A advogada criminalista Lalesca Moreira compartilhou nas redes sociais nesta semana comentários em suas publicações com mensagens preconceituosas em relação às suas vestimentas dentro de júris e audiências públicas. "Baiana do Acarajé" e "lençol na cabeça" são algumas dessas frases.
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"Desde que fiz minha inicialização no Candomblé, preciso ficar um ano vestindo branco e com a cabeça coberta, além de usar um contregum e a umbigueira. Não posso sair de casa sem", explica ela sobre o processo de "fazer santo" da sua vertente, a unzo mean dandalunda, uma casa de candomblé de Angola, com raiz Tombensi.
Lalesca contou ao Terra que o uso dos itens de sua religião não são impeditivos e, por lei, não podem ser proibidos em nenhum espaço, inclusive em ambientes jurídicos.
"Nunca fui impedida em fórum, mas já tive problema em delegacias. Questionaram se eu era realmente advogada", conta.
Ela explica que o preconceito sobre as religiões de matriz africana é frequente e repetido diversas vezes em todo o país e que a sociedade é ensinada que essas culturas são "do mal".
"Em qualquer lugar do país eu vou passar por isso. Se em Salvador, que é a capital mais negra fora da África, eu sofro com isso", desabafa.
Para Lalesca, o ideal é que os religiosos de matriz africana possam interagir em ambientes sem serem julgados pelos seus adereços, peças e costumes.
Ela explica que acredita ter perdido alguns contratos e oportunidades de trabalho por conta da sua religião, mas que não abre mão de ser quem é.
"Eu sento na mesa para fechar contratos e eu sou uma advogada criminalista. Eu sou boa de resolver problemas, se quiser venha até mim e eu resolvo", diz.
Após o período de inicialização, que deve se encerrar em meados de julho deste ano, Lalesca explica que ainda continuará usando seus adereços sempre que necessário, principalmente o Ojá na cabeça às sextas feiras: "Em respeito a Oxalá".
"As delegacias de todo o país estão aptas a receber denúncias e boletins de ocorrência sobre casos de intolerância religiosa. Se você ou alguém for vítima, denuncie, utilize os canais da Polícia para combater esse crime", pede Lalesca.