Lá se vão mais de 20 anos desde que o programa "Big Brother Brasil" foi ao ar, estreando em 2002 após uma rasteira de Silvio Santos que exibiu a "Casa dos Artistas" no SBT semanas antes. E o reality que tinha como proposta observar pessoas comuns lidando com confinamento continua dividindo opiniões, e quase sempre, com muito sucesso.
Ao longo dos anos, o funcionamento do programa foi sofrendo modificações e a própria ideia de confinamento passou a ser relativa. Com o advento das redes sociais e os streamings, pessoas enclausuradas se tornam onipresentes na vida dos brasileiros e as 24 horas de vigilância prometidas se cumpriram.
Outro fator que chama atenção é o destaque que pautas identitárias começaram a ganhar: racismo, machismo, misoginia e LGBTfobia passaram a ser discutidos de forma extensa, dentro e fora do programa.
Porém, se os debates na sociedade civil avançam a passos largos, no reality é tudo em doses homeopáticas. Foi apenas na atual 23ª edição que 50% dos participantes escalados são negros, chegando próximo de reproduzir a porcentagem da população brasileira que conta com 56,1% de pessoas negras (somando pretos e pardos) e 43% de pessoas brancas, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD Contínua) de 2021.
A falta de diversidade racial respinga também nos vencedores. Em 23 temporadas, apenas quatro pessoas negras saíram com o prêmio na mão: Jean Wyllys, Mara Viana, Gleici Damasceno e Thelma Assis na quinta, sexta, décima oitava e vigésima edição, respectivamente.
Jean inclusive é o único homem negro a ganhar o programa e também o único gay. A comunidade LGBTQIA+ contou com apenas mais uma ganhadora, a veterinária bissexual Vanessa Mesquita, na décima quarta edição.
Quando se fala na participação de pessoas trans e travestis então, o número é pífio, com apenas duas participantes entre 371 pessoas que passaram pela casa: a maquiadora trans Ariadna Arantes e a cantora Linn da Quebrada, que é travesti.
Cabe por fim, destacar o pouco Brasil no Big Brother Brasil onde, dos 371 participantes, 170, ou seja, 45% são de São Paulo e do Rio de Janeiro. Se somados os estados do sudeste, Minas Gerais e Espirito Santo, o numero chega à 213, o que equivale a 57%. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) Contínua, o sudeste conta com 42,2% da população brasileira.
Destaque ainda para os estados do Amapá e Tocantins que nunca tiveram representantes até a 23ª edição, sendo que o segundo estado é representado no programa pelo humorista Paulo Vieira que conta com um quadro no reality.