"A não-binariedade não é a busca pela neutralidade dos símbolos", diz Juvi Chagas

Criadora de conteúdo e musicista, Juvi ganhou destaque nas redes sociais listando "top 5" coisas de assuntos variados

16 fev 2024 - 05h00
Juvi Chagas ganhou destaque nas redes sociais com as famosas listas "top 5" de coisas aleatórias
Juvi Chagas ganhou destaque nas redes sociais com as famosas listas "top 5" de coisas aleatórias
Foto: Reprodução: Instagram/oijuvi

Desde 2014, Juvi Chagas, de 32 anos, natural de Volta Redonda, no Rio de Janeiro, produz conteúdo para a internet sobre diversos assuntos. Inicialmente, ela tinha um canal do YouTube no qual falava sobre música e, um tempo depois, começou a abordar temas como arte, comportamento e filosofia. Durante a pandemia, passou também a publicar vídeos curtos e ganhou destaque com as famosas listas "top 5" de coisas aleatórias.

Quem assiste aos seus vídeos de listas na internet, já tem uma ideia da sagacidade de Juvi. Mas nem todo mundo conhece a história de autoconhecimento que ela precisou percorrer. Com o tempo, suas referências mais amplas e sua vivência lhe deram potência para mostrar quem é de verdade: uma pessoa não-binária. O processo, no entanto, foi longo e a criadora de conteúdo tem duas visões sobre ele.

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"A primeira foi quando descobri o termo não-binário e entendi que eu me encaixava naquilo. Estava numa época em que passava por questões pessoais, onde não sabia quem eu era e o que eu era, mas sabia que não era uma pessoa cis", diz, em entrevista ao Terra NÓS.

"E tem a outra visão de que eu sempre fui e sempre me reconheci assim. Mas não me permitia ser na expressão de gênero. Fui uma pessoa evangélica até os 21 anos de idade, então existiam várias barreiras muito grandes mesmo depois que saí da igreja", completa. 

O que é uma pessoa não-binária? O que é uma pessoa não-binária?

Essas barreiras fizeram Juvi criar um personagem para se encaixar na sociedade atual. Inserida em um ambiente conservador e preconceituoso, ela chegou a reproduzir certas violências, mas, após entrar na faculdade, a sua mente mudou.

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"Tive que ir tirando essas cascas do personagem. No fundo, eu me violentava muito. E conforme fui entendendo isso e tirando essa mente conservadora que foi implantada na minha cabeça, eu me entendi como uma pessoa não-binária", narra a produtora de contéudo, que utiliza os pronomes ela/dela e elu/delu.

Outro estalo que a inspirou, aos 14 anos, foi a banda de rock japonesa Malice Mizer, cujo guitarrista era uma pessoa não-binária.

"O processo de se reconhecer cada vez como você, às vezes, é doloroso, mas na maioria das vezes faz com que você se torne uma pessoa melhor."

Juvi Chagas cresceu em um ambiente conservador e já chegou a reproduzir certas violências
Foto: Reprodução: Instagram/oijuvi

Durante esse processo de descoberta, o que Juvi também notou foi a escolha de nomes neutros em jogos online. "Os meus nomes eram neutros, nomes não-binários. E sempre que eu podia escolher o sexo do personagem, escolhia o feminino", relembra.

"E é muito interessante falar sobre isso, sobre o pronome ela/dela e as questões das roupas femininas, porque a não-binariedade não é a busca pela neutralidade dos símbolos como as pessoas veem, mas uma neutralidade de acordo com quem você é e como a sociedade acaba te lendo erroneamente como uma pessoa cis", destaca. 

"A balança está desequilibrada. Então, no meu caso, eu coloco ingredientes na expressão de gênero feminina para deixar essa balança equilibrada."

Segundo Juvi, muitas pessoas a confundem com uma mulher trans por usar roupas consideradas femininas. "Digo que não sou, porque eu boto alguns ingredientes femininos, mas eu tenho outros ingredientes do masculino aqui", explica. 

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Não-binariedade nas redes sociais

Após se entender como uma pessoa não-binária, Juvi começou a abordar o tema nas redes sociais aos poucos. Na época, até os seus amigos não sabiam. 

