Anielle Franco sobre importunação sexual de Silvio Almeida: “Eu só queria que parasse”

Em sua primeira entrevista após assédio, ministra da Igualdade Racial disse que ouviu comentários sexistas e recebeu toques indesejados

4 out 2024 - 12h40
(atualizado às 12h42)
A ministra contou que a situação começou em 2022
A ministra contou que a situação começou em 2022
Foto: Reprodução: Instagram/aniellefranco

A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, revelou ter ouvido comentários sexistas e recebido toques indesejados por parte de Silvio Almeida, ex-ministro dos Direitos Humanos. Essa é a primeira vez que Anielle comenta publicamente o que viveu durante todo esse tempo.

Em entrevista à revista Veja, a ministra contou que a situação começou em 2022, na transição de governo. Na época, ela já ouvia comentários embaraçosos, que escalonaram até chegar à importunação sexual

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Diante da incerteza sobre como agir, Anielle acabou tomando a decisão oposta que normalmente recomendaria a outras mulheres e optou pelo silêncio. “Ficamos com medo do descrédito, dos julgamentos, como se o que aconteceu fosse culpa nossa”, revelou à Veja.

Certa vez, Anielle sofreu uma abordagem inapropriada durante uma reunião. Após o incidente, expressou seu desconforto a Silvio Almeida, pedindo que ele não repetisse tal atitude. Embora ele tenha admitido seu erro na hora, ao se despedir, o ex-ministro teria murmurado uma frase desrespeitosa em seu ouvido.

“É muito difícil falar sobre isso. Ninguém se sente à vontade para relatar uma violência. E, nesse caso, a gente está falando de um conjunto de atos inadequados e violentos que aconteceram sem consentimento e reciprocidade e que, infelizmente, mulheres do mundo inteiro vivenciam diariamente. Mas é importante deixar claro que o que houve foi um crime de importunação sexual. Fui vítima de importunação sexual”, afirmou Anielle.

Atitudes inconvenientes

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Anielle relatou ainda que não tinha nenhuma relação profissional com Silvio Almeida até dezembro de 2022 e o conhecia apenas pela sua carreira acadêmica. 

“Por um tempo, quis acreditar que estava enganada, que não era real, até entender e cair a ficha sobre o que estava acontecendo. Fiquei sem dormir várias noites. Eu só queria trabalhar, focar na missão, no propósito e em toda a responsabilidade que se tem quando se assume um cargo como o meu. Mas não conseguia”, relatou.

A ministra contou que, em diversos momentos, chegou a se culpar por não ter conseguido reagir ou denunciar no mesmo momento. “Me culpei muito pela falta de reação imediata, e essas dúvidas ficaram me assombrando. Me lembrava de todas as mulheres que já tinha acolhido em situação de violência. Mas o fato é que não estamos preparadas o suficiente para enfrentar uma situação assim nem quando é com a gente. Eu me senti vulnerável”.

No entanto, Anielle não queria ter sua vida novamente exposta por conta da violência.

“Sou muito mais do que isso e me orgulho da minha trajetória. Só queria que aquilo parasse de acontecer. Como uma pessoa que sempre teve muita fé, acreditava que em algum momento aquilo acabaria e eu conseguiria seguir a minha vida”, declarou à revista Veja. 

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No início, Anielle escolheu o silêncio, pois a situação era extremamente violenta para ela e afirmou que nenhuma vítima, de qualquer tipo de violência, deveria ser obrigada a se expor ou falar no momento que os outros esperam.

“As vítimas têm de falar na hora em que elas se sentirem confortáveis. Vou repetir isso quantas vezes for necessário: vítima é vítima. Você fala quando se sente apta e acolhida a falar”.

Fonte: Redação Nós
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