Europa vai banir motores a combustão; Brasil não pode fazer isso

Proibição de venda de veículos com motores a combustão vai valer a partir de 2035 na Europa; por aqui precisamos de alternativa própria

28 out 2022 - 16h13
Full hybrid flex, da Toyota.
Full hybrid flex, da Toyota.
Foto: Toyota / Divulgação

A notícia causou alguma comoção, mas não surpreendeu ninguém. A União Europeia anunciou na quinta-feira, 27, que vai proibir a comercialização de veículos com motores a gasolina e a diesel a partir de 2035. O objetivo, claro, é contribuir para reduzir o efeito das mudanças climáticas e melhorar as condições do meio ambiente, incentivando a utilização de propulsores com emissão zero.

A causa é louvável, mas ninguém ainda não sabe ao certo como será o futuro da geração de energia na Europa, que ainda é extremamente dependente do gás natural (vide a crise causada pela guerra na Ucrânia) e de fontes “sujas”, como termelétricas e usinas nucleares.

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Mas a pergunta que ainda não se faz por estes lados do hemisfério é: e o Brasil, em que tipo de propulsão vai investir? Seguiremos na contramão do mundo, continuando a usar os motores a combustão interna de sempre? Vamos para o elétrico ou teremos outra solução?

Sistema Flex fuel.
Foto: VW / Divulgação

Neste momento, a última alternativa parece a mais viável – e sensata – uma vez que já é realidade. Trata-se do híbrido flex, sistema no qual a Toyota foi pioneira, mas outras fabricantes apoiam, com destaque para a Volkswagen e o grupo Stellantis – que tem até a pretensão de liderar o movimento de nacionalização dos componentes dos conjuntos híbridos flex. A Nissan, por sua vez, trabalha há anos em um sistema de célula de combustível a etanol.

A General Motors América do Sul, em compensação, parece querer simplesmente repetir a estratégia de sua matriz nos Estados Unidos, que decidiu queimar etapas, investindo somente nos chamados “elétricos puros”. Há cerca de dez dias, por exemplo, a montadora emitiu comunicado afirmando que em breve, os veículos elétricos vão custar quase o mesmo que os modelos com motor a combustão. O texto só não diz onde isso vai ocorrer.

Vale lembrar que diversas montadoras e empresas de eletrônicos anunciaram recentemente projetos para a construção de fábricas de baterias nos Estados Unidos, de olho no movimento de eletrificação, que por lá deve se concentrar nos carros 100% elétricos, de fato. Mas é difícil imaginar que as novas plantas sejam capazes de abastecer baterias para carros que vão para outros países.

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Nissan testa célula de combustível a etanol.
Foto: Nissan / Divulgação

Além disso, há outros problemas sobre os quais pouco se fala no Brasil, como a destinação das baterias usadas ou a infraestrutura de recarga em vias e rodovias, sem esquecer a padronização das tomadas. Quem vai definir tudo isso?

Por conta de todas essas questões, parece claro que investir em automóveis “full hybrid flex” (não plug-in) é a melhor opção não só para o Brasil, mas para outros países em desenvolvimento. Esse sistema, além de ser menos complexo, possibilita utilizar a estrutura de postos de combustíveis já existente, permite rodar em trechos urbanos no modo emissão zero e ainda dispensa recarga externa. Sem esquecer que o etanol é um combustível renovável que compensa a emissão de poluentes em seu ciclo de produção.

Comerciais leves, por sua vez, devem, sim, se tornar 100% elétricos, já que a tecnologia é a mais indicada para esse tipo de utilização. Já os caminhões exigem outro tipo de propulsão, que ainda precisa ser melhor desenvolvido (hidrogênio verde, talvez).

Enfim, existem alternativas, e cabe ao futuro governo decidir qual será o melhor caminho a seguir. O Brasil só não pode ficar à beira da estrada, vendo a caravana tecnológica passar.

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