A notícia causou alguma comoção, mas não surpreendeu ninguém. A União Europeia anunciou na quinta-feira, 27, que vai proibir a comercialização de veículos com motores a gasolina e a diesel a partir de 2035. O objetivo, claro, é contribuir para reduzir o efeito das mudanças climáticas e melhorar as condições do meio ambiente, incentivando a utilização de propulsores com emissão zero.
A causa é louvável, mas ninguém ainda não sabe ao certo como será o futuro da geração de energia na Europa, que ainda é extremamente dependente do gás natural (vide a crise causada pela guerra na Ucrânia) e de fontes “sujas”, como termelétricas e usinas nucleares.
Mas a pergunta que ainda não se faz por estes lados do hemisfério é: e o Brasil, em que tipo de propulsão vai investir? Seguiremos na contramão do mundo, continuando a usar os motores a combustão interna de sempre? Vamos para o elétrico ou teremos outra solução?
Neste momento, a última alternativa parece a mais viável – e sensata – uma vez que já é realidade. Trata-se do híbrido flex, sistema no qual a Toyota foi pioneira, mas outras fabricantes apoiam, com destaque para a Volkswagen e o grupo Stellantis – que tem até a pretensão de liderar o movimento de nacionalização dos componentes dos conjuntos híbridos flex. A Nissan, por sua vez, trabalha há anos em um sistema de célula de combustível a etanol.
A General Motors América do Sul, em compensação, parece querer simplesmente repetir a estratégia de sua matriz nos Estados Unidos, que decidiu queimar etapas, investindo somente nos chamados “elétricos puros”. Há cerca de dez dias, por exemplo, a montadora emitiu comunicado afirmando que em breve, os veículos elétricos vão custar quase o mesmo que os modelos com motor a combustão. O texto só não diz onde isso vai ocorrer.
Vale lembrar que diversas montadoras e empresas de eletrônicos anunciaram recentemente projetos para a construção de fábricas de baterias nos Estados Unidos, de olho no movimento de eletrificação, que por lá deve se concentrar nos carros 100% elétricos, de fato. Mas é difícil imaginar que as novas plantas sejam capazes de abastecer baterias para carros que vão para outros países.
Além disso, há outros problemas sobre os quais pouco se fala no Brasil, como a destinação das baterias usadas ou a infraestrutura de recarga em vias e rodovias, sem esquecer a padronização das tomadas. Quem vai definir tudo isso?
Por conta de todas essas questões, parece claro que investir em automóveis “full hybrid flex” (não plug-in) é a melhor opção não só para o Brasil, mas para outros países em desenvolvimento. Esse sistema, além de ser menos complexo, possibilita utilizar a estrutura de postos de combustíveis já existente, permite rodar em trechos urbanos no modo emissão zero e ainda dispensa recarga externa. Sem esquecer que o etanol é um combustível renovável que compensa a emissão de poluentes em seu ciclo de produção.
Comerciais leves, por sua vez, devem, sim, se tornar 100% elétricos, já que a tecnologia é a mais indicada para esse tipo de utilização. Já os caminhões exigem outro tipo de propulsão, que ainda precisa ser melhor desenvolvido (hidrogênio verde, talvez).
Enfim, existem alternativas, e cabe ao futuro governo decidir qual será o melhor caminho a seguir. O Brasil só não pode ficar à beira da estrada, vendo a caravana tecnológica passar.