7 personagens de novela que são o pesadelo das feministas

Com tramas ultrapassadas e ações confusas, elas desagradam ao perpetuar ideais machistas sobre o que é ser mulher

13 jun 2023 - 05h00
Em "Terra e Paixão", Lucinda é constantemente cobrada para romper relação abusiva
Em "Terra e Paixão", Lucinda é constantemente cobrada para romper relação abusiva
Foto: Divulgação/TV Globo

As novelas, ainda nos dias de hoje, reforçam ou perpetuam preconceitos e estereóticos. Terra NÓS selecionou alguns exemplos que se chocam com as ideias feministas ao mostrar situações antiquadas ou até mesmo inaceitáveis em relação à mulher. Confira:

Lucinda: trama equivocada sobre violência doméstica

Publicidade

Vítima de violência doméstica nas mãos de Andrade (Ângelo Antônio) em "Terra e Paixão", Lucinda (Débora Falabella) volta e meia é questionada pelos moradores da cidade fictícia da novela das 9 sobre o fato de ainda permanecer com o marido. Apesar de ser louvável uma trama em horário nobre abordar um assunto tão sensível a milhões de brasileiras, alguns diálogos têm um viés machista e julgador em relação às escolhas da personagem. Para piorar, a história prevê um romance entre Lucinda e o delegado Marino (Leandro Lima), o que insinua nas entrelinhas que uma mulher não é capaz de se livrar sozinha de uma situação de violência. Num capítulo recente, ele a abordou de uma maneira extramente sexista e machista ao comentar que Lucinda "é uma mulher linda e que merece ser bem tratada" - como se aparência pudesse determinar a maneira de se tratar uma mulher. E o filho com albinismo é colocado como mais um "fardo" que Lucinda tem de carregar.

Marido abusador vai dar lugar a delegado galanteador: mulheres precisam de um homem para salvá-las?
Foto: Divulgação/TV Globo

Helena: mulher apaixonada ou egoísta?

Que as Helenas de Manoel Carlos são adoravelmente imperfeitas, todo mundo que gosta de novela está cansado de saber. No entanto, a protagonista de "Mulheres Apaixonadas", no ar no "Vale a Pena Ver de Novo", é um poço de contradições e atitudes egoístas que tornam difícil qualquer traço de simpatia por ela. Vivida por Christiane Torloni, a personagem clama pelo direito de ser feliz no amor o tempo todo, mas demonstra responsabilidade afetiva zero com quem a cerca. Trata, por exemplo, a irmã Heloísa (Giulia Gam) como louca e chata, em vez de ajudá-la a lidar com a dependência emocional do marido.

Helena só pensa em si mesma e despreza necessidades de marido, ex-amante e até da irmã
Foto: Divulgação/TV Globo

Jenifer: feminismo x régua moral

Publicidade

"Vai na Fé", na faixa das 7 da Rede Globo, é uma das novelas mais feministas dos últimos tempos e tem abordado temas importantes para as mulheres como estupro e relacionamentos abusivos. Embora irrite muitas ativistas com seu moralismo mergulhado em preceitos religiosos, Jenifer (Bella Campos) é uma heroína rica e bastante realista com seus erros e acertos. Espécie de "Grilo Falante" na orelha dos outros personagens, por sempre ser a certinha a apontar os equívocos alheios, Jenifer é bem menos criteriosa na hora de avaliar a própria conduta e exigir que respeitem suas escolhas.

Julgadora nata, Jenifer exige compreensão e carinho com os próprios erros
Foto: Reprodução/TV Globo

Graça: golpe da barriga de novo?

Em "Terra e Paixão", Walcyr Carrasco mais uma vez reproduz um clichê tão antigo quanto a história da teledramaturgia - usado, inclusive, em outras de suas novelas: o da mulher que engravida ou forja uma gravidez para forçar um homem a ficar com ela. Dessa vez, quem se coloca nessa posição degradante é Graça (Agatha Moreira), que vai engravidar do amante para enganar o noivo, Daniel (Johnny Massaro). Trata-se de uma situação batida e, no mínimo, de mau gosto num país em que a discussão sobre os direitos reprodutivos é subestimada e onde cerca de 500 crianças são registradas por dia sem o nome do pai na certidão de nascimento, segundo dados da Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen).

Golpe da barriga de Graça em "Terra e Paixão" é recurso que já deveria ter caído em desuso
Foto: Divulgação/TV Globo

Raquel: vítima e algoz

"Mulheres Apaixonadas" foi exibida pela primeira vez pela Rede Globo em 2003 e, repercussão à parte, mostra algumas situações que já pegavam um pouco mal naquela época, mas que hoje em dia confirmam que envelheceram muito mal. Uma delas é a trajetória de Raquel (Helena Ranaldi) na novela. Se de cara a professora de natação atrai a empatia do público por causa das raquetadas de Marcos (Dan Stulbach), por outro é preciso rever o quão problemático foi o envolvimento dela com Fred (Pedro Furtado), um aluno menor de idade de quem ela acaba engravidando. Alguns diálogos em que ela se refere várias vezes a ele como "amigo" podem ser tidos com exemplos claros de grooming, prática de aliciamento infantil que consiste em estabelecer uma conexão emocional com uma criança para facilitar abusos.

Vítima de violência, Raquel foi abusadora em relação com aluno
Foto: Divulgação/TV Globo

Joyce: amante sempre leva a culpa

Publicidade

De "Dancin' Days" (1978) a "Celebridade" (2003), não foram poucas as novelas que saciaram a veia vingativa do telespectador ao levar ao ar mulheres se estapeando como se estivessem num ringue de luta livre. O recurso, atualmente, é adotado com menor frequência justamente por conta das críticas dos grupos feministas, que vêem na rivalidade feminina um dos principais alimentos do machismo e do patriarcado. Mas, de tempos em tempos, retoma o horário nobre com cenas de arrepiar os cabelos como a de "A Força do Querer" (2017): Joyce (Maria Fernanda Cândido) dá uma surra em Irene (Débora Falabella), amante de seu marido, com a ajuda de Ritinha (Ísis Valverde). Para terror das feministas (e do bom senso), sequências como essa transmitem o clichê de "pivô de fim de relacionamento" sempre vinculado às mulheres, enquanto os homens comprometidos saem ilesos nos casos de traição. A novela ainda teve Bibi Perigosa (Juliana Paes) se engalfinhando com Carine (Carla Diaz) por causa de Rubinho (Emílio Dantas).

Mulheres se engalfinhando por causa de homem e o mito machista da rivalidade feminina
Foto: Reprodução/TV Globo

Guta: faça o que eu digo, não o que eu faço

A personagem do remake de "Pantanal" (2022) foi rejeitada pelo público por ser panfletária demais sem que o discurso correspondesse à realidade. Feminista de carteirinha, Guta (Julia Dalavia) foi chamada de "falsa progressista", "feminista de apartamento", "palestrinha" ou simplesmente "chata" no decorrer da trama por falar demais sem levar em conta o contexto em que vivia, as próprias origens e a história da mãe, Maria Bruaca (Isabel Teixeira).

Guta não engajou com discurso no remake de "Pantanal"
Foto: Reprodução/TV Globo
Fonte: Redação Nós
TAGS
Fique por dentro das principais notícias
Ativar notificações