Durante a partida realizada no domingo, 21, Vinicius Jr foi alvo de cânticos racistas vindos da torcida do Valencia. Além do episódio de racismo, o atacante do Real Madrid também acabou sendo expulso no final do segundo tempo, devido a uma briga envolvendo jogadores da equipe adversária.
A confusão teve início por volta dos 48 minutos na área do Valencia. Após uma disputa de bola, o goleiro Mamardashvili partiu para cima de Vinicius Junior. O árbitro, então, optou por mostrar o cartão amarelo para ambos os jogadores. No entanto, a discussão prosseguiu e outros atletas acabaram se envolvendo na briga.
Durante o empurra-empurra, o atacante Hugo Duro deu um mata-leão em Vinicius, segurando-o pelo pescoço. Depois de ser atingido, Vinicius acabou acertando o rosto de seu adversário. Em seguida, o VAR chamou Burgos Bengoetxea, que revisou o lance e optou por expulsar apenas o jogador brasileiro.
Após receber o cartão vermelho e ser expulso da partida, Vini deixou o campo aplaudindo enquanto gesticulava com as mãos fazendo o número "2" (em referência à briga do Valencia contra a segunda divisão). Isso causou a reação de membros da comissão técnica do time adversário e jogadores que estavam no banco de reservas, que foram tirar satisfações com o jogador brasileiro.
Caso de racismo minimizado fora de campo
Após o jogo, o jogador foi para o vestiário e não atendeu aos jornalistas. Nas redes sociais, Vinícius desabafou sobre o episódio deixando um recado aos espanhóis. "Não foi a primeira vez, nem a segunda e nem a terceira. O racismo é o normal na La Liga", iniciou o brasileiro, que lamentou a recorrência do crime e a falta de punição.
"A competição acha normal, a Federação também e os adversários incentivam. Lamento muito. O campeonato que já foi de Ronaldinho, Ronaldo, Cristiano e Messi hoje é dos racistas. Uma nação linda, que me acolheu e que amo, mas que aceitou exportar a imagem para o mundo de um país racista", disse o brasileiro.
Mas, apesar dos insultos recorrentes, Vinicius Jr disse que irá até o fim contra os racistas. "Infelizmente, por tudo o que acontece a cada semana, não tenho como defender. Eu concordo. Mas eu sou forte e vou até o fim contra os racistas. Mesmo que longe daqui", concluiu o atacante.
Em resposta ao post de Vini Jr., o presidente da La Liga, Javier Tebas, acusou o jogador de não saber lidar com o racismo. "Já que aqueles que deveriam não te explicam o que é que LaLiga pode fazer nos casos de racismo, tentamos nós explicarmos, mas você não se apresentou em nenhuma das datas acordadas que você mesmo solicitou. Antes de criticar e injuriar LaLiga, é necessário se informar adequadamente. Não se deixe manipular e tenha certeza de entender bem as competências de cada um e o trabalho que estamos fazendo juntos", declarou.
Vini não se calou e rebateu as acusações de Tebas."Mais uma vez, em vez de criticar racistas, o presidente da LaLiga aparece nas redes sociais para me atacar. Por mais que você fale e finja não ler, a imagem do seu campeonato está abalada. Veja as respostas do seus posts e tenha uma surpresa", pontunou o brasileiro, que enfatizou que a omissão de Tebas o iguá-la aos racistas.
"Não sou seu amigo para conversar sobre racismo. Quero ações e punições. Hashtag não me comove", finalizou o brasileiro.
Na tréplica, minimizando o episódio do último domingo, o presidente presidente da La Liga negou que a Espanha e a competição sejam racistas e também acusou Vini Jr. de injusto.
"Nem a Espanha e nem a La Liga são racistas. Você está sendo injusto em dizer isso. Como comandantes da La Liga, denunciamos e combatemos o racismo com toda rigidez dentro das nossas competências. Nesta temporada, foram nove casos de racismo [oito contra Vini]. Sempre identificamos os infratores e levamos a denúncia aos órgãos legisladores. Não importa que sejam poucos, eles são implacáveis. Não podemos permitir que se manche a imagem de uma competição que é sobre o símbolo de união de povos, onde mais de 200 jogadores são de origem negra em 42 clubes que recebem em cada rodada o respeito e o carinho das torcidas, sendo o racismo um caso extremamente pontual que vamos eliminar", escreveu Tebas.
Ya que los que deberían no te explican qué es y qué puede hacer @LaLiga en los casos de racismo, hemos intentado explicártelo nosotros, pero no te has presentado a ninguna de las dos fechas acordadas que tú mismo solicitaste. Antes de criticar e injuriar a @LaLiga , es necesario… https://t.co/pLCIx1b6hS pic.twitter.com/eHvdd3vJcb
— Javier Tebas Medrano (@Tebasjavier) May 21, 2023
Real demorou 12 horas para se manifestar
O Real Madrid quebrou o silêncio e se manifestou 12 horas após o novo episódio de racismo contra Vini Júnior. "O Real Madrid CF manifesta a sua mais forte repulsa e condena os acontecimentos ocorridos ontem contra o nosso jogador Vinícius Junior", disse a nota, que pediu uma investigação sobre o caso.
"Esses fatos constituem um ataque direto ao modelo de convivência de nosso Estado social e democrático de direito. O Real Madrid considera que tais ataques também constituem um crime de ódio, razão pela qual apresentou a denúncia correspondente à Procuradoria-Geral do Estado, especificamente à parte que cuida de crimes de ódio e discriminação, para que os fatos sejam investigados e apuradas as responsabilidades", pontuou o clube, onde o brasileiro atua desde 2018.
O presidente da Federação Espanhol de Futebol (RFEF), Luis Rubiales, também saiu em defesa de Vini Jr. após o segundo posicionamento de Tebas, e criticou o mandatário por rebater o brasileiro nas redes. "Quero mandar um recado ao presidente da CBF para vir à casa da RFEF ou vou viajar ao Brasil para ver o que a Federação faz com isso (caso de racismo contra Vini Jr.). Peço que ele ignore o comportamento do presidente da La Liga. Não era o momento de entrar para debater isso no Twitter", pontuou, em entrevista coletiva nesta segunda-feira.
“Temos um problema em nosso país de educação, de racismo. Temos um problema sério que mancha todo um time, torcedores e um país inteiro. Vini ou qualquer jogador que receber insulto tem meu apoio e da Federação”, ressaltou Rubiales.
Racismo é crime; saiba como denunciar
Racismo é crime, com pena prevista de até 5 anos de prisão. Ao presenciar qualquer episódio de racismo, denuncie. Você pode fazer isso por telefone, ligando 190 (em caso de flagrante) ou 100 a qualquer horário; pessoalmente ou online, abrindo um boletim de ocorrência em qualquer delegacia ou em delegacias especializadas.