A primeira "convidada internacional" do Controles é a desenvolvedora Amanda Duarte, brasileira que atualmente mora em Toronto e atua como gerente de projetos na Achimostawinan Games, um estúdio indígena focado em narrativas e personagens dos povos originários canadenses.
Esse nome, Achimostawinan, é uma palavra da língua cree e pode ser traduzido como 'nos conte uma história'. "Mas tem um significado mais imperativo, é tipo exigindo que você nos uma história", disse a desenvolvedora durante o 25° episódio do podcast. E como é legal ver uma dev brasileira presente em um estúdio como esse, liderado também por uma mulher e interessado em contar histórias não tão tradicionais e de um ponto de vista ainda menos comum dentro do universo desenvolvedor.
Como seria o universo e o planeta, hoje, se não existisse a colonização que teve lá no passado? Como seria a realidade no futuro desses povos colonizados e expulsos de suas terras, ou até apagados da existência? Essas são algumas perguntas que a Achimo busca responder em seu jogo de estreia, Hill Agency: Purity/Decay.
O futuro é indígena, eles constituem cidades prolíferas e tecnologicamente avançadas e mantêm suas relações, seus modos de viver e culturas em contrapartida a uma capital flutuante patrocinada por uma corporação e que abriga uma elite do homem branco. Hill Agency, especificamente, conta com personagens e narrativas dos cree, um dos maiores povos originários do Canadá.
O jogo te coloca no controle de Maygeen Hill, uma investigadora particular vivendo nos subúrbios um tanto quanto esquecidos desse mundo avançado. Enquanto Hill, você precisa investigar do sumiço de um brinquedo do seu primo ao envolvimento das elites em casos que vão até as bases dessas duas novas sociedades. E é literalmente o jogador quem decide se as investigações surtiram efeito ou não, investigando cada detalhe do jogo e de seus personagens.
Hill Agency é uma experiência noir detetivesca completa. Cada interação com objetos ou outros personagens pode ser anotada em um caderninho e, no papel de detetive, é você quem acusa os suspeitos, que podem ser presos ou pegos mesmo sem serem culpados de verdade. No jogo, uma prisão feita no começo da história pode ou não afetar sua progressão mais tarde, fechando portas de lugares ou atrapalhando investigações futuras.
"Tem essa pegada de detetive, mas não é tao o foco. Queremos passar essa experiência de investigação, coletar provas, falar com as pessoas", disse a desenvolvedora brasileira trabalhando na Achimo, Amanda Duarte.
Um jogador não tão curioso em explorar cada interação desse universo pode viver uma experiência mais rápida e direta até o único final da narrativa, mas um investigador de verdade vai até o fim em cada caso de Hill Agency pra mostrar que a detetive Maygeen tá mesmo no topo da cadeia dos sabichões. O jogo tem diversos jeitos e caminhos para chegar em um final só, e depende do jogador qual caminho será tomado.
Hill tem um ar de Carmen Sandiego, com seu sobretudo e chapelão, ambientada em um mundo poligonal noir e cyberpunk, em tons de preto e branco, com artes desenhadas de cada personagem. Visualmente o jogo é impecável em seu estilo e proposta, que casam com uma trilha ambiente misteriosa e calma, mas com segredos - assim como o mundo futurista indígena de Maygeen e os outros personagens de origem cree.
"Ela é muito cabeça dura, mas tem coração. Tem vontade de resolver as coisas e ir até os confins da terra pra solucionar os problemas. Ela bate com os dois pés na porta, mas não quer dizer que ela é uma pessoa ruim", acrescentou a gerente de projeto, que foi ao Canadá para estudar desenvolvimento de jogos e logo conseguiu o emprego na Achimo em um jogo narrativo, um de seus gêneros preferidos.
Além de gerente de projetos, a dev também é uma das principais organizadoras da Women Game Jam Brasil, maior game jam com recorte de gênero do mundo, tendo sido casa pra mais de 1000 desenvolvedoras e 150 jogos desenvolvidos desde 2018.
