O “Fora, Bolsonaro” dito por Carol Solberg em entrevista coletiva pós-jogo, em 20 de setembro de 2020, segue entalado na garganta da atleta, que é referência tanto no esporte quanto no posicionamento político e social.
Em live ao Papo de Mina, ela relembrou os momentos de medo que viveu após o episódio, o machismo sofrido durante o julgamento, o apoio que sempre recebeu da família e pediu conscientização de toda sociedade para as eleições que ocorrem este ano, para “tirar ele do poder”, se referindo ao presidente Jair Bolsonaro (PL).
Filha de Isabel, que também foi atleta do vôlei de praia, Carol cresceu com muita influência esportiva, mas também de falar, ouvir e dar opinião sobre diversos assuntos.
A mesa era um espaço para liberdade de expressão, algo que ela alega não ter tido no pós-jogo, quando se posicionou contra o presidente.
“Era algo que estava dentro de mim. Desde que ele foi eleito, esse presidente, o nível de indignação e tristeza, por a gente ter esse cara representando a gente, sempre esteve ali”, desabafa.
O grito entalado, que ela garante ter sido totalmente espontâneo, rendeu uma denúncia à Carol no STJD e o julgamento, segundo ela, foi um dos piores momentos, não só pelo medo de ser punida, de ficar longe das quadras, mas também pela forma como foi conduzido.
“Foi um julgamento extremamente machista, a forma como ele foi conduzido. As colocações dos caras, falando comigo como se eu fosse uma criança, uma menina de 10 anos de idade. Lembro que teve um cara que falou pra mim que eu não estava ali pra falar o que eu pensava, que eu estava ali pra dizer o que tinha acontecido nas quatro linhas”, conta.
Apesar de ter sido absolvida, por 5 votos a 4, Carol define como hipocrisia o fato de a sua manifestação ter causado tamanho barulho - algo que não ocorreu quando a seleção masculina de vôlei de quadra fez o sinal de 17, em apoio ao presidente, por exemplo.
“Eles receberam uma nota da CBV [Confederação Brasileira de Vôlei] falando que não podiam falar de política. A CBV, no meu caso, fez uma nota dizendo que eu tinha manchado aquele torneio, que eu não tinha agido com ética esportiva, me acabou, fez uma nota absurda sobre o episódio”.
“Se eu tivesse chamado de mito, viva ele, teria passado tranquilo”, acrescenta a jogadora.
Mesmo sem citar o nome de Bolsonaro em nenhum momento da entrevista, Carol deixa claro sua insatisfação, e reforça a importância da conscientização política de todos.
“Eu acho que a gente tem que se unir muito para tirar ele do poder, acho que isso é a coisa mais importante de todas”, afirma.
Apesar de sempre se posicionar, Carol garante que não quer fazer campanha dentro de quadra, e sim apenas jogar e falar sobre a partida - e ter liberdade para isso.
“Tudo que eu queria era não estar falando sobre isso, mas infelizmente não tem como não falar. Não dá para fingir que está tudo ok porque não tem nada ok nesse país, tá tudo horrível. A gente tem que se unir e lutar contra isso mesmo”, finaliza.