A Stellantis apresentou em Betim, MG, os protótipos de quatro novas plataformas para o período 2024-2030. Serão três novas arquiteturas para carros híbridos e uma para carros totalmente elétricos. Com isso, os carros nacionais das marcas Fiat, Jeep, Peugeot, Citroën, Ram e Abarth entram oficialmente no programa global de descarbonização da Stellantis.
O sistema híbrido flex da Stellantis foi batizado de Bio-Hybrid e já tem até um vistoso logotipo. O nome foi associado ao etanol e a empresa afirma que está pronta para fazer seus motores a combustão totalmente a álcool, se isso representar alguma vantagem para o consumidor.
A grande surpresa foi o anúncio de que até 2030 a Stellantis também produzirá carros elétricos no Brasil. A supermontadora – que lidera os mercados do Brasil e da América do Sul – já tem até uma meta de vendas para seus carros elétricos. O carro terá potência a partir de 90 kW (ou 122 cv) e bateria com capacidade a partir de 45 kWh.
Segundo Antonio Filosa, CEO da Stellantis América do Sul, até 2038 pelo menos 20% dos veículos da Stellantis no Brasil serão totalmente elétricos e “localizados”, ou seja, produzidos no país. Pelos números de hoje, considerando que a Stellantis vende cerca de 606 mil carros/ano, 132 mil veículos desse total serão elétricos a bateria.
Importância do etanol
A grande aposta da Stellantis rumo à transição para os elétricos será o Bio-Hybrid com foco no etanol. Serão três plataformas: Bio-Hybrid (híbrido leve), Bio-Hybrid e-DCT (híbrido full) e Bio-Hybrid Plug-in (híbrido plug-in).
A Stellantis não divulgou quais carros usarão cada plataforma, mas Filosa deu uma dica. Segundo ele, o Bio-Hybrid e o Bio-Hybrid e-DCT devem ser usados principalmente nas marcas mais acessíveis (Fiat e Citroën). O Bio-Hybrid Plug-in e o BEV deverão ser usados nas marcas de maior valor agregado (Jeep e Peugeot).
Filosa destacou a importância da transição usando as vantagens do etanol como biocombustível para que o processo não seja disruptivo e não resulte em fechamento de fábricas, saídas de montadoras e quebra de fornecedores. Destacou também que a América do Sul é rica em minérios que servem de matéria-prima para a produção de baterias para carros híbridos e elétricos.
No Bio-Hybrid, o motor elétrico terá até 3 kW de potência com bateria de 1 kWh de capacidade. No Bio-Hybrid e-DCT o motor elétrico terá de 3 a 16 kW e a bateria terá 1 kWh. No Bio-Hybrid Plug-in o motor terá até 44 kW e a bateria será de alta potência, de até 12 kWh.
Segundo Marcio Tonani, vice-presidente de Engenharia, mesmo que o cliente não abasteça com etanol, o sistema híbrido ajudará a reduzir as emissões de gases. No caso do Bio-Hybrid e-DCT, o motor elétrico fornecerá energia para a partida do motor a combustão e para os primeiros movimentos do carro, reduzindo em 90% as emissões nessa fase, que é a mais poluente.
Durante esse período o catalisador ficará aquecido para reduzir em 98% as emissões quando o motor a combustão estiver tracionando o veículo.
Segundo João Irineu Medeiros, vice-presidente de Assuntos Regulatórios, “o PL7 já é severo e em 2025 o PL8 será ainda mais severo”. Ele se referia aos níveis de exigência da legislação do Proconve, que controla as emissões dos veículos que rodam no Brasil. “Além disso, no trânsito, quando os veículos arrancam e freiam muitas vezes seguidas, a hibridização ajuda a reduzir as emissões”.
Transição inteligente
Filosa e Medeiros fizeram fortes alertas sobre a necessidade urgente de descarbonizar não apenas o setor de transporte, mas também o de outros setores, que são mais nocivos ao clima do planeta, como o agronegócio. Filosa disse que a Stellantis optou por “smart transition ou transição inteligente”, tirando o máximo que o etanol permite, mas que o futuro será mesmo de carros elétricos, inclusive no Brasil.
Ele mostrou esperança de que, após os Bio-Hybrid e os EVs a Stellantis tenha condições de fabricar carros elétricos com célula de combustível a partir do etanol, pois isso está em pesquisa. Atualmente, além do líquido da cana-de-açúcar, as usinas de etanol já aproveitam também o bagaço para a produção de energia.
Por que Stellantis terá elétricos
Ao contrário da GM, a Stellantis decidiu apostar na transição com o Bio-Hybrid. Mas ainda assim conseguiu anunciar antes, e com prazo estipulado, que vai fabricar carros elétricos a bateria, provavelmente em Goiana, PE, utilizando fornecedores que atenderão também à chinesa BYD, que vai produzir elétricos em Camaçari, BA. Mas negou que haja qualquer tipo de acordo entre as duas empresas.
Será possível chegar a 2038 com 20% de carros elétricos? “Acreditamos que haverá uma competitividade maior que reduzirá o custo do carro elétrico”, disse Antonio Filosa. “Como iremos localizar, estaremos protegidos contra variação cambial e taxas de importação. Sabemos que não haverá incentivo do governo para consumo, mas com a escala acreditamos que será possível atingir esses números.”
Com quatro plataformas para híbridos e elétricos, Filosa destacou mais uma vez o compromisso da Stellantis na produção nacional. “A gente não gosta de importar”, disse Filosa. “Não gostamos de colocar dinheiro nos navios que trazem carros para o Brasil, até porque eles também emitem CO2. E também porque é um dinheiro que vai embora, não cria valor nem riqueza para o país.”
O principal executivo da Stellantis na América do Sul disse ainda que a saída da Ford da Bahia prejudicou a Stellantis: “Quando saiu a Ford nós também perdemos, pois alguns fornecedores que estavam no Nordeste não estão mais. Para nós é importante que a BYD produza na Bahia, porque eles trarão fornecedores. E eles estarão próximos de Pernambuco, que é onde a gente está.”