Em menos de um ano na presidência do BMW Group Brasil, Arturo Piñeiro assumiu o cargo em meio a uma fase decisiva, poucos meses após o anúncio de produção local pela primeira vez na história. Segundo ele, a montadora já tinha planos avançados de fabricar no Brasil e teve que reajustar a estratégia com o Inovar-Auto, programa do governo para incentivar a indústria brasileira, que entrou em vigor em janeiro de 2013. Mas Piñeiro afirma que o programa não teve efeito apenas para as montadoras e será benéfico principalmente para os consumidores.
“O que o Inovar trouxe é que a qualidade dos carros brasileiros vai melhorar. Ele evita a avalanche de carros orientais que estava chegando”, afirma o executivo de 48 anos, que nasceu em São Bernardo do Campo (SP), mas iniciou a carreira na BMW em 1995 na Espanha. O movimento de nacionalização foi seguido depois pelas concorrentes Audi e Mercedes-Benz, mas isso não o preocupa. “A concorrência faz a gente melhorar.”
Segundo estimativas, o segmento premium representa atualmente 50 mil veículos por ano no Brasil e deve mais que duplicar para 120 mil até 2020. Piñeiro credita essa crescimento à ascensão social de milhares de brasileiros nos últimos anos, o que não deve ser prejudicado por uma mudança do cenário global neste ano. “Existem flexões no câmbio, parte especulativas, e a economia americana funcionando melhor. Mudou um pouco o cenário, mas isso não vai mudar o peso da economia brasileira”, afirma.
O mercado nacional de veículos fechou 2013 como o quarto maior do mundo, atrás apenas de China, EUA e Japão, mesmo com a primeira queda no número total de emplacamentos em dez anos. Mesmo com a desaceleração, pelo menos uma dezena de montadoras estão construindo ou ampliando fábricas no Brasil, o que deve acirrar ainda mais a disputa pelo consumidor brasileiro. Para ganhar mercado, a BMW aposta em carros com a mesma qualidade dos feitos na Alemanha.
“Se não fôssemos capazes de produzir carros do mesmo nível de qualidade, não viríamos para o Brasil”, afirma Piñeiro. Se por uma lado a produção local não deve “baratear” os carros, por outro, provocará uma ótima mudança no pós-venda. Atualmente, a dificuldade para importar peças deixa carros parados nas oficinas por dias. Com a contratação de fornecedores locais, o estoque de peças deve subir e reduzir a espera. “Não vou dormir direito enquanto carros ficarem parados por mais de cinco dias nas concessionárias por falta de peças”, disse.
Flex x Diesel
A única diferença substancial dos carros brasileiros será na motorização. Desde novembro passado, a Série 3 já é equipada com propulsor bicombustível – o primeiro turbo do tipo no mundo. O 320i também será o primeiro carro a sair da fábrica de Araquari (SC) em outubro deste ano. De acordo com Piñeiro, a tecnologia flex chegará a outros motores da gama, e quando chegar, eliminará a versão a gasolina. Ou seja, todos os modelos feitos no Brasil com motor 2.0 l, de 4 cilindros, serão ActiveFlex, entre eles X1 e X3.
No entanto, Piñeiro aguarda ansiosamente que o governo brasileiro permita a utilização mais ampla de propulsores a diesel – atualmente disponível apenas para picapes de grande porte e caminhões. “(O diesel) é hoje um combustível menos poluente e econômico. Não temos os problemas da década de 1970”, afirmou. A proibição de veículos de passageiro a diesel no Brasil vem desde 1976, logo após a primeira crise do petróleo, quando o custo de importação do combustível disparou.