Ana Marcela reconhece papel na representatividade lésbica

“Eu sei quem eu sou, não me tira a paz”, diz campeã olímpica sobre preconceitos, em entrevista exclusiva ao Papo de Mina

5 mai 2022 - 16h00
(atualizado em 18/5/2022 às 19h03)

A medalha de ouro conquistada nos Jogos Olímpicos de Tóquio por Ana Marcela Cunha tem um significado muito além de mais uma no quadro de medalhas do Brasil. Foi a conquista de uma mulher, nordestina e lésbica, que quebrou barreiras e pode mostrar quem é, se tornando uma ícone da representatividade para o esporte brasileiro.

Ana Marcela foi ouro em Tóquio, e destacou importância da representatividade feminina
Ana Marcela foi ouro em Tóquio, e destacou importância da representatividade feminina
Foto: Divulgação/COB

A gratidão por ser exemplo, a importância da saúde mental e os principais momentos de sua carreira foram assunto da entrevista exclusiva que a nadadora concedeu à live do Papo de Mina.

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A menina que aos 2 anos já fazia aulas de natação, e engatinhava em direção ao mar durante as férias de família, hoje, aos 30, tem orgulho de dizer que é atleta profissional, com carteira assinada, um diploma de ensino superior e um currículo invejável. E defende fortemente o esporte como ferramenta de educação.

“Ser atleta no Brasil é difícil. É complicado conseguir patrocinadores, apoiadores, pessoas que enxerguem lá na frente. Todo mundo quer resultado imediato, mas tem que investir na garotada, porque uma hora eles desistem”, alerta.

Eles, na maioria das vezes, são elas. Ana Marcela faz questão de destacar que o País, apesar de ser um pólo da natação, perde muitas meninas talentosas, que ao chegarem na idade de decidir entre estudar ou seguir carreira como atleta, sofrem pressão familiar e abandonam o esporte, por não conseguirem provar que essa é uma profissão de fato.

Mulher pode ser o que quiser

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 "A mulher pode ser o que ela quiser, onde quiser e como quiser. [A medalha] também é fruto do tanto que a gente vem recebendo de ajuda por igualdade". Foi essa frase que Ana Marcela disse ao sair das águas em Tóquio, encorajando a nova geração de garotas. E ela se orgulha de poder ser alguém em que outras mulheres e crianças se reconhecem: “meu propósito na Terra como atleta, como pessoa, está sendo feito”.

A campeã olímpica destaca ainda a importância de outras mulheres que conquistaram espaço e facilitaram os caminhos para que hoje ela pudesse estar onde está, como Maria Lenk, Maria Esther Bueno, Marta e a seleção feminina de vôlei. 

“Eu faço parte hoje dessa parte final que daqui a alguns anos vai ser o meio dessa jornada de milhões de mulheres. Eu tenho uma gratidão por ter participado desses Jogos, ter conquistado o ouro e de alguma forma ser exemplo, ser algo que as pessoas querem ser”.

Representatividade lésbica e respeito

Uma das principais buscas relacionadas ao nome de Ana Marcela Cunha não é relacionada ao número de medalhas conquistadas ou ao esporte, mas sim ao seu gênero. Um rótulo da sociedade, mas que não a incomoda. 

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“Eu sei quem eu sou, não me tira a paz”, garante. Ela ainda conta que muitas crianças a questionam “se é homem ou mulher”, e entende que faz parte da curiosidade, afinal “é uma pessoa de cabelo curto, ombro mais largo, tatuagem, que se veste de camiseta e bermuda”.

Se mostrar como uma mulher lésbica, porém, não foi algo que apareceu desde o início da sua carreira, embora nunca tenha sofrido preconceitos - algo que ela comemora, reconhecendo todos os medos e julgamentos que fazem parte desse processo. Com a imagem cada vez mais ligada à representatividade, Ana Marcela entendeu que poderia se posicionar. 

“Eu acho que consigo fazer muito bem isso, mostrando meu lado, como atuo, minhas conquistas e tudo que eu posso fazer. Sei o quanto isso representa para muitas mulheres, para muitos homossexuais e até héteros que questionam como é beijar outra mulher. É legal conseguir me expor de uma forma positiva sempre. Não sei como, mas eu consigo”, diz.

Ana Marcela é atleta da Marinha do Brasil, e conta que teve vontade de se alistar antes do esporte
Foto: Dibulgaçã/COB

Essa mesma postura não acontece com o fato de ser uma atleta militar. 3º sargento da Marinha, ela conta que recebe muitas críticas ao prestar continência sempre que sobe ao pódio - um sinal de respeito tanto à bandeira do Brasil quanto a de outros países.

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“Hoje em dia isso é forma de ser Bolsonaro, e uma coisa não tem nada a ver com a outra”. 

O Programa Atletas de Alto Rendimento funciona como uma espécie de Bolsa Atleta, um patrocínio que os esportistas recebem por meio das Forças Armadas, e que pode durar até oito anos, justificado por bons resultados. É, portanto, uma forma de auxílio financeiro, fundamental para os atletas.

Sobre os comentários negativos relacionados ao fato de fazer parte do projeto, Ana Marcela acrescenta: “As pessoas têm que ter um pouco mais de respeito em relação à opinião dos outros”. 

Fonte: Redação Terra
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