Como funcionam os terreiros de religiões de matriz africana

Local sagrado de rituais típicos das religiões afro, como Umbanda e Candomblé, conta com regras e organização próprias

15 dez 2023 - 05h00
Rituais do Candomblé contam com oferendas, batuques e danças para os Orixás
Rituais do Candomblé contam com oferendas, batuques e danças para os Orixás
Foto: iStock

Para praticantes de religiões de origem afro, o terreiro costuma ser definido como casa religiosa de cura espiritual que pratica o bem, a empatia e o amor ao próximo. Entre terreiros históricos milenares e outros mais, digamos, jovens e modernos, estes espaços costumam abrigar cerimônias principalmente do Candomblé e da Umbanda e costumam despertar muita curiosidade, ainda mais pelo fato de alguns serem frequentados por famosos.

Embora parecidos, o Candomblé e a Umbanda são cultos com particularidades próprias.

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Resumidamente, o primeiro se baseia em ritos de etnia africana e o segundo mescla divindades africanas, catolicismo, espiritismo e rituais indígenas.

Nos rituais do Candomblé são feitas oferendas, geralmente comidas típicas, acompanhadas de batuques e dança. Os iniciados entram em uma espécie de transe e dançam de acordo com os seus "Orixás de cabeça", ou seja, o Orixá que guia a vida de cada pessoa. 

Já os umbandistas tocam batuques e cantam cânticos sagrados em português. Os médiuns 

recebem incorporações de entidades que têm o poder de curar e aconselhar a vida das pessoas. As entidades mais conhecidas são o preto velho, símbolo da sabedoria africana, o caboclo, mestre no manejo de folhas e ervas, Exu ou Pomba Gira, que ajudam nos assuntos do coração, e os erês, entidades infantis que representam a inocênca e a alegria.

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Organização e funções

Os terreiros são administrados como uma associação convencional, com cargos como presidente, tesoureiro e secretários. A parte espiritual também segue uma hierarquia. A Mãe de Santo ou o Pai de Santo - também chamados de Ialorixá e Babalorixá ou sacerdotisa e sacerdote - são os dirigentes do terreiro. 

Na Umbanda, eles se encarregam de cuidar espiritualmente do terreiro e dos médiuns e orientar e dirigir os trabalhos abertos e fechados ao público. São os responsáveis em fazer cumprir as diretrizes estabelecidas pelo astral superior. Em seguida vêm o Pai Pequeno ou a Mãe Pequena, cuja função é auxiliar e substituir quando necessário o Babalorixá e a Ialorixá. 

Médiuns de Trabalho são os médiuns que trabalham incorporados, cujas entidades já dão consulta e já passaram por todos os preceitos do terreiro, que variam conforme o local. Eles são seguidos pelos Médius em Desenvolvimento, que ajudam no auxílio às entidades incorporadas, mas ainda não podem dar consultas.

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Cambonos são auxiliares que coordenam a entrada da assistência nas consultas e passes e 

Curimbeiro, Tabaqueiro ou Ogã é a pessoa responsável pela puxada dos pontos cantados e bater ou tocar o atabaque.

Um terreiro pode ter até 50 médiuns e auxiliares, os filhos da casa, e receber 200 pessoas.

Independentes da hierarquia, todas as funções são igualmente importantes para o terreiro.

Roupas brancas e guias de proteção são características da Umbanda
Foto: iStock

Vestes

A roupa branca usada pelos médiuns nos cultos de Umbanda deve ser tratada de maneira especial e usada exclusivamente para este fim. O branco é uma cor que absorve a vibrações, mas não as retém, e representa pureza e simplicidade.

Os visitantes devem usar o bom senso na hora de escolher os trajes, pois o terreiro é um lugar sagrado. O ideal é usar peças claras e confortáveis e evitar roupas curtas, justas, decotadas ou transparentes.

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Nos terreiros de Candomblé, que assim como os de Umbanda têm dias específicos para o público geral, pede-se que a cor preta seja evitada. Além do branco, os candomblecistas também utilizam roupas brilhosas e coloridas específicas de cada Orixá representado. Já em eventos específicos da Umbanda, como gira para Exu ou para Pomba Gira, é comum ver os médiuns usando roupas vermelhas ou pretas.

A maior parte dos terreiros pede que os presentes fiquem descalços. A ação tem duplo simbolismo: impedir que as energias da rua, através dos calçados sujos, tomem conta do local e refletir a humildade e a simplicidade da religião.

As guias, colares de miçangas usadas pelos médiuns, servem para assimilar energias negativas e não devem ser compradas, e sim preparadas pela própria pessoa segundo os preceitos de cada casa.

Ritual

Quem chega num terreiro de Umbanda num ritual aberto a todos em geral pega uma senha para o atendimento com o médium incorporado. Vale lembrar que trata-se de um local sagrado, por isso permanecer em silêncio é uma atitude respeitosa e recomendável. É bom evitar conversas, fofocas e brincadeiras de qualquer tipo. Enquanto o público se acomoda, médiuns e auxiliares se banham em ervas para entrar em sintonia com o plano espiritual.

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A música vinda de instrumentos de origem africana é peça fundamental dos ritos que acontecem nos terreiros
Foto: iStock

Antes da celebração, há uma defumação para minimizar as energias negativas que possam estar presentes. Alguns terreiros também fazem um ritual com o marafo, uma aguardente de cunho religioso, para blindar o local de espíritos com más intenções.

No espaço principal do culto umbandista se encontram alguns médiuns e o Pai ou a Mãe de Santo, geralmente ao centro. Este espaço principal é mais conhecido como congá, que quer dizer “recinto”, e tem um altar com imagens das entidades. O chão é normalmente de terra batida.

O local da benção pode estar separado por correntes ou portões e só pode ser acessado depois de chamado. É preciso encostar a cabeça no altar, como sinal de respeito a Deus, aos Orixás e às entidades.

A Mãe ou o Pai de Santo incorpora a entidade primeiro; em seguida, é a vez dos médiuns. As pessoas são encaminhadas para atendimento, relatam seus problemas e ouvem conselhos e sugestões de rezas ou rituais. Após o atendimento geral, os médiuns desincorporam e é feito o encerramento com defumação e cânticos de gratidão. As pessoas costumam sair de frente para o congá, para o qual, pelo caráter sagrado, não se deve dar as costas.

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Fonte: Redação Nós
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