Assim como em "Casamento às Cegas", elas sofreram gordofobia no primeiro encontro

Conheça histórias de mulheres que passaram por isso, assim como a participante do reality, e deram a volta por cima

29 dez 2022 - 17h15
(atualizado em 27/1/2023 às 10h39)
Participante do reality "Casamento às Cegas" foi acusado de gordofobia
Participante do reality "Casamento às Cegas" foi acusado de gordofobia
Foto: Divulgação

Com a estreia da 2ª temporada de Casamento às Cegas, reality show da Netflix, uma nova polêmica tomou conta da internet. A participante Amanda Souza, 35, consultora de imagem de Campinas, conquistou Paulo nas cabines do programa. Porém, foi rejeitada por ele ao se conhecerem pessoalmente.

A proposta do reality é que as pessoas possam conhecer e se apaixonar sem levar as aparências em consideração. Nesta corrida pelo par ideal, Amanda desbancou uma concorrente ao coração de Paulo. Sim, Amanda era a preferida, a escolhida para se casar com ele, mas isso só durou até vê-la pessoalmente pela primeira vez.

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Ainda nas cabines do programa, é de praxe o grande pedido de casamento. No primeiro encontro presencial, esse pedido é reforçado com a entrega de uma aliança. Depois, os participantes tem mais algumas semanas para se conhecerem mais antes da cerimônia de casamento e de dizer o sim final.

Com Amanda, o sonho do príncipe encantado não passou do primeiro encontro. Ao olhar a parceira gorda, pela primeira vez, Paulo disse:

“Ela não é nada parecida com o que eu lidei na minha vida. Uma mulher forte. Mulher empoderada, maravilhosa. Não sei se consigo aguentar.”

Os espectadores da atração encararam o episódio como pura gordofobia. Afinal, durante as cabines o amor realmente se mostrou cego e ele precisou vê-la pessoalmente para pular fora da relação e da atração.

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Ele usou termos totalmente inadequados como “mulher forte” e “não sei se consigo aguentar”, que mais pareciam piadas ofensivas para uma mulher gorda. Não teria ele percebido toda essa força na cabine? Ele estava falando de peso físico ou o peso de uma mulher maravilhosa como Amanda?

Para completar, ele disse:

"Não estou acostumado acostumado a sair da minha zona de conforto".

O que seria essa zona de conforto? Talvez a explicação para tantas perguntas tenha vindo de fora do reality show. Na vida real, já fora do programa, Paulo engatou um romance com a concorrente que havia preterido por Amanda. Uma mulher com corpo padrão.

Diversas leitoras gordas do Blog Mulherão revelaram terem sofrido, assim como Amanda de Casamento às Cegas, com situações gordofóbicas em primeiros encontros. Veja algumas delas e como elas superaram esses episódios:

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"Ele evitava pegar na minha mão, não andava ao meu lado em público e até o beijo era frio e sem vontade"
Foto: Arquivo Pessoal

“Não tenho medo de mostrar que sou gorda e tenho orgulho do meu corpo”

Alaide Wilyane De Lima, 20, conheceu o ex-namorado pelas redes sociais. “Ele estava muito interessado em mim, tínhamos amigos em comum, conversávamos muito, percebia que ele estava ansioso para me conhecer pessoalmente e me apresentar para a família”, conta a estudante.

Na época, Alaide, insegura com suas próprias curvas, postava fotos editadas em que se ressaltava a cintura fina e o quadril largo, sem que aparentasse seu tamanho real. “Quando nos encontramos pessoalmente, pela primeira vez, a reação dele não foi boa. Ele evitava pegar na minha mão, não andava ao meu lado em público e até o beijo era frio e sem vontade. Não parecia a mesma pessoa que eu conheci pela internet”, explica.

A jovem custou a perceber que da mesma forma que ele não era o mesmo rapaz carinhoso das mensagens online, ela também não tinha o mesmo corpo que ele via nas fotos. Mesmo assim, e sem dividirem  suas impressões iniciais, engataram um relacionamento. Pouco tempo depois, após uma discussão, ele revelou que nunca se sentiu atraído por ela. “Ele falou do meu corpo, disse que sentia nojo de mim”.

Segundo Alaide, as frases proferidas pelo companheiro a machucam até hoje. No entanto, ela aprendeu a lição. “Eu me libertei do uso de editores de imagem. Hoje não tenho medo de mostrar que sou gorda e tenho orgulho do meu corpo. Está cheio de gente que admira a beleza de uma gordinha”, afirma.

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Com o limão azedo da rejeição, ela fez uma doce limonada. Inscreveu-se em um concurso de beleza e conquistou o título de Miss Plus Size Nacional Rio Grande do Norte. “Hoje sei do poder da minha beleza e não aceito mais me submeter a um relacionamento em que o parceiro não tenha orgulho de mim”.

