Documentário do Globoplay narra investigação e julgamento de ex-jogador Robinho e outros envolvidos em caso de estupro coletivo na Itália.
No documentário "O Caso Robinho", lançado no Globoplay nesta quarta-feira, 30, é narrada a investigação e julgamento do ex-jogador de futebol Robinho e de outros envolvidos no caso de estupro coletivo ocorrido na Itália em 2013. Ao longo dos episódios, depoimentos e provas revelam uma série de atos e omissões que culminaram na condenação de Robinho e Ricardo Falco.
A polícia visitou a casa de Robinho, apreendendo equipamentos que pudessem conter registros da noite do crime e convocando-o para depoimento. A esposa de Robinho, Vivian, também foi chamada para relatar o que sabia sobre o ocorrido.
Mercedes, vítima do estupro, falou sobre o sofrimento até decidir denunciar o crime. Ela compartilhou como o trauma influenciou a demora na denúncia. "Eu queria esquecer aquilo. E um pouco porque eu não me sentia limpa. De alguma forma, eu me culpava. Acho que qualquer vítima procura se culpabilizar."
As provas
Nos áudios interceptados, Robinho e amigos discutiram sobre as câmeras da boate Sio Cafe, em Milão, onde ocorreu o ataque. "Evidentemente, eles estavam contentes que a câmera não estava funcionando, porque se estivesse, teria filmado algo problemático", disse Jacopo Gnocchi, advogado de Mercedes.
Jacopo também mencionou que não se sabe se substâncias foram adicionadas à bebida da vítima, que chegou a perder a consciência em alguns momentos. "O argumento de que ela tinha bebido é bastante delicado, porque uma mulher ter bebido muito não significa que alguém possa fazer o que quiser", ressaltou
O vestido usado por Mercedes na noite do crime foi incluído como prova. A polícia encontrou sêmen de Ricardo Falco e de uma outra pessoa não identificada, mas não de Robinho. A primeira audiência ocorreu na ausência de ambos os réus, que não estavam na Itália.
"Quando eu li as [as transcrições das] escutas, chorei de alívio. Foi libertador. Depois li outra vez. E foi então que entendi melhor o que diziam. Porque, inicialmente, a gente não percebe bem. Mas depois de ler várias vezes. Não sei. A própria maneira como eles falam, diminuindo o que aconteceu, achando que vão sair ilesos, se safar, que não vai acontecer nada... Acho que, se não fosse pelas escutas, nunca teriam descoberto o que aconteceu", relatou a vítima.
Julgamento final
Robinho e Falco foram condenados em primeira instância em 2017. Outros envolvidos, como Rudney, Alex, Clayton e Galan, não foram julgados. Na segunda instância, em 2020, os advogados de defesa apresentaram um dossiê com fotos da vítima.
"Pegaram fotos minhas das redes sociais em que havia um copo em cima da mesa ou alguma outra coisa e me descreveram como uma 'mulher fácil'. Ridículo. Eu entendo que eles também precisavam fazer o trabalho deles, mas foi jogo sujo, uma atitude muito baixa", contou Mercedes.
O julgamento em última instância aconteceu em 2022, quando Robinho e Falco foram condenados a 9 anos de prisão por estupro coletivo. "Havia passado muitos anos. A Justiça tinha sido feita, mas eu não conseguia superar o que tinha acontecido. Acho que não é possível superar", afirmou Mercedes.
Este ano, o STJ homologou a sentença italiana contra Robinho e Ricardo Falco, que atualmente estão presos em São Paulo. Segundo Mercedes, ela espera que seu testemunho seja útil. "Não para que eles sejam condenados de novo pela imprensa ou para humilhar alguém. Quero que sirva de aprendizado. Porque, no final das contas, é muito fácil chegar à sentença, chegar à condenação. O certo seria que parassem antes, que essas coisas não acontecessem. É preciso trabalhar isso", destacou.
"Hoje, a minha vida é bonita. Eu vivo com uma pessoa maravilhosa. Somos muito frágeis, não é? E algumas decisões são reflexos dessa fragilidade. Também erramos. Mas, quando passa essa fase, tudo renasce", finalizou Mercedes.