A seleção argentina de futebol está no centro de uma polêmica por causa dos gritos de alguns de seus jogadores durante a comemoração após a conquista do título da Copa América no domingo (14/7).
Nas imagens, alguns atletas fazem referência à origem africana de jogadores da seleção francesa e usam um insulto homofóbico para se referir ao atacante Mbappé.
Esses cantos, que alguns torcedores argentinos usaram durante a Copa do Mundo de 2022 no Catar, foram entoados por vários jogadores argentinos, incluindo o meio-campista Enzo Fernández, que transmitiu a comemoração ao vivo por meio de sua conta no Instagram.
A Federação Francesa de Futebol (FFF) anunciou na tarde de terça-feira (16/7) que vai processar a Associação Argentina de Futebol (AFA) pelos gritos "racistas".
"O presidente da Federação Francesa de Futebol, Philippe Diallo, condena nos termos mais veementes os inaceitáveis comentários racistas e discriminatórios feitos contra os jogadores da seleção francesa no contexto de um cântico entoado por jogadores e torcedores da seleção argentina após a vitória na Copa América, que foi veiculado em vídeo nas redes sociais", informou a FFF em nota.
"Dada a gravidade dos comentários chocantes, contrários aos valores do esporte e dos direitos humanos, o presidente da FFF decidiu denunciar diretamente a associação argentina e a Fifa, e apresentar uma queixa judicial por comentários insultuosos de natureza racial e discriminatória", complementa a nota.
'Racismo sem remorso'
Fernández, que joga no Chelsea, da Inglaterra, viu companheiros do time que são de origem francesa demonstrarem repúdio à comemoração.
O zagueiro Wesley Fofana, de 23 anos, publicou em sua conta do Instagram o vídeo da comemoração argentina com a frase: "Futebol em 2024: racismo sem remorso."
Além de Fofana, que tem pai marfinense e mãe francesa, juntaram-se ao protesto os jogadores Disasi e Malo Gusto, que também têm raízes africanas e deixaram de seguir Fernández nas redes sociais.
Na quarta-feira (17/7), Fernández, que foi comprado pelo clube inglês há duas temporadas por mais de US$ 100 milhões (aproximadamente R$ 550 milhões), divulgou um comunicado no qual pede desculpas pelos gritos durante a comemoração.
"Quero pedir desculpas sinceras por um vídeo postado no meu canal do Instagram durante as comemorações da seleção. A música inclui uma linguagem muito ofensiva e não há absolutamente nenhuma justificativa para essas palavras", disse o atleta
"Oponho-me à discriminação em todas as suas formas e peço desculpas pela euforia das comemorações na Copa América. O vídeo, aquele momento e essas palavras não refletem as minhas crenças ou o meu caráter", acrescentou.
A BBC tentou contactar a AFA para que a entidade pudesse se posicionar, mas não obteve qualquer resposta até a publicação desta reportagem.
O que disse o governo da Argentina
O presidente da Argentina, Javier Milei, demitiu o subsecretário de Esportes do país, Julio Garro.
Garro havia cobrado um pedido de desculpas da seleção argentina após o canto racistas.
Milei repostou uma postagem no X que criticava a cobranças de pedido de "desculpas a alguns europeus colonizadores por uma música que também diz a verdade".
A vice-presidente, Victoria Villarruel, também defendeu o canto racista dos jogadores argentinos.
"Nenhum país colonialista nos vai intimidar por uma canção de torcida ou por dizermos verdades que não querem admitir. Parem de fingir indignação, hipócritas. Enzo [Fernández], eu te banco, Messi, obrigado por tudo! Argentinos sempre de cabeça erguida!", escreveu no X.
Investigação disciplinar
Já o Chelsea emitiu um comunicado na quarta-feira (17/7) em que divulga o início de uma investigação disciplinar sobre as ações do jogador.
"O Chelsea considera inaceitável qualquer forma de comportamento discriminatório [...] Reconhecemos e apreciamos o pedido público de desculpas do nosso jogador e usaremos isso como uma oportunidade de educação. O clube iniciou um procedimento disciplinar interno", diz o texto..
A Argentina venceu a Colômbia por 1 a 0, na prorrogação da final da Copa América, e conquistou o seu 16º título nesta competição, o que gerou a comemoração dos jogadores argentinos.
O polêmico cântico se tornou popular durante a Copa de 2022 no Catar, especialmente depois que a Argentina derrotou a França na final e conquistou o terceiro título mundial de sua história.
Um porta-voz da Fifa disse à BBC que "eles estão cientes de um vídeo que circula nas redes sociais" e que "o incidente está sendo investigado".
"A Fifa condena veementemente qualquer forma de discriminação por parte de qualquer pessoa, incluindo jogadores, torcedores e dirigentes", conclui o porta-voz da entidade.