O presidente e candidato a reeleição Jair Bolsonaro (PL) afirmou em um vídeo que viralizou na última semana que "quase comeu um índio" durante uma visita há Surucucu, em Alto Alegre, Roraima, onde comunidades indígenas Yanomamis vivem. "Morreu um índio e ele 'tão' cozinhando. Eles cozinham o índio, é a cultura deles", disse, em certo momento do vídeo, relatando que não praticou canibalismo por falta de apoio da comitiva que o acompanhava.
"Cozinha por dois, três dias, e come com banana. E daí eu queria ver o índio sendo cozinhado. Daí o cara: ‘Se for, tem que comer’. Aí falei ‘Eu como’. Daí a comitiva, ninguém quis ir. ‘Vamo comigo lá’. Ninguém quis ir. Daí como a comitiva não quis ir, que tinha que comer o índio, eu, não queriam me levar sozinho lá. Aí não fui. Senão eu comeria o índio sem problema nenhum. É a cultura deles. E eu me submeti àquilo, talquei," relatou ainda.
Não há no Brasil nenhuma tipificação penal para “canibalismo” ou “antropofagia”, porém a prática pode ser enquadrada no artigo 211 do Código Penal: “destruição, subtração ou ocultação de cadáver”.
Rubens Valente, colunista da Agência Pública, publicou uma entrevista com o presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena (Condisi) Yanomami Junior Hekurari, que afirmou categoricamente que o ato não aconteceu e que não existe prática de canibalismo entre o povo Yanomami.
"Não somos canibais, nunca tivemos isso. Não tem um relato [sobre isso]. Nem relatos ancestrais nem atuais. Esse presidente não tem respeito com o ser humano. Ele inventa da cabeça, porque não tem preocupação com o Brasil. No Sucurucu tem pelotão do Exército e tem parceria boa com os Yanomami. Isso de ‘comer indígena’, isso não existe,” afirmou revoltado.
Junior reforçou ainda que a história foi inventada: “É sem cabeça, eu fiquei muito chateado. Coloca aí na sua matéria: ‘Presidente candidato mentiroso' ," concluiu.