Amigos do ex-ministro Silvio Almeida relataram que ele sem forças e “destroçado”, após ser denunciado por assédio sexual e demitido da pasta de Direitos Humanos, nesta sexta-feira, 6. De acordo com a colunista da Folha de S. Paulo, Mônica Bergamo, pessoas próximas temem por seu futuro.
Receba as principais notícias direto no WhatsApp! Inscreva-se no canal do Terra
No comunicado do Governo Federal sobre a demissão de Silvio Almeida foi informado que a Polícia Federal abriu de ofício um protocolo inicial de investigação sobre o caso. A Comissão de Ética Pública da Presidência da República também abriu procedimento preliminar para esclarecer os fatos.
O site aponta que Almeida chorou ao conversar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e também se mostrou triste em conversas com pessoas de seu círculo íntimo, que têm dado apoio desde que a denúncia veio à tona. O ex-ministro segue negando as acusações, mesmo em diálogos privados.
O medo é que isso o leve à depressão, além das consequências que podem ser ainda maiores do que só perder o cargo no governo. Sua reputação dentro dos direitos humanos está abalada, segundo a coluna.
Almeida é filósofo e advogado, formado na Universidade de São Paulo (USP) e Universidade Mackenzie, respectivamente, e também atua como professor universitário. Além das aulas, ele também palestra sobre racismo, área na qual é considerado um dos especialistas do país.
O ex-ministro se programava para concorrer ao Senado por São Paulo, mas com o escândalo envolvendo seu nome, seus planos foram por água abaixo.
Pessoas das áreas de direito, política e educação, que convivem com Almeida relataram opiniões divergentes sobre as denúncias. Alguns acreditam nas vítimas e lamentam que o ex-chefe da pasta tenha feito algo tão grave, e outros relaram dúvidas sobre o que ocorreu.
Ao mesmo tempo em que creem que a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, e outras mulheres não inventariam algo de tamanha gravidade, mas querem ter mais informações a respeito das acusações para chegar a uma conclusão.
Há também quem acredite em Almeida, justamente por ter convivido com ele por anos, e acreditam que está sendo vítima de racismo e de um complô.
Denúncias contra Silvio Almeida
Em comunicado, divulgado na quinta-feira, 5, o Me Too Brasil afirmou que as vítimas permitiram a divulgação das denúncias e receberam atendimento jurídico e psicológico.
“A organização de defesa das mulheres vítimas de violência sexual, Me Too Brasil, confirma, com o consentimento das vítimas, que recebeu denúncias de assédio sexual contra o ministro Silvio Almeida, dos Direitos Humanos. Elas foram atendidas por meio dos canais de atendimento da organização e receberam acolhimento psicológico e jurídico”, escreveu em nota.
Ainda segundo a organização, as vítimas “enfrentaram dificuldades em obter apoio institucional para a validação de suas denúncias. Diante disso, autorizaram a confirmação do caso para a imprensa”.
Com o caso vindo à público, a professora Isabel Rodrigues, também candidata à vereadora em Santo André (SP), afirmou ser uma das vítimas de Silvio Almeida, que era seu amigo. Segundo seu relato, publicado no Instagram, o assédio aconteceu em 2019, quando estavam em um almoço.
"Eu estava de saia, ele levantou a saia e colocou as mãos nas minhas partes íntimas. Eu fiquei estarrecida, fiquei com vergonha das pessoas, porque é assim que as vítimas se sentem, as vitimas ficam com vergonha e esse caso teve muitos retornos na minha vida. Demorou pra eu entender que eu estava sendo vítima de violência sexual", relatou.
A ministra Anielle Franco, da Igualdade Racial, pode ter sido outra vítima. Isso porque ela teria relatado a integrantes do governo que foi assediada sexualmente por Almeida, segundo Bergamo. A colunista conta que soube da situação e buscou por Anielle em junho. Porém, a ministra não confirmou nem negou o episódio na época. Ainda de acordo com a coluna, fontes informaram que a ministra não queria transformar o caso em um escândalo público.
Até que nesta quinta-feira o portal Metrópoles relatou o caso, afirmando ter conversado com 14 pessoas próximas de Anielle Franco – incluindo ministros, assessores de governo e amigos.
Nessas conversas foi compartilhado que os supostos episódios de assédio a Anielle incluiriam toques nas pernas, beijos inapropriados ao cumprimentá-la e, também, falas com conteúdo sexual. As situações teriam ocorrido no ano passado.
Anielle se pronunciou
Anielle Franco se pronunciou nesta sexta, 6. "Tentativas de culpabilizar, desqualificar, constranger, ou pressionar vítimas a falar em momentos de dor e vulnerabilidade também não cabem, pois só alimentam o ciclo de violência. Peço que respeitem meu espaço e meu direito à privacidade. Contribuirei com as apurações, sempre que acionada", escreveu Anielle, na nota pública que foi divulgada em suas redes sociais.
Sem citar o nome de Silvio Almeida, nem expressar ter sido uma das vítimas do agora ex-ministro, Anielle falou sobre sua trajetória, onde desde 2018 diz dedicar sua vida "para que todas as mulheres e pessoas negras possam estar em qualquer lugar sem serem interrompidas". Além disso, afirmou que o "enfrentamento a toda e qualquer prática de violência é um compromisso permanente deste governo".
No comunicado do Governo Federal sobre a demissão de Silvio Almeida foi informado que a Polícia Federal abriu de ofício um protocolo inicial de investigação sobre o caso. A Comissão de Ética Pública da Presidência da República também abriu procedimento preliminar para esclarecer os fatos.
Ministro nega as acusações
Por meio de nota oficial, Silvio Almeida negou as acusações e afirmou que as denúncias não têm provas. Ele também explicou que encaminhará o caso para que uma "apuração cuidadosa" seja feita.
“Repudio com absoluta veemência as mentiras que estão sendo assacadas contra mim. [...] Toda e qualquer denúncia deve ter materialidade. Entretanto, o que percebo são ilações absurdas com o único intuito de me prejudicar, apagar nossas lutas e histórias, e bloquear o nosso futuro. [...] Toda e qualquer denúncia deve ser investigada com todo o rigor da Lei, mas para tanto é preciso que os fatos sejam expostos para serem apurados e processados. E não apenas baseados em mentiras, sem provas. Encaminharei ofícios para Controladoria-Geral da União, ao Ministério da Justiça e Segurança Pública e Procuradoria-Geral da República para que façam uma apuração cuidadosa do caso [...]”, escreveu.
Além disso, Silvio Almeida acionou a Justiça para que a ONG Me Too Brasil preste esclarecimentos sobre as denúncias de assédio que recebeu contra ele. Ele pede detalhes sobre as provas e evidências colhidas em torno dos casos relatados.