Em 2017, quando eu sequer imaginava escrever sobre jogos, Cuphead fazia sua estreia no Xbox One e logo me encantava: seus gráficos inspirados nos desenhos da Era de Ouro da animação americana, sua trilha sonora com jazz de época, seu humor besteirol e a promessa de fases e chefes desafiadores me lembravam dos bons tempos quando minhas únicas preocupações eram assistir desenhos enquanto tomava café da manhã e nunca esquecer de anotar os passwords do difícil Megaman X3 - e de fazer os não tão difíceis deveres de casa. Cuphead parecia ser a soma de tudo o que havia de melhor.
Criado pelos irmãos canadenses Chad e Jared Moldenhauer, o jogo é resultado de talento e paixão - que rapidamente acometeu outros tantos e se tornou sucesso entre público e crítica. Influenciado por clássicos como Gunstar Heroes, Super Meat Boy, o próprio Megaman e principalmente Contra, Cuphead começou a ser desenvolvido em 2013 e se tornou realidade somente quatro anos depois.
Detentor de recordes no Guinness Book, o 'run-and-gun' (correr e atirar) com ideias refinadas da era dos 8 e 16-bits foi, segundo seus próprios criadores, feito para "derrotar Contra: Hard Corps" e é cativante - e o principal motivo para isso é o mesmo que motivou meu abandono: a dificuldade.
Cada uma das fases na Ilha Tinteiro, lugar onde os irmãos Xicrinho e Caneco vivem sua jornada, é brutal e imperdoável. Por mais belos que os gráficos criados com a ajuda de Marija Moldenhauer, esposa de Chad, sejam e por mais que os protagonistas, e até mesmo cada um dos elaborados chefes, pareçam carismáticos, não se engane: Cuphead é injusto e muito difícil; é o tipo de jogo que exige que o jogador tire um tempo depois de sucessivas derrotas para apenas respirar e tentar colocar a cabeça de volta no lugar.
Por mais que eu goste de jogos difíceis e por mais mágica que a fórmula de Cuphead seja e me faça querer aprender e superar cada desafio, o jogo era demais para mim. Se os irmãos aprenderam que fazer acordos com o Diabo não é boa ideia, eu aprendi que algumas paixões não resistem a tantas dificuldades e me dei por vencido.
Cinco anos depois, tive a oportunidade de jogar uma demo curtinha do DLC The Delicious Last Course durante o Tribeca Games Showcase, e todo aquele amor voltou ao coração - seguido do mesmo sentimento que me fez desistir.
Agora com uma nova personagem, a charmosa Senhorita Cálice, me deparei com a impiedosa Mortimer Freeze em uma arena chamada Snow Cult Scuffle. Mortimer tem três fases desafiadoras e uma variedade de habilidades e movimentos que fazem jus ao que Cuphead é. Durante a rápida meia hora que tive acesso ao DLC não me dei por vencido, mas fiquei no quase.
Ao lado da nova personagem, tentei diversas estratégias, alterei entre as novas armas, aprendi novas habilidades e, pouco a pouco, me lembrei do quanto amo e odeio esse run-and-gun. Mas a dose que tive foi o suficiente para olhar para meu Xbox, passear pelo meu catálogo de jogos e decidir que talvez seja hora de uma segunda chance - às vezes elas valem a pena.
Cuphead: The Delicious Last Course chega em 30 de junho para PC, PlayStation 4, Switch e Xbox One.