Ainda em fase de protótipo, foi testado no Brasil pela primeira vez, nesta quarta-feira, um carro com capacidade de se “autodirigir”. O projeto, batizado de "Drive Me", é da sueca Volvo Cars, que espera comercializá-lo a partir de 2018.
O protótipo foi apresentado à imprensa em uma fazenda de Itupeva (78 km de São Paulo) com teste de estrada – cerca de 8 km de percurso de ida e volta, no asfalto. De acordo com a montadora, em 2017 um total de cem veículos com condução autônoma será disponibilizado a consumidores na Suécia antes de os modelos irem definitivamente às lojas. É uma espécie de prova final para ajustes – já que a tecnologia que garante algum tipo mais ou menos moderado de autonomia ao veículo vem sendo adotada já desde 2006.
De acordo com o diretor de assuntos governamentais e serviços aos clientes da Volvo Cars Brasil, Jorge Mussi, a previsão é que, tão logo aconteça o lançamento no mercado sueco, em até seis meses seja feito o mesmo no Brasil. “Mas alguns equipamentos como radares, por exemplo, dependem do prazo de homologação da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), que é relativamente alto se comparado ao de outros países”, observou.
Os custos também são uma incógnita para o consumidor brasileiro: pelos cálculos da montadora, em média, a tecnologia que garantirá autonomia aos veículos – dentre as quais, câmeras externas, radares e um GPS de altíssima precisão –acrescerá ao valor final dos modelos cerca de 2 mil euros (aproximadamente R$ 6,5 mil). Mas a carga tributária do País em relação ao produto importado, hoje de 35%, não deverá ser ignorada.
Além dos testes para o lançamento no mercado europeu, o carro autônomo enfrenta outros obstáculos a serem superados, admite a montadora. Entre eles, estão os aspectos legais e a infraestrutura das cidades –a qual permita, por exemplo, a comunicação entre veículos que disponham da tecnologia através de um sistema integrado de dados de trânsito integrado.
“Ao menos 90% dos acidentes acontece por falha humana. O projeto vai conseguir modular essa falha e corrigir a possibilidade de erro – a ponto de nosso objetivo é não ter mortes ou vítimas graves em carros da Volvo até 2020”, definiu o executivo. Ele se refere ao fato de, na tecnologia em desenvolvimento, o veículo ser capaz, por exemplo, de registrar, via radar, a aproximação de pedestres, de motos, nas laterais e à frente, bem como de parar a tempo de evitar colisões.
Fases da autonomia
Atualmente, a marca vive a chamada primeira fase do carro autônomo, com controle automático de freios e acelerador. A indústria automobilística definiu que essa etapa, atual no mercado, vigore até 2016. A fase 2, prevista para o período 2015/2019, prevê a substituição parcial do motorista com controles automáticos de volante adicionados aos de acelerador e de freio. A fase 3, a do carro praticamente autônomo, de 2018/2022, estima que o motorista seja capaz de largar o volante em condições normais de trânsito para que o veículo faça o trabalho. A fase 4, de automação total, ainda é citada apenas como “a da sociedade utópica” em função da carência de infraestrutura urbana e tecnológica para tal.
Conforme a montadora, o projeto Drive Me se insere na fase 3 da autonomia, com elementos da fase 4. “Já há, por exemplo, um sistema de comunicação entre os veículos e um GPS com tolerância de 10 cm, quando os normais são de 10 metros, e uma possibilidade de distâncias bem menores de um carro ao outro sem risco de acidentes”. Em condições de aceleração a 90km/h, por exemplo, a segurança automotiva estabelece como distância segura o espaço de 75 metros. No carro autônomo, essa distância cai para 6 metros –e com garantia de tráfego no “vácuo” do veículo à frente, aumenta, defende a montadora, as chances de economia de combustível. A média prevista é a de um consumo até 14% menor.
No material exibido à imprensa, um último recurso do carro que se “autodirige” foi apresentado como vantagem: a conectividade. “Quando a próxima geração tiver idade suficiente para dirigir, a condução autônoma os manterá permanentemente conectados”, diz uma das mensagens.
O que falta? “Falta a utilização do carro em condições reais, nas quais não são os nossos engenheiros, mas os consumidores normais os conduzindo e tendo reações espontâneas às emergências”, concluiu diretor.
Especialista elogia projeto
Presente ao teste, o especialista em mobilidade urbana Lincoln Paiva disse acreditar que a tecnologia em teste “está posta para um futuro muito próximo”. “Há coisa de 20 anos, as pessoas não acreditavam que a automação bancária fosse dar certo, e deu. As cidades delegaram a responsabilidade pelos deslocamentos aos carros, sobretudo em curtas distâncias, e o maior aliado deles precisa ser o transporte público. Mas uma coisa não exclui a outra”, definiu Paiva, para quem o viés sustentável do projeto apresentado pode ser um fator de agregação das pessoas em torno do espaço público.
“Reduzir a velocidade dos automóveis e reduzir a poluição e o ruído deles são coisas fundamentais para que as pessoas voltem às ruas e se permitam um olhar diferente para ela”, resumiu.