Se você é fã de jogos de estratégia e andou dando uma olhada no catálogo das lojas de games pela internet afora, deve ter tropeçado em um termo um pouco diferente, menos conhecido por aqui na América do Sul, e se perguntado: o que são jogos 4X? Com uma maior popularidade e ganhando cada vez mais títulos, essa modalidade de gerenciamento e estratégia tem seu próprio universo e fãs muito aficionados. Vamos conhecer mais desse gênero?
O(s) X(s) da questão
A grosso modo, o termo “4X” autoexplicativamente se refere a uma categoria de jogos que traz quatro elementos principais com a letra “X”. São eles:
- Exploração -- Ou seja, descobrir partes do mapa;
- Expansão -- Tomar territórios, seja por conquista ou influência;
- Extração -- Coleta de recursos;
- Extermínio -- Eliminação de adversários, principalmente por via militar.
É claro que não são apenas esses elementos que definem o tipo de jogo, já que outros títulos podem trazê-los também. Esse é o ponto, aliás, em que alguns jogadores devem estar se perguntando: “Ué, mas RTSs (Real-Time Strategy, estratégia em tempo real) como Age of Empires e Starcraft não fazem parte dessa categoria?” Então… não. As diferenças entre esse gênero e o 4X, inclusive, são muito úteis para nos ajudar a entender o que é esse último, então vamos partir dessa comparação.
Para começar, a escala dos games 4X é o ponto mais destacado. Geralmente começando com uma cidade ou base tímida, um jogo da categoria vai se expandindo cada vez mais, ao ponto que não apenas controlamos uma nação, mas sim um império, e começamos a incorporar outros impérios tão grandes quanto ao território por nós controlado. Em games de estratégia em tempo real, geralmente controlamos algumas cidades em mapas bem menores em escala.
O gerenciamento do território também é parte importante dessa diferenciação. Em jogos 4X, há muitas, muitas atividades MESMO a serem realizadas. Não só é preciso gerenciar a construção de edifícios e unidades e coleta de recursos, ponto também compartilhado com os RTS, mas também decidir no que investir esses elementos, já que a infraestrutura de manter construções ou exércitos tem custos recorrentes, exigindo microgerenciamento e decisões muito bem pensadas, que são mais livres na estratégia em tempo real.
Falando em decisões, elas são tantas que a maior parte dos jogos do gênero prefere manter a jogabilidade por turnos, onde você pode escolher todas as ações que deseja realizar ao longo de todo seu império, gerenciar suas cidades, controlar unidades e construções e só depois seguir para o próximo turno. Há jogos 4X com elementos em tempo real, como Europa Universalis e Stellaris, e também híbridos, como a série Total War, que mescla gerenciamento em turno com batalhas decididas em sessões RTS, caso o jogador queira.
Elementos como tecnologia também são diferentes: em jogos como Age of Empires, tecnologias geralmente melhoram elementos já presentes no jogo, poucas vezes liberando novas opções, e passar de uma era para a outra gera diferenças significativas no jogo: em games 4X, as tecnologias geralmente ditam o progresso do jogo, mudando drasticamente o gameplay, enquanto passar de uma era para a outra é apenas um sintoma dos avanços tecnológicos e até culturais, sendo um pouco mais realista nesse sentido.
Por fim, a variedade de modos de interagir com outros jogadores, sejam eles controlados pelo computador (na grande maioria das vezes) ou por outro ser humano, é mais um dos grandes diferenciais dos jogos 4X, principalmente na diplomacia. Enquanto pouco se pode fazer em um RTS fora terraplanar as cidades inimigas com um grande exército, o “x” de “extermínio” do gênero pode ser enganador: nos 4X, há inúmeras opções para a dominação do adversário, incluindo a disseminação de cultura, influência política ou econômica e alianças diplomáticas.
Em alguns games, você pode até ficar tão influente sobre outro império que ele escolherá se juntar a você -- sendo assimilado pacificamente. Não que a dominação militar ainda não seja uma opção, mas ter mais escolhas é sempre bom, né?
E como qualquer explicação fica melhor com exemplos, separamos vários bons jogos para você se aventurar no mundo dos 4X! Bora lá?
Civilization
Bom, porque não começar com o arrasa-quarteirão, o jogo mais famoso da categoria? Mesmo que você nunca tenha ouvido falar em games 4X, com certeza já viu esse nome por aí: Não é à toa que “jogos como Civilization” é uma maneira comum de se explicar o gênero para um leigo. Mais um título do famoso game designer Sid Meier, ele é o definidor de muitos elementos utilizados por outros jogos do gênero, como o uso de turnos, as tecnologias e a grande escala, incluindo continentes, impérios, e, nos últimos jogos, até grandes desastres naturais.
Para vencer uma partida, você pode conquistar cidades inimigas com seu exército, ou chegar ao topo da tecnologia científica, ou impor sua cultura sobre os outros jogadores, ou impor sua religião, ou até conseguir pontos diplomáticos em votações das Nações Unidas para se sagrar o jogador mais bem-sucedido.
