O Fiat Fastback tinha tudo para dar errado. Mas sua estreia em alto estilo mostra que ele tem tudo para dar certo. O Fastback é mais uma prova de que a Fiat sabe fazer milagres para atender o mercado brasileiro. Não por outro motivo, a Fiat é mais relevante no Brasil do que na própria Itália, sua pátria-mãe.
Para entender o que estou falando precisamos voltar no tempo. Não muito, apenas quatro anos atrás. No Salão de São Paulo de 2018, um dos destaques do estande da Fiat foi o conceito Fastback. Única marca de grande volume sem um SUV para chamar de seu, o Fiat Fastback foi criado a partir do Fiat Toro.
Já naquela altura a FCA (Fiat Chrysler Automobiles) sabia que, depois de fortalecer a marca Jeep com dois SUVs, Renegade (categoria B) e Compass (categoria C), e de reposicionar a Fiat no mercado de comerciais leves com a picape Toro, teria que dar à rede Fiat a chance de vender SUVs.
Haveria então um utilitário esportivo baseado no Argo (B-SUV), com fabricação em Betim (MG), e outro baseado no Toro (C-SUV), com fabricação em Goiana (PE). Este último nasceu como o conceito Fastback, que agradou o público e os críticos.
Mas tudo mudou. Por questões industriais e de mercado, a então FCA decidiu fazer os dois carros em Betim. Ou seja: os dois carros usariam a plataforma MLA, para carros compactos (segmento B). Já se sabia que a Volkswagen viria com o Nivus, um crossover cupê, também nessa categoria. E o sucesso da dupla Renegade/Compass fez a Jeep pensar num novo projeto, o Commander, para a categoria D-SUV (grande).
O milagre do Fiat Fastback
O Fiat Fastback foi concebido para ser um carro médio, do porte do Jeep Compass, portanto com mais de 4,4 m de comprimento. Para dar uma ideia, o Fiat Pulse tem apenas 4,1 m e o Fiat Toro tem 4,9. Pois bem, o Fiat Fastback tem os 4,4 m originais, porém teve quer ser feito sobre uma plataforma menor.
Seria muito mais fácil para os designers e engenheiros da Stellantis criarem o Fiat Fastback na base do Jeep Compass, com 2,63 m de entre-eixos. Entretanto, tiveram que fazer isso com um entre-eixos de apenas 2,53 m. Parece pouco? Num automóvel, poucos milímetros podem fazer muita diferença no comportamento dinâmico do carro. Seja para cima, para os lados, para baixo, para frente ou para trás.
O desafio foi posto para o designer Peter Fassbender e o engenheiro Márcio Tonani. Eles toparam e fizeram bem. O resultado foi um carro muito bom. Se olharmos com lupa, podemos até considerar que o Fiat Fastback tem a frente muito curta em relação à traseira, mas o mérito está aí mesmo.
Não basta fazer um bom carro. É preciso fazer um carro que seja bom, bonito e desejável, além de confiável, dentro do menor custo possível. E assim nasceu o Fiat Fastback. O primeiro volume do carro é o do Pulse 1.0 turbo e também do Pulse Abarth 1.3 turbo. Isso se repete nas colunas A e B. A partir daí, o carro tem muito do Fiat Cronos, um sedã compacto feito na Argentina.
Com soluções caprichadas em design, Fassbender conseguiu entregar um SUV cupê bonito, surpreendente e desejável. Na engenharia, Tonani tratou de alongar o assoalho traseiro, inclinar um pouco o encosto do banco de trás e introduzir um eixo mais rígido na suspensão traseira, além de modificar também a suspensão dianteira.
O carro nem sequer precisou de freios a disco na traseira, pois ele é relativamente leve O resultado é um SUV cupê aspiracional, relativamente barato na construção e que chega praticamente sem concorrentes ao mercado. Até o nome Fastback – pasme – estava disponível. Mudar por que se ele se auto explica?
A rigor, o Fiat Fastback compete apenas com o Volkswagen Nivus, que tem formas mais harmoniosas, mas não é tão imponente quanto o rival da marca italiana. Assim, o Nivus fica preso no motor 200 TSI 1.0 de 128 cv, porque a VW é mais comedida nessas decisões técnicas, enquanto o Fastback usa os motores 1.0 T200 de 130 cv e 1.3 T270 de 185 cv.
O carro também ficou muito caprichado nos detalhes de design. O marketing aproveitou que o motor é o mesmo do Pulse Abarth (embora esteja presente também no Fiat Toro, no Jeep Renegade e no Jeep Compass) para colocar uma plaquinha no painel onde se lê “Powered by Abarth”.
Quando se trata de surpreender o mercado e criar desejos em seu consumidor, a Fiat é extremamente ousada. O Fastback é apenas mais um exemplo de como a Fiat sabe fazer milagres no Brasil. Já foi assim, por exemplo, com as inovadoras picapes Toro e Strada (desde a geração anterior, diga-se).
Com todos esses elementos, a rede de concessionárias Fiat não apenas tem um segundo SUV para chamar de seu, mas acima de tudo um que é diferente de todos os outros. Algum consumidor vai se queixar que o Fastback de produção não tem o mesmo entre-eixos do Fastback conceito mostrado no Salão de São Paulo de 2018? Provavelmente não. É lançar, produzir e correr para o abraço.