A cópia descarada do Fusca foi oficialmente lançada na China como Ballet Cat. Trata-se do Fusca chinês, apelido perfeito para o carro da Ora, marca de elétricos da gigante montadora GWM (Great Wall Motors).
Gigante na produção e nas vendas, mas ainda pequena nessa postura. Por mais disfarces que faça, o Ora Ballet Cat é um escandaloso caso de cópia mal feita. Talvez para fugir de um processo judicial da Volkswagen (legítima criadora do Fusca), a GWM adotou algumas soluções bizarras, como os faróis que parecem as lanternas do Fusca original.
Nascido sob o nazismo, numa Alemanha aos pés do maníaco Adolf Hitler, o Käfer (nome do Fusca na Alemanha) sobreviveu à Segunda Guerra Mundial e se tornou o primeiro carro a superar as vendas do Ford Model T.
Ganhou o mundo e nomes diferentes, como Beetle nos Estados Unidos, Inglaterra e em várias partes do mundo, Carocha em Portugal, Escarabajo em Espanha, Coccinelle em França, Vocho no México e Fusca no Brasil. O nome oficial era Volkswagen Sedan, mas o próprio fabricante se rendeu ao nome criado pelo povo.
O carro tem o mais icônico dos desenhos: parece um besouro. Por isso virou Beetle ou o nome correspondente na maioria dos países. Mas, em plena terceira década do século XXI, a GWM decidiu brincar de surrupiar ideia alheia.
E a Ora veio então com este Fusca chinês elétrico em três versões: 170 cv com tração dianteira, 300 cv com tração traseira e 544 cv com tração nas quatro rodas. Uma ideia boa, mas que poderia ser aplicada num modelo original, pois a marca tem outros carros de sucesso, como o Ora Adora.
Uma vergonha para a indústria chinesa. Já se vão 20 anos desde que os carros da China deixaram de copiar projetos de outros países. Os carros evoluíram não apenas em qualidade técnica, construção, segurança e acabamento, mas também em design.
Os idiotas da objetividade, diria Nelson Rodrigues, vão argumentar que o Volkswagen Fusca não tinha algumas características do Ora Ballet Cat: quatro portas, propulsão elétrica, motor dianteiro e, claro, as lanternas instaladas na frente, porém como faróis. Não mesmo. Mas isso não impede que qualquer pessoa bata o olho no carro e veja um Volkswagen Beetle ou Fusca, por fora e por dentro.
Não sei se nos tribunais isso faz ou não diferença. Para mim, o que conta é que a GWM se apropriou do maior valor do Fusca: o valor que ele construiu no imaginário de milhões (bilhões?) de pessoas como um carro prático, simpático e confiável. Eticamente, não há desculpa.
Por óbvio que a indústria automobilística está cheia de cópias. Mas isso não é "uma" cópia; é "a" cópia, a maior de todas, nunca ousada por nenhuma outra marca em 80 anos. É como se Londres fizesse uma Torre Eiffel e Paris fizesse um Big Ben Clock.
Ora bolas, Ora! Ora bolas, GWM! A indústria chinesa hoje é respeitada no mundo inteiro, por que apelar com este Ballet Cat? E nem vou falar dos itens machistas que o carro traz, subvertendo um dos maiores valores do Fusca original, que é tratar homens e mulheres como iguais.
Felizmente, a GWM resistiu à tentação de lançar o Fusca chinês no Brasil e já declarou que não venderá o Ora Ballet Cat em nosso mercado. Uma boa decisão!
Podemos esperar, portanto, carros inéditos, interessantes, tecnológicos e competitivos das marcas Haval, Poer, Tank e da própria Ora. Assim é melhor.