A psicóloga e ativista Priscila Siqueira, do perfil Vale PCD, publicou nas redes do projeto um vídeo onde reflete sobre a morte de pessoas com deficiência a partir do terceiro episódio da série "The Last of Us", da HBO.
Entitulado "Long, Long Time", o episódio foi muito bem avaliado por público e crítica por trazer uma narrativa com protagonistas gays mais velhos, com muita delicadeza e sensibilidade. Na trama, Bill (Nick Offerman) e Frank (Murray Bartlett) começam a se relacionar em meio a um apocalipse zumbi e décadas depois optam por uma morte assistida a partir da deteriorização da saúde de um deles.
No vídeo, Priscila aponta: "Não dá para ignorar que o Frank pediu para morrer por conta da deficiência que ele adquiriu e por conta da dependência que ele estava sentido, né?". A interpretação gerou controvérsia nos comentários, pois não fica evidente tudo o que motiva a morte assistida, mas o apontamento feito pela profissional capta a essência de um debate importante.
"A narrativa do capacitismo é alimentada com crenças de que vida com deficiências não são valiosas, ou seja, elas são descartáveis e dignas de pena", explica a psicóloga, que cita ainda o termo estadunidense, "bury your disabled", que em um tradução livre significa "enterre sua pessoa com deficiência". Essa expressão que é usada para se referir a tramas onde pessoas com deficiência optam pela morte assistida como uma forma de lidar com as limitações da deficiências.
"Infelizmente, é muito romantizado na mídia, e até visto como algo bonito, dar uma morte digna para uma pessoa com deficiência porque imagina viver assim por mais um segundo", completa.
Apocalipse zumbi e pandemia do Covid-19
Um outro ponto essencial no discurso de Priscila é a suposta falta de recursos para uma maior qualidade de vida do personagem, que tem mobilidade reduzida e dificuldades motoras. "Se a gente, pessoa com deficiência, não tem acesso ao cuidado ou aos recursos que a gente precisa a gente só deve morrer? Essa ideia não devia ser normalizada", aponta ela.
Em um paralelo, a psicóloga cita como a falta de recursos é muito mais real do que se imagina e traz a pandemia do covid-19 como um exemplo de falta de acesso e cuidados onde pessoas com deficiência, mais propensas ao vírus, não tiveram o suporte necessário e que, até hoje, com a pandemia em um estágio menos avançado, muitas pessoas imunosuprimidas ainda são impedidas de circular pela falta de cuidado coletivo.
Veja o vídeo completo: