Cyberpunk 2077 talvez seja um dos maiores desastres da indústria de games, ou pelo menos o maior desastre dos últimos anos sem fazer muito esforço. Com um lançamento desastroso em 10 de dezembro de 2020, crítica e público não perdoaram a CD Projekt Red em quase 1 ano desde este marco infortuno. Sendo assim, fica a dúvida: vale a pena jogar Cyberpunk 2077 atualmente?
É mais complicado do que parece
Falar de Cyberpunk 2077 não é tão simples. Embora eu pessoalmente tenha uma certa birra com este game, e isso já me leva a reiterar – embora seja óbvio – que esse texto é completamente pessoal e baseado em minha opinião e experiências que tive nas últimas semanas.
Não é fácil falar do maior game que nunca foi realmente lançado em sua plenitude. Cyberpunk 2077 foi anunciado originalmente com um incrível, perfeito e memorável trailer em 2012. Por anos os fãs ficaram sedentos por qualquer migalha de informação. Nesse meio tempo, The Witcher 3: Wild Hunt foi lançado em 2015 e elevou as expectativas a níveis estratosféricos, principalmente para este que vos escreve.
Porém, somente em 2018, num final de conferência da Microsoft na E3, que Cyberpunk 2077 finalmente deu as caras. Era tudo incrível, era algo que os jogadores ansiavam por datas, por trailers, por entrevistas. A cada material de divulgação a internet dava um jeito de surtar.
Depois de três adiamentos em 2020, finalmente o dia 10 de dezembro estava próximo. Era o dia que uniria todas as tribos da comunidade gamer. O dia que a Twitch e o YouTube bateriam milhões de acessos em vídeos relacionados. O dia mais esperado do ano para muitos terminou da mesma maneira que Sarah Connor imaginava o Dia do Juízo Final em Exterminador do Futuro 2.
Não é fácil de falar de Cyberpunk 2077 porque por mais que odiemos admitir isso, é extremamente desapontador falar de algo tão esperado que acabou como uma bomba na cabeça dos fãs. É o mesmo que eu viesse falar de quão desapontador e ruim Vingadores Ultimato poderia ter sido. Anos de espera que culminariam numa experiência que seria raramente superada.
Se é difícil falar, jogar é ainda pior
Falar é fácil, e jogar é difícil mais de um ano depois. Assim que instalei o game no PC, fiquei me perguntando como ele iria rodar. Cheguei até a utilizar duas máquinas diferentes para jogar: o notebook Alienware m15, com RTX 3070 e uma i7 11800H; e um desktop com um Ryzen 5700G e uma RTX 3060. Ou seja, não há jogo no mundo que não rodaria pelo menos no Alto a 60 quadros.
Felizmente – e olha que eu dificilmente usarei palavras positivas aqui – o game não estava com uma otimização tão ruim quanto eu imaginava. Porém, isso não significa que Cyberpunk seja um jogo leve, pelo contrário, é bem pesadinho. Em partes preciso dar os méritos, já que o título tem sim modelos muito bonitos, como certa modelagem de personagens, algumas paisagens, efeitos de sombra e iluminação.
Aliás, falando em luz e sombra, isso me lembra de... Ray Tracing. Devo dizer que realmente é uma das implementações mais bonitas dessa tecnologia em games. O grande problema é que sempre que eu usava esse recurso, meu jogo crashava. Ou pelo menos era isso que eu acreditava.
Durante muitas horas de jogo e muitas horas mais de problemas, estresse, vontade de jogar meu mouse na parede e quebrar meu monitor, Cyberpunk dava inúmeros crash sem sentido. Atirando contra uma gangue, realizando atos libidinosos com personagens fictícios, conversando com um mafioso japonês que busca provar um assassinato ou simplesmente andando na cidade para tirar uns prints.
E isso me leva ao ponto que me deixa realmente pê da vida – para não perder o decoro neste texto: durante a jogatina são as mensagenzinhas bonitinhas da GOG um ano após o maior fiasco da década. “Opa, seu jogo foi para as cucuias haha”.
