Quase um ano depois de mostrar o conceito, a Ford anuncia nesta sexta-feira a chegada do novo Ka às concessionárias na metade de setembro, com preços a partir de R$ 35.390. O valor pode assustar, mas marca uma mudança no posicionamento de mercado, seguindo a reformulação geral no estilo. Maior e mais tecnológico que seu antecessor, o novo Ka terá ar-condicionado, direção e travas elétricas de série em todas as versões disponíveis – uma estratégia que bate de frente com Chevrolet Onix e Hyundai HB20, principalmente.
Mas segundo Oswaldo Ramos, gerente de marketing da Ford, a expectativa para o segundo projeto global liderado pela equipe brasileira é muito maior do que apenas roubar clientes dos novos “queridinhos” dos consumidores. O objetivo é liderar a venda de compactos no varejo, o que significa mais de 10 mil unidades emplacadas ao mês, no mínimo, para superar o atual campeão Fiat Palio (10.221 unidades em junho).
O Onix obteve média de 9,8 mil no primeiro semestre deste ano e o HB20, 8,7 mil. O Volkswagen Gol ainda é líder no geral, mas tem quase metade das vendas para frotas, empresas e taxistas, com o média de 8,5 mil no ano e o quarto lugar na preferência das pessoas físicas. O Ka ainda terá pela frente os renovados Renault Sandero e Nissan New March, que também ganharam mais tecnologia e têm propostas similares, mas não aparecem entre os 10 mais vendidos ainda.
Para alcançar o objetivo, a Ford faz sua aposta no consumidor mais exigente, e com maior poder aquisitivo. A versão mais básica do novo Ka será a SE, e não a S como nos demais modelos da marca. Por R$ 35.390, o compacto terá ar-condicionado, direção elétrica, vidros dianteiros elétricos, travas com acionamento por controle remoto, airbags, freios com ABS, rodas de 14 polegadas com calotas, sistema de som com USB e Bluetooth e o novo My Ford Dock, que nada mais é que um compartimento engenhoso para acomodar seu smartphone no painel do carro.
“Chegou a hora de trazer a tecnologia global para o segmento 1.0. O consumidor agora já entra na loja sabendo o preço do carro com ar (-condicionado), vidro e trava (elétricos). Não adianta enganar com um preço de carro pelado”, disparou Ramos na apresentação técnica do produto à imprensa nesta semana. Segundo ele, haverá uma versão S do Ka para licitações e compra direta, mas ela não será encontrada nas lojas. A montadora acredita que o Ka SE responderá por 70% a 80% das vendas do hatch 1.0, mas duas versões mais completas estarão à disposição.
O Ka SE Plus terá vidros elétricos nas portas traseiras e o sistema multímida Sync, que tem comandos de voz em português e controles no volante, por R$ 37.390. Outra grande novidade do Ka fica apenas para o “topo de linha” SEL, que contará com controle eletrônico de estabilidade e tração, assistente de partidas em rampa, rodas de liga leve de 15 polegadas, faróis de neblina, alarme, ajuste de altura do banco do motorista e computador de bordo. Aí o preço chega a R$ 39.990 – o “limite” para um carro 1.0, segundo Ramos, que alfinetou as versões mais caras do Up!.
Mas as comparações com o Up! não param por aí. Se na visão de mercado, o novo Ka focou em Onix, HB20 e Sandero, no projeto, o modelo a ser batido foi o subcompacto da Volkswagen lançado neste ano. Tirando as proporções (o Ka tem 3.886 mm de comprimento e o up!, 3.605 mm), os dois têm em comum a intenção de revitalizar o segmento dos carros “mil”, com novas tecnologias, motor de três cilindros, ótimos resultados de consumo de combustível e aprimoramentos em segurança.
No último quesito, o Ka se diferenciará por um inédito serviço que conecta o veículo ao Serviço de Atendimento Movél de Urgência (Samu), apenas se houver um celular pareado com o sistema multimídia. Em caso de acidente e acionamento dos airbags, o carro faz uma ligação automática ao Samu, envia sua localização por GPS e abre o microfone para o passageiro falar com o atendente. O serviço, que será feito em parceria com o governo federal, já é comum na Europa e Estados Unidos, mas no Brasil pode ser visto apenas em veículos de luxo. Inicialmente no Ka, ele será ampliado para toda a linha Ford em cerca de um ano e também deve ser utilizado por outras marcas.
