Brasil tem ao menos 5 assassinatos de LGBTQIA+ por semana, diz levantamento

Número voltou a subir em 2021, após redução durante o ano em que começou a pandemia; gays e mulheres trans são as vítimas mais frequentes e recorrência de esfaqueamentos chama a atenção

11 mai 2022 - 15h06
(atualizado em 18/5/2022 às 17h05)

Pelo menos cinco pessoas LGBTQIA+ foram vítimas de homicídio no País a cada semana em 2021, segundo o Observatório de Mortes e Violências contra LGBTQIA+. Ao todo, foram 262 assassinatos, aumento de 21,9% em relação ao ano anterior, quando o total foi de 215. Em 2020, diante da quarentena imposta pela pandemia do novo coronavírus, houve queda de vários tipos de crime.

Segundo o relatório, que vai ser lançado nesta quarta-feira, 11, os alvos mais comuns foram gays (48,9%) e mulheres transexuais e travestis (43,9%). O dossiê é baseado em levantamento em notícias encontradas em jornais e portais eletrônicos, por causa das lacunas de estatísticas oficiais sobre esses crimes."Há, provavelmente, uma significativa subnotificação do número de mortes violentas de LGBTQIA+ no Brasil", escrevem os pesquisadores.

Publicidade
Bandeira LGBT na estação da Praça da Sé do metrô de São Paulo
Bandeira LGBT na estação da Praça da Sé do metrô de São Paulo
Foto: Carla Carniel/Reuters

Para Alexandre Bogas, diretor executivo da Acontece - Arte e Política LGBTQIA+, os números refletem não apenas os casos mais extremos, mas também o cenário de preconceito contra essa parcela da sociedade e o descaso do poder público. "E o assassinato é só o resultado final. A gente sofre no dia a dia, já começa na família. A violência é muito forte." Além da Acontece, o observatório inclui a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA) e a Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos (ABGLT).

O levantamento destaca ainda a quantidade de mortes violentas na população LGBTQIA+. Nesta conta, entram também, por exemplo, os suicídios. Conforme os pesquisadores, essas mortes também refletem o problema estrutural. Foram, no total, 316 mortes violentas de pessoas dessa comunidade - uma a cada 27h, incluindo homicídios, suicídios, entre outros.

De acordo com Bogas, a análise dos dados também expõe a crueldade dos casos e o ódio como motivação. "Ocorre muita pedrada e facada. Isso reflete a LGBTfobia estrutural", avalia. Esfaqueamento (28,8%), armas de fogo (26,27%), espancamento (6,33%), asfixia (3,16%), perfurações no corpo (2,53%) e queimaduras (2,22%) foram as principais causas de óbito. Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2020, o principal instrumento empregado em mortes violentas intencionais no Brasil, considerando a população em geral, foi a arma de fogo (72,5%), seguido de arma branca (19,3%).

O documento apresenta ainda uma tendência de crescimento no total de mortes violentas reportadas de LGBTQIA+, mas a avaliação de que isso está ligado também à atenção maior dos movimentos organizados e da própria mídia ao assunto. Em 2000, por exemplo, foram 130 mortes violentas relatadas. "A violência sempre ocorreu historicamente, mas não se tinha um esforço de mensurá-la e combatê-la", destaca o relatório.

Publicidade

Jovens de 20 a 29 anos foram as principais vítimas, com 30,4% eram das vítimas nessa faixa etária. O dossiê ainda destaca as mortes de defensores de direitos humanos LGBTQIA+. Foram nove no ano passado, ante sete em 2020. O Centro-Oeste aparece como a macrorregião mais violenta, com 2,15 mortes violentas a cada milhão de habitantes, seguida do Nordeste (2,01), do Norte (1,69), do Sudeste (1,15) e do Sul (0,92).

Reivindicações

As entidades listam, no dossiê, medidas que ajudariam a garantir a segurança dessa população. Entre elas, combater a impunidade e a subnotificação dos casos de abuso e violência; garantir políticas específicas para profissionais do sexo, moradores de favela e da periferia, pessoas em situação de rua, detentos e egressos das prisões. Segundo especialistas, grande parte da população LGBTQIA+ tem dificuldade para avançar nos estudos e conseguir empregos de melhor renda, diante das situações de preconceito e insegurança.

Os grupos do observatório pedem ainda a ampliação da estrutura e o orçamento do Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos, Comunicadores e Ambientalistas. Procurado, o Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos não se pronunciou até a publicação da matéria. O lançamento oficial do relatório será às 20h desta quarta, no link.

Fique por dentro das principais notícias
Ativar notificações