendo, que remonta a franquias famosas dos anos 80”, disse Koshiro. “Vamos lançá-lo para Mega Drive/Genesis. Estou fazendo a trilha sonora e também voltei como designer de jogos desde Beyond Oasis”.

Koshiro confirmou que o jogo está sendo feito para o hardware nativo do Mega Drive, então a música será composta de forma autêntica para o console, da mesma forma que ocorrerá com os gráficos e a jogabilidade.

A trilha sonora e os efeitos sonoros definitivamente rodarão com um driver YM2608 nativo”, explicou o compositor. “É a primeira vez em 30 anos que trabalho no Mega Drive/Genesis desde que fiz todas as músicas para o Beyond Oasis. Claro, não há streaming de áudio de CD”.

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O game, ainda sem título, está "cerca de 5% pronto", explicou o produtor no começo do ano, e ainda não tem data para sair, mas os fãs do Mega Drive aguardam ansiosos para experimentar uma nova produção de Yuzo Koshiro para o console que marcou época nos anos 1990.

Fonte: Game On
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