Já chegando em sua sexta edição, com um ou outro spin-off por aí, a clássica franquia talvez só desagrade no enorme número de DLCs, que não são lá muito baratas, mas adicionam muitos conteúdos extras. E já fica o aviso: se você nunca sofreu um ataque atômico vindo do Gandhi, você não jogou direito.
Crusader Kings
A Paradox Interactive é uma das distribuidoras mais focadas em jogos 4X, tendo sua própria ala de desenvolvimento, a Paradox Development Studio, e é famosa por diversos títulos da categoria, como Hearts of Iron, Stellaris, Europa Universalis, Victoria, Imperator: Rome e acredite, muito mais. Há uma certa discussão acerca de alguns desses games realmente serem do gênero 4X -- afinal, muitos são em tempo real --, e o próprio estúdio os define como “Grand Strategy”, mas é fato que os 4 “X” estão lá.
Crusader Kings é nossa indicação por já estar na terceira edição, bem recente e disponível no GamePass, aliás, e por trazer mais complexidade que Civilization. Além de gerenciar seu império -- de formas ultra complexas, inclusive, podendo ir até as minúcias das rotas de comércio e manutenção do exército e marinha --, você também deve lidar com tramas de traição e intrigas palacianas em sua própria corte e em cortes alheias.
Se você não está afim de assassinar herdeiros e pretendentes e se casar com sua tia, talvez seja melhor jogar Europa Universalis IV ou Victoria II, mesmo. A complexidade, pelo menos, ainda estará lá -- e a multidão de DLCs também.
Stellaris
Seguindo com a sessão “Paradox” da nossa matéria, o braço galático dos 4X da empresa, Stellaris, aumenta a escala do gerenciamento em todos os sentidos. Assim como em Crusader Kings, você deve escolher sua abordagem na hora da conquista -- militarmente? economicamente? diplomaticamente? -- mas, dessa vez, seus domínios envolvem galáxias e mais galáxias.
Enquanto a pequena escala dos outros títulos, que se reservam apenas ao nosso planeta ou até mesmo só à Europa, torna seus erros praticamente mortais, aqui o tamanho do universo te ajuda a se adaptar rapidamente e receber segundas chances de expansão. A diplomacia ainda está presente, mas com dezenas de raças intergaláticas e eventos de escala absurda acontecendo no universo do jogo, a complexidade só aumenta. O céu NÃO é o limite, caro padawan.
Endless Legend
Já esse game é uma mistura muito curiosa de temas: várias facções acabam naufragando em um planeta desconhecido e começam a lutar pelo poder, juntando fantasia e ficção científica, com 14 raças diferentes para optar e vários modos de vencer, como diplomacia, economia, ciência, expansão, número de pontos e mais, como todo bom jogo 4X.
A grande diferença do título é a vitória por quests, ou missões, onde cada facção cumpre objetivos específicos, revelando elementos de história e ganhando pontos. Chegando ao epílogo, você vence o jogo. É uma maneira bem interessante de amarrar alguma história e objetivo ao jogo, já que na maioria dos games 4X, os objetivos são definidos pelo próprio jogador.
Warhammer 40k: Gladius – Relics of War
E para quem gosta mesmo é de ver o pau quebrando, a franquia super abrangente Warhammer 40k vem para não decepcionar. Gladius -- Relics of War é um 4X sob efeito de esteroides, já que a única maneira de vencer é por meio de guerras. A diplomacia, economia e cultura que vão catar coquinhos.
O jogo base te dá a opção de jogar com quatro facções diferentes, mas muitas mais ficam disponíveis a partir da compra de DLCs, adaptando muito bem, inclusive, o lore do universo de Warhammer 40k. É hora de chover fogo sobre o planeta Gladius Prime, soldado. Para quem curte híbridos, também há a saga Total War: Warhammer.
Humankind
Lançado ainda este ano, Humankind surgiu como uma espécie de rival de Civilization, feito pela Amplitude Studios, mesmo estúdio de Endless Legend e Endless Space. A ideia que dá todo o diferencial ao game é o fato de que você pode escolher uma civilização para jogar a cada diferente era, sendo três escolhas por partida, com suas vantagens e desvantagens -- ao contrário do clássico de Sid Meier, onde você deve jogar com a mesma facção até o final.
Os combates também são diferenciados, acontecendo em turnos diferentes em relação aos acontecimentos mundiais, envolvendo mais estratégia e durando mais tempo, sendo também mais realista no sentido de que é necessário considerar, terreno, construções defensivas e gargalos -- é possível ganhar guerras mesmo estando na desvantagem, de forma um pouco diferente de Civilization.
Ainda é difícil falar desse game sem comparar com seu pai espiritual, mas quem sabe em breve não estaremos falando em “jogos como Humankind” ao se referir ao gênero 4X, ein? Resta saber se ele será tão bem-sucedido como o título que o inspirou.
E aí, que achou da nossa explicação e lista de recomendações? Conseguiu entender bem o que são jogos 4X?
Ficando na dúvida, é só deixar um comentário aí embaixo. Caso contrário, pode voltar a jogar. É só mais um turno… promessa..