A Volkswagen finalmente começou a vender carros elétricos na América Latina. Mas faz uma estreia bastante modesta, considerando os produtos que oferece na Europa e o carro destinado ao Uruguai, país que abre a operação EV no continente. Para quem tem uma nova geração de carros elétricos, como os ID.3, ID.4, ID.4X e até a nova Kombi elétrica (ID. Buzz), começar com o Up elétrico é um balde de água fria.
Segundo um comunicado da Volkswagen, o subcompacto e-Up é o primeiro modelo 100% elétrico a ser vendido na América Latina e chega ao mercado uruguaio importado de Zwickau, na Alemanha. “O Uruguai é hoje o palco em que a Volkswagen faz história pela eletrificação de nossa marca na América do Sul”,disse Thomas Owsianski, vice-presidente de vendas e marketing da região SAM.
Faz história, mas de forma modesta. Afinal, trata-se de um carro que não tem futuro na Volkswagen global e que fracassou no Brasil. Foi descontinuado depois de introduzir bons itens de segurança, mas não empolgou o público. Se não empolgou os brasileiros, apesar da boa dinâmica do modelo e da ótima performance do motor 1.0 TSI, por que irá empolgar os uruguaios?
“Após um ano de rigorosos estudos e testes, iniciamos as vendas do e-Up em um país que tem infraestrutura para garantir o sucesso de nossa estratégia”, completou Owsinski. O carro é importado pela empresa Julio César Lestido S.A..
O Volkswagen e-Up que chega ao Uruguai tem alcance de 260 km, o que é bom para um veículo urbano. O carro pesa apenas 1.160 kg. O e-Up entrega 61 kW (83 cv) de potência e torque instantâneo de 212 Nm. Ele acelera de 0 a 100 km/h em 11,9 segundos e atinge 130 km/h. São números competitivos perante modelos como o Renault Kwid E-Tech e Jac E-JS1, vendidos no Brasil.
Segundo a Volkswagen, o hatchback ID.3 e o SUV ID.4, já apresentados no Brasil e também no Uruguai, fazem parte da estratégia para a região. Mas, por que a escolha do e-Up é decepcionante? Porque a Volkswagen foi a única grande marca a estrear no segmento de elétricos com uma adaptação e não com um projeto novo – embora já tenha vários à venda na Europa e na China.
A Nissan estreou com o Leaf, criado para ser elétrico. A Renault estreou com o Zoe, também elétrico desde sua criação. Audi, Porsche, Volvo e BMW também entraram no segmento de elétricos com modelos inéditos. A popular Chevrolet idem, com o modelo Bolt EV. Também a Fiat entrou no mercado com uma nova geração do Cinquecento, o 500e.
A Volkswagen segue a mesma estratégia da Caoa Chery, da Jac Motors e da Mini, que começaram com modelos adaptados. No caso da Mini, pelo menos foi um modelo que está em alta nas vendas, e com todas as atualizações da nova geração.
No caso do Volkswagen e-Up, sua escolha mostra enorme cautela da marca para colocar a América do Sul no novo mundo real, o da eletrificação. Vale lembrar que a Volkswagen lidera a ideia de investir em carros híbridos com etanol para fazer sua rota da descarbonização até 2050 (ano estipulado pela marca para zerar a emissão de carbono).
Isso significa 15 anos de atraso em relação à GM (Chevrolet e outras marcas). Pode fazer sentido na questão comercial ou industrial, mas também revela que a Volkswagen não enxerga a América do Sul como palco para seus novos e maravilhosos carros – destinados, por enquanto, somente ao Hemisfério Norte do mundo.
Talvez os consumidores uruguaios sejam as cobaias de um novo experimento chamado e-Up, como ocorreu com os brasileiros que compraram o Volkswagen Golf GTE, primeiro híbrido plug-in da marca que deu as caras por aqui só depois que uma nova geração foi lançada na Europa.