Cadê os Yanomami?: entenda as denúncias dos povos indígenas

Violência sexual, ameaças e desaparecimento de mais de vinte indígenas estão sob investigação

4 mai 2022 - 17h48
(atualizado em 5/5/2022 às 10h29)
Cabana Yanomami queimada na comunidade de Aracaçá, em Roraima
Cabana Yanomami queimada na comunidade de Aracaçá, em Roraima
Foto: Condisi-YY/Divulgação

Publicado no dia 25 de abril, o vídeo de Junior Hekurari, presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Yek'wana (Condisi-YY), denunciou o estupro de uma menina Yanomami de 12 anos por garimpeiros na comunidade Aracaçá (Roraima), na área de Waikás, pertencente à Terra Indígena Yanomami. A acusação de Hekurari foi o estopim para para uma série de outras denúncias e investigações.

A partir da publicação do vídeo, o Ministério da Justiça e Segurança Pública informou que entrou em contato com a Fundação Nacional do Índio (Funai) e que os fatos seriam apurados. Segundo a denúncia de Hekurari, enquanto a garota de 12 anos era violentada, uma mulher e outra criança de 4 anos que tinham sido levadas para o acampamento de um garimpo ilegal de ouro foram jogadas no Rio Uraricoera.

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Em relatório divulgado pela Hutukara Associação Yanomami no dia 11 de abril, quatro ataques de garimpeiros, que atuam na região desde os anos 1980, resultaram na morte de ao menos sete crianças desde o início de 2021.

A estimativa é que mais de 20 mil garimpeiros estejam atuando de forma clandestina dentro da Terra Yanomami, maior reserva indígena do Brasil, que tem quase 10 milhões de hectares e fica entre os estados de Roraima e Amazonas, além de parte da Venezuela. Na região, vivem 30 mil indígenas em 360 comunidades.

No dia 27 de abril, uma equipe integrada pela Polícia Federal (PF), pelo Ministério Público Federal (MPF), pela Funai e a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), com apoio do Exército e da Força Aérea Brasileira (FAB), viajou até a região para averiguar as denúncias. No entanto, a equipe não encontrou indícios da prática dos crimes, segundo nota conjunta divulgada após as diligências.

Júnior Hekurari acompanhou a equipe de investigação e afirmou que a aldeia foi totalmente esvaziada, tinha marcas de incêndio e relatou ainda que os indígenas fugiram depois de terem queimado o corpo das vítimas - a menina de 12 anos e a criança - e a moradia da família, conforme a tradição yanomami. Os mais de vinte integrantes da aldeia estariam vagando pela floresta em busca de um novo local para reconstruir suas casas, depois de serem coagidos e ameaçados para ficarem em silêncio. Outras testemunhas teriam recebido ouro para não denunciar a violência.

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O líder indígena afirma que os garimpeiros permanecem na região, mesmo depois que a Polícia Federal queimou um entreposto comercial e um posto de gasolina clandestino mantidos pelo garimpo.

No dia 4 de maio, foi anunciado que uma comitiva de parlamentares do Senado e da Câmara dos Deputados viajará no próximo dia 12 para Boa Vista, capital de Roraima, para tratar das denúncias. O anúncio se deu após o tema ganhar as redes sociais. A hashtag #CadeOsYanomami viralizou, sendo usada por políticos e celebridades, visibilizando o tema.

Segundo garimpeiros, denúncias são falsas

A Associação dos Garimpeiros Independentes de Roraima (Agirr) e o Movimento Garimpo é Legal disseram que os órgãos oficiais já desmentiram as acusações apresentadas pelo presidente do Condisi-YY sobre a morte da menina, após terem ido até o local e não terem encontrado qualquer indício de crime. As duas entidades informaram que estão adotando medidas legais para responsabilizar o autor das "falsas denúncias".

O Ministério Público Federal de Roraima informou que "a investigação segue em curso" e que, assim que houver uma conclusão, ela será divulgada.

Esta nota será atualizada conforme desdobramentos forem divulgados.

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Fonte: Redação Nós
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