A indústria automobilística trabalha com a possibilidade de mudança na política de incentivos para carros elétricos caso o ex-presidente Lula seja eleito para um terceiro mandato neste domingo (30). É possível que a atual política, de imposto zero para a importação de veículos 100% elétricos, seja revista.
Pelo menos três executivos com os quais o Guia do Carro conversou acreditam que Lula pode fazer algumas mudanças na atual política de desenvolvimento dos veículos eletrificados. Se o presidente Jair Bolsonaro for reeleito, a expectativa é de que as regras continuem como estão, ou seja, sem perspectiva de produção de carros 100% elétricos no país.
“Um novo governo pode trazer mudanças na legislação para veículos eletrificados”, disse um executivo, que não quis se identificar. “Nesse caso, precisamos ver se haverá demanda para produção local.” Isso vale não apenas para os veículos 100% elétricos, mas também para híbridos plug-in.
“Enquanto for mais vantajoso importar, a indústria seguirá importanto”, disse outro executivo. “Se as regras mudarem, teremos que analisar custos e demandas para decidir que caminho tomar.”
Alguns executivos consideram que Lula será mais sensível do que Bolsonaro e seu ministro da Economia, Paulo Guedes, sobre uma questão levantada com grande ruído por Paulo Cardamone, CEO da Bright Consulting, empresa especializada em estatísticas e projeções da indústria automobilística.
Cardamone acredita que o Brasil está dando um tiro no pé ao incentivar a importação de veículos 100% elétricos, pois está favorecendo apenas uma parcela de clientes muito ricos e num setor com pouco volume de veículos, que estão comprando carros elétricos de alto valor.
“Colocaram as fábricas inglesas, alemãs e chinesas no porto de Santos ao custo do frete. Quem pensará em produzir esses veículos aqui se puder trazer de fora com esta equação?”, pergunta Cardamone.
Ele vai além e é neste ponto que Lula pode ser mais sensível caso seja eleito para um terceiro mandato presidencial: “Os subsídios são ofertados pelo Estado, mas pagos pelo contribuinte e para os veículos premium, por exemplo, um benefício de 30% a 40% sobre a Tarifa Externa Comum do Mercosul, que é de 20%, seria de muito bom tamanho”.
Recentemente, a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) conseguiu mostrar a Paulo Guedes o potencial de um investimento num veículo elétrico movido a célula de combustível por meio de hidrogênio oriundo do etanol.
A dificuldade, entretanto, é que nem sempre Bolsonaro e Guedes atuam no mesmo ritmo em relação a alguns projetos. Na visão da indústria automobilística, o presidente Bolsonaro tem mais apreço pelo agronegócio e pautas ideológicas – a reindustrialização do país precisaria de ritmo mais intenso.
Lula, ao contrário de Bolsonaro, tem ligação histórica com a indústria automobilística. O custo de implantação deste programa de utilização do etanol é de R$ 1 bilhão em incentivos fiscais até 2030, segundo estudos da Bright Consulting. A possibilidade de que isso entre no radar de um possível governo Lula tem sido considerada por vários executivos, segundo fontes do Guia do Carro.
De qualquer forma, mesmo com um ritmo menor, a indústria automobilística tem preferência pela reeleição de Bolsonaro, embora também não assuma isso publicamente. “A Anfavea é executiva, a Anfavea é técnica. O que nós queremos é ter discussões técnicas, independentemente de governo”, disse Márcio de Lima Leite, presidente da Anfavea, ao Guia do Carro.