A irmandade de mulheres negras que pode ser 'arma secreta' de Kamala Harris

Cerca de quatro milhões de integrantes do grupo Divine Nine podem reforçar campanha em prol de Kamala Harris.

26 jul 2024 - 18h59
(atualizado em 29/7/2024 às 09h38)
A vice-presidente americana é membro da irmandade de mulheres negras mais antiga do país
A vice-presidente americana é membro da irmandade de mulheres negras mais antiga do país
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Uma eventual presidência de Kamala Harris nos Estados Unidos pode romper muitas barreiras. Uma delas é que ela poderá ser a primeira mulher membro de uma irmandade negra a ocupar a Casa Branca.

Na última quarta-feira (24/7), a atual vice-presidente americana discursou na convenção anual da irmandade Zeta Phi Beta. Ela é membro vitalício da comunidade Alpha Kappa Alpha.

Publicidade

As duas organizações fazem parte das irmandades e fraternidades (grupos sociais em faculdades e universidades) predominantemente negras que compõem o Conselho Nacional Pan-Helênico.

Comumente denominadas Divine Nine (as "Nove Divinas"), elas reúnem cerca de quatro milhões de membros e estão preparadas para ser a arma secreta da candidatura de Kamala Harris à Casa Branca.

Menos de 24 horas depois de Joe Biden endossar sua vice para buscar a nomeação do Partido Democrata no seu lugar, o grupo se comprometeu a lançar um movimento "sem precedentes de mobilização, educação e registro de eleitores".

O Conselho Nacional Pan-Helênico é uma organização sem fins lucrativos e, por isso, apartidária. Ou seja, ele não pode apoiar Harris oficialmente.

Publicidade

Mas a entidade promete uma campanha que "irá ativar os milhares de membros e divisões das nossas respectivas organizações, para garantir forte comparecimento dos eleitores nas comunidades que atendemos".

As Divine Nine já apoiaram Harris no passado, durante sua ascensão na política nacional.

Membros da irmandade Zeta Phi Beta aplaudem Kamala Harris em seu discurso, na quarta-feira (24/7)
Foto: AFP / BBC News Brasil

As fraternidades e irmandades nos câmpus universitários americanos são normalmente associadas a jovens brancos, homens ou mulheres, que vivem juntos em casas comunitárias, tomando bebidas alcoólicas em copos descartáveis vermelhos.

Mas, na virada do século 20, surgiram irmandades negras identificadas por letras gregas. Seu objetivo era servir de sistemas de apoio, oferecendo vínculos entre estudantes negros que sofriam segregação e isolamento social, em universidades majoritariamente brancas.

A primeira fraternidade negra, Alpha Phi Alpha, começou como um grupo de estudos em 1906, na Universidade Cornell, no Estado americano de Nova York, segundo o livro The Divine Nine: The History of African American Fraternities and Sororities ("As Nove Divinas: a história das fraternidades e sororidades afro-americanas", em tradução livre), de Lawrence C. Ross.

Publicidade

Seus membros incluíram o líder dos direitos civis Martin Luther King Jr. (1929-1968), o ex-juiz da Suprema Corte americana Thurgood Marshall (1908-1993) e o medalhista de ouro olímpico Jesse Owens (1913-1980).

Kamala Harris entrou para a Alpha Kappa Alpha, a irmandade de mulheres negras mais antiga do país, quando era estudante do quarto ano da Universidade Howard, em Washington. Segundo ela, aquela experiência "mudou a minha vida".

Membros da Alpha Kappa Alpha apoiaram sua irmã Kamala Harris na pré-candidatura à presidência em 2019, que não foi adiante
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Tanto coletivamente quanto nas suas organizações individuais, as Divine Nine se organizam em torno de valores comuns de educação acadêmica, engajamento cívico e serviço comunitário.

As irmandades já defenderam de tudo, desde leis federais contra linchamentos e o voto feminino, até o monitoramento no ensino médio e oportunidades de auxílio financeiro para jovens negros, segundo o livro de Ross.

Publicidade

Seus membros são vitalícios, o que, segundo o autor, é algo "quase espiritual" e "faz você perceber que sua vida na Terra tem mais significado do que apenas suas próprias necessidades egoístas".

Sobre sua ligação com a AKA, Harris declarou em 2019:

"Ao longo de toda a sua vida, você encontra amigos que se tornam família e, como a família, eles ajudam a moldar você e suas experiências de vida. Para mim, foram as mulheres da Alpha Kappa Alpha Sorority, Inc. que se tornaram minhas irmãs."

Harris era então senadora pelo Estado da Califórnia. Naquele ano, ela lançou sua campanha para a presidência. Suas "irmãs" pediram votos para as pessoas, porta a porta e por telefone.

Quando ela se tornou candidata a vice de Biden, imagens de membros da AKA e de outras irmandades Divine Nine, usando sapatos de salto alto e colares de pérolas, viralizaram em sua Caminhada para as Urnas em Atlanta, no Estado americano da Geórgia.

Publicidade

A chapa de Biden e Harris conseguiu uma vitória apertada no Estado, alavancada, em parte, pelo forte comparecimento negro às urnas.

A vice-presidente se reuniu com o conselho de presidentes das irmandades Divine Nine em 2021
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

A candidatura de Harris para as eleições de novembro de 2024 tem apenas alguns dias, mas o apoio de suas irmãs já está causando efeitos.

Em uma ligação pelo Zoom na noite de domingo (21/7), o grupo chamado Win With Black Women ("Vença com as Mulheres Negras"), que inclui diversos membros das Divine Nine, ajudou a levantar, em cerca de três horas, mais de US$ 1 milhão (cerca de R$ 5,6 milhões) para a campanha em formação.

"As pessoas estão simplesmente cheias de energia", declarou uma das líderes da AKA, Crystal Sewell, à CBS News, emissora parceira da BBC nos Estados Unidos. "E muito, muito animadas sobre as possibilidades em relação à vice-presidente Harris e sua candidatura."

Harris está incorporando esse entusiasmo. Ela tenta fazer história como a primeira mulher presidente dos Estados Unidos.

Falando para 6 mil entusiasmadas mulheres da irmandade Zeta Phi Beta, em um centro de convenções em Indianápolis (Indiana, EUA), Harris prometeu na quarta-feira (24/7) que "não estaremos de brincadeira", se ela vencer Donald Trump em novembro.

Publicidade

Seu discurso de abertura da convenção havia sido programado semanas atrás. Mas a vice-presidente aproveitou a oportunidade para definir os desafios da sua candidatura, mencionando temas como o aborto, o controle de armas e o Projeto 2025 de Donald Trump.

"Temos uma escolha entre duas visões diferentes para o nosso país", declarou ela à multidão. "Uma voltada para o futuro, a outra voltada para o passado. Com o seu apoio, vou lutar pelo futuro da nossa nação."

"Vamos continuar lutando", acrescentou ela, "porque, quando lutamos, nós vencemos."

BBC News Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização escrita da BBC News Brasil.
TAGS
Fique por dentro das principais notícias
Ativar notificações