O dito popular "ninguém é perfeito" pode ser aplicado em muitas esferas, inclusive na indústria de games. Mesmo com a evolução da tecnologia, com consoles cada vez mais potentes, as desenvolvedoras ainda sofrem para lançar jogos que estejam realmente perfeitos. Os deadlines são apertados para o time de devs, a cobrança de investidores para o lançamento é enorme... Neste contexto (inclusive, pandêmico, precisamos sempre lembrar), jogos que aparentam ter grande potencial, como Kena: Bridge of Spirits, desenvolvido e publicado pela Ember Lab, acabam não atingindo todas as expectativas.
Mas calma, caro leitor, o game não é uma decepção! Longe disso. No entanto, de todos os elementos que foram apresentados, alguns poderiam ser melhor explorados a fim de entregar mais qualidade para nós, os jogadores. Afinal, a versão mais barata é encontrada na Epic Store, para PC, por R$190,99. Já no PS5, a mais barata está em mais de R$200. Ou seja, não é um jogo barato. Por isso mesmo eu esperava mais. Acompanhe a análise abaixo.
Cadê a história da Kena?
Kena é uma jovem guia espiritual, que tem o trabalho de ajudar os espíritos a encontrar os seus caminhos no pós-vida. Muitos deles ficam presos a traumas e culpas do passado, e ela faz o trabalho de libertá-los.
Na história, ela viaja para uma vila abandonada em busca do Santuário Sagrado da montanha, e luta para descobrir os segredos dessa comunidade esquecida, escondida em uma floresta coberta de vegetação, onde espíritos errantes acabam ficando presos.
Em tese, o tema abordado pelo jogo carrega um peso muito grande, pois trata de algo muito profundo: a morte. No entanto, as motivações da personagem ficam pouco claras, assim como o seu passado. Pouco se sabe sobre o legado deixado pelo pai de Kena, que também era guia espiritual.
As histórias paralelas da vila se aprofundam mais do que a da própria protagonista, o que é um erro. Por ser um jogo de campanha, acabei ficando muito curiosa, e confesso que essa foi uma parte bem frustrante. A personagem, no fim das contas, é bem rasa - infelizmente -, pois tem muito potencial.
A beleza está nos olhos de quem vê
Se você é fã de animações, assim como eu, pode ir se preparando para se apaixonar pelos personagens caricatos e fofinhos que lembram os desenhos da Pixar. Em vários momentos da gameplay, a repórter que vos fala foi transportada para o encantador mundo do estúdio de animação da Disney. Lembrei de alguns especificamente durante a gameplay, como Monstros S.A., Bao e La Luna, tanto no visual quanto nas paletas de cores usadas.
Um bom exemplo do visual é o da Kena, personagem principal do jogo, que tem traços muito leves, aparentando sempre um olhar de serenidade, de inocência, típicos destas animações.
Neste quesito, a beleza do jogo é notável, digna das telonas. Mas há quem não goste desse estilo e prefira algo mais "tradicional" para os videogames. Não é o meu caso, pois fiquei extremamente satisfeita com a aparência dos personagens e o quanto os detalhes deles foram bem observados, principalmente para os Rots.
Os Rots são espíritos tímidos (e bem medrosos) que estão espalhados pela floresta. Eles mantêm o equilíbrio decompondo elementos mortos e apodrecidos. São os personagens mais fofinhos e lindinhos que vi nos últimos tempos. Simplesmente o auge do visual para mim.
As críticas que tenho são sobre alguns pontos do ambiente da floresta, em que a textura era levemente diferente, com queda de qualidade, além da mudança de framerate entre as cutscenes, que ficam em 30fps. Essa mudança de quadros me incomodou um pouco no começo, mas durante o jogo fui acostumando e se tornou quase imperceptível aos olhos.
Exploração e jogabilidade simples, mas que funcionam
Cumprir missão é bom demais, mas você explorar os ambientes nos jogos é melhor ainda. Ainda mais para mim, que odeio aquela sensação de ter deixado algo para trás. Kena é muito intuitivo e ensina facilmente os caminhos para progredir e encontrar itens.
Inclusive para encontrar mais Rots, que são necessários para enfrentar os bosses. Portanto, prepare-se para explorar o mapa e os distritos (que você vai liberando ao longo da campanha).
O mapa e a facilidade de teletransporte são muito úteis. Se você tem dificuldade com direção, os pontos coloridos fazem toda a diferença na hora de identificar as tarefas. Fez muita diferença para mim, porque me perco facilmente em qualquer jogo - qualquer um mesmo.
A jogabilidade é boa, mas não há nada de inovador. Inclusive, se parece muito com o que vi em Horizon Zero Down. As formas de esquiva e de ataque, inclusive o cajado de Kena que é usado para o combate com os inimigos - e que lembra demais a lança de Aloy, protagonista de Horizon.
O pulsar de Kena é uma das partes mais legais entre os poderes da personagem. O fato de ela poder acender as pedras e as runas que ficam na floresta é encantador. Uma forma bem simples, mas muito eficiente de conectá-la com o ambiente.
O que me chamou a atenção negativamente foi a dificuldade de enfrentar os bosses. Que barra! Morri e não foi pouco. Cada vez que ia enfrentar um chefão era uma pausa para o café. O que me leva a pensar que aumentar a dificuldade pode ter sido uma decisão proposital da desenvolvedora para aumentar o tempo para zerar o jogo. Mas fica tudo no campo das suposições.
Por que Kena: Bridge of Spirits poderia ser melhor
Faltou alma para o game. O visual é lindo, a gamplay decente, mas o polimento e o enredo deixaram muito a desejar. No aspecto técnico, sofri com alguns bugs chatos, na hora de enfrentar os chefões - que abusam de explosões -, por exemplo. Em alguns momentos achei até que o jogo iria crashar. Joguei a versão para PC, com um setup que suporta os jogos da nova geraçção e uma placa RTX 2060 (compatível com a nova geração). Fiquei surpresa por ver algumas quedas no gráfico e áreas com textura diferente.
Por fim, Kena segue sendo uma incógnita para mim. Faltou explorar a história da personagem para que nos aproximássemos mais dela. Um pecado da Ember Lab difícil de perdoar, mas que poderá ser consertado no futuro- conto com isso. Será que vem DLC por aí? Aguardemos.