Demorou 108 anos para que a principal entidade de futebol do Brasil tivesse uma mulher como diretora, mas no dia 26 de abril Luísa Rosa entrou para a história. A arquiteta foi nomeada Diretora de Patrimônio da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), e falou com exclusividade ao Papo de Mina sobre o convite, sua experiência na função e as mudanças que espera dentro da confederação.
A indicação da executiva acontece em um momento em que a CBF tenta “limpar” a imagem de seu último presidente. Afastado do cargo no ano passado, Rogério Caboclo foi denunciado por assédio sexual e moral por funcionários e ex-colaboradoras.
“Com toda certeza é para transparecer que talvez a CBF esteja vivendo realmente um novo momento”, afirma Luísa, que ressalta que sua nomeação faz parte de uma mudança que está acontecendo na nova gestão, com Ednaldo Rodrigues à frente da entidade desde março de 2022.
Com doze anos de experiência na área de arquitetura esportiva, passagem pelo Comitê Organizador da Copa do Mundo do Catar e há dois anos na CBF, a especialista em arenas assegura que foi escolhida em função de seu histórico e currículo. “Mais uma questão de capacidade, mostrar tudo que foi feito, do que simplesmente intitular por necessidade de colocar uma mulher num cargo”.
Avanço feminino e preconceito na área
Apaixonada pela profissão, Luísa faz questão de ressaltar que a nomeação é “um reconhecimento para além de ser mulher, mas da área de arquitetura esportiva, de infraestrutura dentro da CBF também.”
Segundo ela, quando entrou na área eram pouquíssimas profissionais do sexo feminino, mas a presença tem aumentado a cada dia. E a escolha inusitada pelo nicho esportivo dentro da arquitetura gera mais curiosidade e questionamentos do que o fato de ser mulher.
“Quando eu falo que sou arquiteta esportiva, a primeira pergunta das pessoas não é nem pelo fato de eu ser mulher, na verdade. As pessoas me perguntam 'o que é isso?'. É a primeira resposta que eu tenho”, conta.
O machismo, infelizmente, não deixa de acontecer. Mas diferente do esperado, apareceu mais em ambientes de obras do que no futebol. A explicação, de acordo com Luísa, é que o “mundo de Copa do Mundo”, no qual ela passou boa parte da carreira, é "bastante evoluído e internacionalizado”, com bastantes mulheres presentes.
Na CBF, inclusive, a executiva destaca que há muitas mulheres em diferentes cargos, e é otimista quanto à possibilidade de ter uma representante feminina na presidência da entidade. “Seria um marco, como foi quando a gente teve a primeira presidente do Brasil, a primeira secretária geral da Fifa mulher. Cada vez mais espero que essa notícia seja dada logo”.
Mas essa é uma história que ela pretende apenas acompanhar de perto, e não vivenciar. “Não tenho ambição. Sou bastante técnica da minha área de infraestrutura, e um presidente da CBF tem muito mais uma questão de competição, de operação de jogos, de entendimento com clubes, e eu prefiro ficar na minha área, cuidado dos estádios, dos centros de treinamento e academia”, argumenta.