A jornalista e ativista Céu Ramos de Albuquerque, de 32 anos, é a primeira pessoa intersexo do país a conseguir o direito de retificar a certidão de nascimento, alterando o campo "sexo" de feminino para intersexo, de acordo com a Associação Brasileira Intersexo (Abrai). Ela também retificou o nome.
O processo, iniciado em julho de 2021 na 2ª Vara de Família e Registro Civil da Comarca de Olinda, em Pernambuco, terminou na última quinta-feira, 7, com a expedição do novo documento de Céu. A ação teve o apoio da Defensoria Pública do Estado de Pernambuco e do advogado e defensor público Henrique da Fonte.
Natural de Recife, ela tem hiperplasia adrenal congênita, uma condição genética que afeta a produção de cortisol, influenciando o desenvolvimento sexual e a formação dos órgãos genitais externos. Céu nasceu com uma genitália ambígua e, ainda bebê, realizou um exame de cariótipo que analisa a estrutura de cromossomos da pessoa.
Após o exame, passou por uma cirurgia de redesignação sexual e foi registrada com o sexo feminino. Céu ficou seis meses sem o registro de nascimento, aguardando o resultado do exame de cariótipo para ver qual era a prevalência de gênero do corpo dela.
Para a jornalista, a retificação do documento "é uma conquista para toda a comunidade intersexo". "Eu me sinto muito feliz com este resultado. Agora, acredito que poderemos construir políticas públicas de maior proteção e acolhimento para as pessoas intersexo", disse ao Terra NÓS.
O objetivo de Céu, como ativista, também é mudar a questão do "sexo ignorado". Atualmente, bebês intersexo são registrados dessa maneira ao nascerem.
"Estou feliz também pela mudança do meu nome. Eu nunca me identifiquei com o meu nome de registro e ele sempre me trouxe muito constrangimento", finalizou.