Não me levem a mal. Um jogo ter problemas atualmente não é novidade. Um jogo lançar incompleto não é novidade. Porém, um jogo continuar com o mesmo problema ridículo um ano depois e ainda continuar com essa mensagem besta, que zomba da cara de milhares de criadores de conteúdo e, principalmente, de milhões de pessoas que gastaram dinheiro comprando seu jogo quebrado é inadmissível.
Quanto aos bugs, minha jornada foi até que tranquila. Houve sim os NPCs cadeirantes levantando da cadeira e correndo, personagens sumindo inesperadamente, carros sumindo na avenida, mas nada que impediu meu progresso. Então isso me deixou bem mais feliz do que pensei.
Com certeza, seria completamente injusto da minha parte dizer que Cyberpunk 2077 continua com os exatos mesmos problemas do que teve há pouco mais de 365 dias. Houve patches, atualizações e correções. Indubitavelmente o jogo ganhou um ar mais fresco e ficou sim mais polido, mas isso não é suficiente. Não para uma companhia que já superou o valor de mercado da Ubisoft em maio de 2020.
Incompleto e imperfeito
Isso me leva a uma questão importante neste texto. Cyberpunk não foi concebido como apenas um projeto grande, mas como O projeto. Aquele que mudaria a indústria. Um impacto maior ainda do que o glorioso Red Dead Redemption 2 teve, e que dificilmente será ultrapassado.
Quando eu jogo Cyberpunk 2077, tirando esses aspectos técnicos de crash, bugs problemáticos para alguns usuários, etc, eu sinto que estou jogando um game completamente incompleto.
A cidade é artificial demais, e eu até entendo que parte disso pode ser culpa da temática cyberpunk, porém é tudo um pouco sem vida, sem peso. Em The Witcher 3, lançado 5 anos antes, eu sentia nas ruas de Novigrad uma densidade. Eu sentia o mundo, sentia os NPCs mesmo que fossem os camponeses mais inúteis daquela remota vila infestada de monstros.
Night City é uma cidade crua, embora eu tenha me surpreendido com uma boa quantidade de NPCs. Aliado a isso, o gameplay de Cyberpunk é legal, mas eu não ouso a me aprofundar nessa crítica específica porque RPG em primeira pessoa não é o meu forte. Então, que a justiça seja feita.
Agora, a história é interessante. Os escritores da CD Projekt Red são talentosos e isso não há como negar. Embora eu prefira as histórias medievais de The Witcher, a campanha de Cyberpunk é bem divertida. Os personagens que nos acompanham são bem desenvolvidos, bem feitos. A narrativa principal é boa de acompanhar. E claro, Keanu Reeves é Johnny Silverhand, então eu irei encerrar esse parágrafo aqui mesmo. Não há o que dizer, apenas jogar e acompanhar Keanu. It’s breathtaking.
Então vale a pena ou não?
Como eu mesmo disse, Cyberpunk 2077 é um jogo incompleto, que deveria ter tido pelo menos mais uns 2 anos de desenvolvimento para ser lançado, quem sabe – apenas um grande SE –, como ele foi originalmente pensado.
E não imagine que a culpa do grande fiasco de 2020 está sob os ombros dos desenvolvedores. Absolutamente não. Se existiam pessoas que sabiam como o jogo estava e como estaria meses depois, eram os desenvolvedores. E esses mesmos desenvolvedores foram os que passaram dias e dias sob um fluxo de crunch e péssimas condições de trabalho para entregarem um produto incompleto por conta da ganância de uma minoria que administrava a CD Projekt Red.
Eu realmente acredito que os devs queriam e acreditavam que conseguiriam fazer aquele jogo dos sonhos, mas Cyberpunk 2077 é o problema que é hoje por conta de um empresariado que cuspiu nos fãs e ainda hoje continua lucrando milhões.
Então, se vale a pena ou não jogar esse game, eu diria que caso você queira ter uma experiência mais completa, deveria esperar alguns meses para que o jogo volte a receber atualizações, uma vez que a própria CD Projekt Red avisou que só voltará a lançar updates em 2022 e a última atualização foi feita há 3 meses.
Melhor do que em seu lançamento, Cyberpunk 2077 caminha a passos curtos para uma virada de jogo, e, quem sabe um dia, se transforme naquilo que deveria ter sido desde sempre.