Os longos vestidos e os sapatos fechados e pesados típicos do final do século XIX não foram as provações mais árduas que a britânica Charlotte Cooper (1870-1966) enfrentou ao longo da sua carreira de tenista. Embora tenha nascido ouvinte, ela ficou completamente surda aos 26 anos de idade e precisou reajustar a maneira de jogar e até de se comportar nas quadras. Nada disso a impediu, porém, de fazer história e se tornar em 1900 a primeira campeã olímpica dos Jogos Olímpicos, na França, edição em que foi permitida a participação feminina no evento pela primeira vez.
- Esse artigo faz parte da série Mulheres Olímpicas, que conta histórias de mulheres que brilharam e se tornaram referências mundiais em seus esportes, impactando gerações futuras.
Na época, as mulheres só tinham autorização para participar das provas de golfe, tênis, hipismo, vela e croqué, esportes considerados "belos" e que não exigiam contato físico. Charlotte subverteu as expectativas e demonstrou um jogo tido como "agressivo", com movimentos intensos, e foi uma das primeiras a usar o voleio, golpe feito próximo à rede, na maior parte das vezes pegando a bola no ar. Ela também gostava de sacar por cima da cabeça, algo pouco usual na época.
Aos 30 anos de idade, a tenista britânica ganhou duas medalhas de ouro: na partida simples, ao vencer Hélène Prévost por 2 sets a 0, e na partida de duplas mistas ao lado de Reggie Doherty, batendo Prévost e o inglês Harold Mahony, também por 2 sets a 0.
O desempenho nas Olimpíadas na França foi resultado de uma carreira de sucessos iniciada em 1895, quando conquistou o icônico torneio de Wimbledon pela primeira vez. Ela conquistou o título também no ano seguinte e, em 1898, 1901 e 1908, quando se tornou, aos 37 anos, a mulher mais velha a vencer a competição.
"Chattie", como era chamada na infância, se esforçou ao máximo após ficar surda para adaptar os movimentos e as reações às sacadas dos adversários sem se guiar pelo som da bola. Lidar com a deficiência no esporte, para ela, se mostrou só mais um desafio a ser superado e ela continuou praticando o esporte que amava até os 50 anos de idade.
Família apaixonada por tênis
Na vida pessoal, casou-se com o advogado Alfred Sterry em 1901 e teve dois filhos. O amor pelo tênis era uma característica da família: o marido chegou a ser presidente da Federação Nacional de Tênis do Reino Unido; o filho mais velho, Rex, foi vice-presidente do All England Club, e a caçula, Gwen, seguiu os passos maternos e participou das competições Wimbledon e Wightman Cup.
Charlotte Cooper faleceu no dia 10 de outubro de 1966, com 96 anos, em Helensburgh, na Escócia. Em 2013, entrou para o hall da fama do tênis mundial por seus feitos até hoje memoráveis.