"Enquanto eu estava descendo a escada rolante, percebi que a fisionomia dele mudou"
Foto: Arquivo Pessoal

“Não crio mais expectativas”

Elisabeth Santos, 38, analista de costume experiencer, estava recém-separada quando decidiu criar um perfil no Tinder. “Coloquei na minha biografia em letras maiúsculas: GORDA, para deixar bem claro”. Ela relata que estava muito sensível e com medo de ficar sozinha para sempre, quando conheceu no aplicativo um homem por quem se apaixonou. 

Após um mês de conversa pelo whatsapp, com inúmeras trocas de juras de amor, marcaram um encontro em um shopping center. “Enquanto eu estava descendo a escada rolante, percebi que a fisionomia dele mudou. Já queria logo dar um beijão daqueles nele, mas fui recebida com um abraço e um beijo no rosto. O papo não durou nem 5 minutos. Ele me pediu desculpas, disse que teria que resolver algo urgente e foi embora. Minutos depois ele me bloqueou em todas as redes sociais”.

Embora o pretendente não tenha explicitado que a rejeitara por causa do seu corpo, Elisabeth tem certeza que este foi o motivo. Porém, o episódio não a abalou.

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“Eu continuei conhecendo pessoas, saindo e me divertindo, só não crio mais expectativas. Após 3 anos da minha separação, me sinto mais segura, não tenho medo de ficar sozinha e não caio mais em papo de homem que se diz apaixonado, sem me conhecer pessoalmente”.

"Ele disse que eu tinha um rosto muito bonito e que deveria emagrecer se quisesse vê-lo de novo"
Foto: Arquivo Pessoal

“Eu sabia que não deveria mudar meu corpo para agradar alguém”

Fabiane Ferreira, 45, enfermeira, viveu uma situação chocante no passado. Um homem misterioso viu o perfil dela em uma rede social e conseguiu seu telefone. Embora estivesse com o pé atrás com o admirador, cedeu às investidas e iniciou uma amizade com o rapaz. Trocaram redes sociais e conversaram por muito tempo antes que ela se sentisse segura em conhecê-lo pessoalmente.

“Ele era um moreno lindo, jantamos, conversamos, esticamos a noite juntos, parecia tudo perfeito. Até que, no outro dia, ele disse que eu tinha um rosto muito bonito e que deveria emagrecer se quisesse vê-lo de novo. Disse que não poderia sair de mais de uma vez com uma leitoa”, relembra.

Nunca mais se falaram. Porém, ela não seguiu os conselhos do paquera. Sofreu, enxugou as lágrimas, mas continuou com o mesmo corpo de sempre. “Eu sabia que não deveria mudar meu corpo para agradar alguém, muito menos uma pessoa que se acha no direito de ofender outra pessoa, como ele me ofendeu”.

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A confiança e amor próprio deram resultado. Foi no hospital em que trabalhava que ela conheceu o atual esposo. Ele foi internado diversas vezes para tratar um problema de saúde e foi ela quem o apoiou na UTI e lhe deu esperanças, sem ao menos o conhecer.

 “Algum tempo depois, no hospital, ele disse para a mãe dele que eu era a mulher que ele queria para a vida dele. Isso gerou surpresa na família, que estava acostumada a vê-lo apenas com mulheres magras, completamente diferentes de mim. Acredito que ele não se apaixonou por mim à primeira vista. Ele precisou me conhecer para se apaixonar. Por isso é que lamento tantos casais apaixonados que poderiam ser formados caso as aparências não estivessem tanto em jogo”

Andrea
Foto: Arquivo Pessoal

“Mandava mil fotos de corpo inteiro para eles não alegarem surpresa”

A bancária Andrea Ayres, 35 anos, ensina como as garotas gordas mais jovens podem se precaver de situações de gordofobia no primeiro encontro. “Sejam sempre sinceras, deixem claro que são gordas”.

Antes do atual namoro, Andrea usava aplicativos de paquera para conhecer gente nova e fazia questão de deixar seu perfil com fotos atualizadas, para garantir que soubessem o seu real tamanho. 

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Andrea explica que exagerava mesmo, mandava diversas fotos de corpo inteiro, caseiras, sem edição, para que os crushs não alegassem surpresa na hora do encontro.  

Para ela, o importante é não desistir de conhecer gente nova e se relacionar. “Não adianta se fechar em uma bolha ou tentar emagrecer para agradar quem quer que seja. Quem gostar de você, gostará independente do seu peso”, afirma. 

Ela confessa que soube da repercussão do caso de gordofobia de Casamento às Cegas e decidiu não assistir a temporada com medo de que tivesse seus próprios gatilhos despertados. “Nunca aceitei um encontro às cegas. Eles parecem só funcionar para pessoas padrão. Prefiro tomar um fora online, mostrando minhas fotos verdadeiras, do que sofrer uma rejeição ao vivo”, explica.

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