Test-drive
Por fora, o novo Ka não é tão inovador. A frente traz a característica grade trapezoidal dos modelos globais da Ford, com linhas marcantes nas laterais e traseira que lembra tanto o Gol, quanto o Onix. A diferença mais marcante é a altura - com 1.525 mm, ele é mais alto que os rivais, sendo o up! (1.500 mm) o mais próximo. O interior lembra o New Fiesta pelo desenho do painel central, mas com acabamento mais simples que o irmão maior, mesmo na versão SEL, que foi testada no interior de São Paulo na última quarta-feira.
Segundo o João Marcos Ramos, chefe de design da Ford, a intenção foi mesmo “puxar a imagem do interior para uma categoria superior”. No entanto, para manter a distância do segundo modelo da gama, que tem preços a partir de R$ 42.190 (com motor 1.5 litro, de 111 cv), o Ka perde a oportunidade de ter ajuste elétrico dos retrovisores e a possibilidade de transmissão automática (PowerShift). A troca de marchas sem necessidade de atuação do motorista já é oferecida no up! (i-Motion).
Ao ligar o motor, o três cilindros em linha com duplo comando variável emite um som alto, mas agradável. Mesmo que assuste num primeiro momento, o nível de ruído não aumenta tanto durante a condução, isto porque o escalonamento de marchas amplo faz o propulsor trabalhar em rotações mais baixas. Por exemplo, um modelo 1.0 com escalonamento estreito opera a 3.850 RPM a 100 km/h , enquanto o Ka pode andar na mesma velocidade a 3.350 RPM.
Na estrada, o novo Ka mostrou que tem fôlego para brigar com as versões 1.0 de Onix e HB20, com boas retomadas e direção firme. A posição levemente mais alta e o espaço interno contribuem para um experiência satisfatória na viagem pelas retas da rodovia Castello Branco, que limitaram o teste do controle de estabilidade - oferecido pela primeira vez no segmento. Sentimos o carro balançar mais que o normal, ao passar por caminhões e em velocidades mais altas, o que pode ser um efeito da altura ou aerodinâmica.
O painel do motorista é simples, com três mostradores e um pequeno digital, mas já vem com tacômetro mesmo na versão básica. O Sync resolve boa parte das necessidades do usuário com relação ao telefone celular, mas ainda é inferior ao MyLink da Chevrolet. No entanto, para quem gosta de porta-objetos, três soluções foram bem pensadas pela equipa da Ford. Além do já mencionado espaço para encaixar o smartphone (MyFord Dock), o Ka tem um compartimento lateral à esquerda do painel de instrumentos, onde o motorista pode guardar objetos de valor. Com a porta fechada, o espaço não é visto de fora e também impossível de ser acessado caso quebrem o vidro.
A terceira “engenhoca” é um porta-objetos em forma de rede à esquerda dos pés do passageiro, que foi criado para guardar chinelos, sapatos ou qualquer coisa que você não queira ver balançando no assoalho.
No geral, o novo Ka tem ótimas qualidades, mas não se diferencia tanto de Onix e HB20 em performance e visual. Ou seja, ele sai um pouco atrás na corrida, já que os rivais estão bem posicionados. No entanto, o Ka já tem uma história no mercado, novidades de grande valia e um preço competitivo – fatores que podem pesar na escolha. Com a chegada da versão sedã em outubro, o Ka tem potencial para entrar no Top 10 dos mais vendidos, mas liderar talvez seja um passo muito grande.
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Ficha Técnica
Ford Ka SEL 2015 - R$ 39.990
Motor: 1.0 l (três cilindros)
Potência: 80 cv (gasolina) e 85 cv (etanol)
Peso: 1.026 kg
Comprimento: 3.886 mm
Largura: 1.991 mm
Altura: 1.525 mm
Porta-malas: 257 litros
Consumo médio: 13,8 km/l (gasolina) e 9,5 km/l (etanol) no ciclo combinado
Itens de série: ar-condicionado, direção elétrica, vidros e travas elétricas, airbag duplo, freios com ABS e EBD, limpador e desembaçador traseiro, chave canivete, roda de liga leve de 15 polegadas, SYNC Media System, controle eltrônico de estabilidade e tração, assistente de partidas em rampa, faróis de neblina, computador de bordo, alarme, ajuste de altura do banco do motorista