"A primeira coisa que fiz foi começar a me tratar diferente, pelo ela/dela. Então comecei a falar 'eu estou cansada', 'estou ansiosa' e as pessoas entenderam isso naturalmente, tanto nas redes sociais quanto no meu convívio", diz. Com o tempo, inseriu na bio do Instagram ser uma pessoa não-binária. 

Seu nome é Juvi 

Além disso, no final de 2022, Juvi mudou o seu usuário nas redes sociais, que antes era composto pelo nome que recebeu após o nascimento. Era algo que e a incomodava, sobretudo depois do sucesso na internet. 

Há quem pense que Juvi Chagas é só um apelido da criadora de conteúdo, mas ela ressalta que é o seu nome verdadeiro e retificado na carteira de identidade.

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"Isso me traz muito mais segurança na vida pessoal e, principalmente, politicamente, para mostrar que pessoas não-binárias existem e que isso é reconhecido pelos órgãos", afirma.

"A normalidade de ser uma pessoa não-binária é muito mais interessante para a conscientização do que estar sempre no mesmo assunto", diz Juvi Chagas
Foto: Reprodução: Instagram/oijuvi

A "webnamorada do Brasil", como ela mesma se chama no Instagram, já produziu uma série de vídeos sobre a não-binariedade e a questão dos pronomes. Mas sua ideia é não se pautar em um tema único. 

"Gosto muito de não pautar as minhas redes sociais como 'a rede social' que vai falar só sobre a não-binariedade. Faço várias coisas e acho que a normalidade de ser uma pessoa não-binária é muito mais interessante para mim e para a conscientização do que ser pedante e estar sempre no mesmo assunto."

De acordo com ela, pessoas não-binárias devem estar em todos os lugares e falando sobre diversos assuntos, desde a culinária até o humor. Dessa forma, aos poucos, os espaços serão ocupados naturalmente.

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Os "top 5" de alguma coisa

Um exemplo disso é o "top 5". Durante a pandemia, ela começou a produzir vídeos curtos para o TikTok com a intenção de se divertir. Certo dia, em um churrasco com as amigas, teve a ideia de fazer uma lista de "top 5", o quadro mais famoso das suas redes sociais, sobre nomes ruins pelos quais os namorados se chamam, como "anjo", "boy" e "vida".

"Foi o primeiro vídeo que fiz e já deu super certo, foi meio que um viral, mas é porque eu já tinha uma base de seguidores. E depois pensei: 'eu vou fazer outro desse'. Até que chegou no ponto em que lançava uns dois ou três 'top 5' por dia", conta ao Terra NÓS.

O seu vídeo favorito dessa lista foi justamente o que lhe deu mais destaque na mídia: "O top 5 posições no top 5".

Outros talentos

Atualmente morando em São Paulo, ela não quer ser definida por sua não-binariedade e, assim como pessoas cis, Juvi tem outros talentos e ocupações que vão além de falar sobre pessoas não-binárias nas redes sociais. Ela trabalha com música e sound design, que é a arte de criar sons e efeitos sonoros para produtos audiovisuais, como jogos e filmes. Um de seus trabalhos como sound designer foi para a Disney.

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"Também fazia a trilha sonora do RPG 'Ordem Paranormal' e depois eu saí do projeto. Estou me dedicando só às trilhas sonoras de exposições de arte. Fiz da 'Oceanvs' que estava em Belo Horizonte no espaço Fiat e também da Metadata, que está até março em São Paulo, na Fiesp", diz. 

No 20 de fevereiro, Juvi Chagas vai lançar o disco que se chama "Músicas pra Ex, Vol. 2", seu projeto de hiperpop no qual mistura alguns gêneros brasileiros. "Trago músicas que questionam justamente esse status quo de gênero. Sexualidade, capitalismo e saúde mental", comenta ela sobre o álbum visual.

"E a ideia é, no futuro, fazer shows com essas músicas. Eu já estou preparando a minha superbanda. Então, vem muita coisa pela frente e 2024 é o ano de mostrar o meu lado da música junto com o meu lado das redes sociais", finaliza Juvi.

O que são pessoas não-binárias?
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Fonte: Redação Nós
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