Começa nesta segunda, 11, a III Marcha das Mulheres Indígenas com debates, reuniões de grupos de trabalho, lançamento de publicações, entre outras atividades. Para celebrar o evento, que vai até quarta-feira, 13, o Terra NÓS traz um perfil da liderança Alessandra Korap, também conhecida como Alessandra Munduruku, que recebeu recentemente um dos reconhecimentos ambientais mais importantes do mundo, o Prêmio Goldman.
"O Munduruku é o povo mais numeroso da região do sul do estado do Pará, atualmente são 12.000 indivíduos. Nos tempos passados, nós, Munduruku, éramos temidos devido à fama da arte de guerrear em bandos e usávamos estratégias para atacar os nossos inimigos", explica o começo da carta de quatro páginas enviada ao governo federal, em 2013, que explicitava conhecimentos milenares e reafirmava demandas.
Uma dessas 12 mil pessoas é Alessandra, de 39 anos, que vive no Território Indígena Sawré Muybu, no sudoeste do Pará. Atualmente estudante de Direito na Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), foi a primeira mulher a presidir a Associação Indígena Pariri, que representa mais de dez aldeias do Médio Tapajós.
Em abril desse ano, Alessandra recebeu o Goldman Environmental de 2023, considerado o "prêmio Nobel" do meio ambiente por conta da sua trajetória de luta. Em 2019, ano em que discursou para mais de 270 mil pessoas no Portão de Brandenburgo, em Berlim, e em 2021 ela chegou a ter sua casa em Santarém (PA) invadida e vem frisando a importância da proteção de ambientalistas.
"É um reconhecimento da luta de todo o meu povo, de todas as mulheres que não conseguiram chegar até aqui. Não quero ser vista e ouvida depois que eu estiver morta. Dorothy Stang e Chico Mendes morreram nesta luta. Quero ser vista agora, neste momento, nesta existência", disse à Deutsche Welle, antes do recebimento da premiação em São Francisco, nos Estados Unidos.
Luta contra ingleses
As maiores batalhas de Alessandra é a defesa de seu território contra o garimpo ilegal e contra a atuação da empresa britânica de mineração Anglo American, que pretendia extrair cobre no território indígena Sawré Muybu. Por conta da pessão, a organização se comprometeu, em maio de 2021, a formalmente retirar os 27 pedidos de pesquisa feitos à Agência Nacional de Mineração (ANM).
Outro projetos, esses nacionais, também ameaçam o território Munduruku, como o corredor logístico Xingu-Tapajós, que conta já com diversas Estações de Transbordo de Carga (ETCs) em Miritituba (PA), e a Ferrogrão, ferrovia de quase 1000 km de extensão que atravessa o Pará.
Esses projetos que remetem a, não só, os últimos quatro anos do governo Bolsonaro, como também as gestões anteriores do PT. "Nós sofremos nos últimos quatro anos, mas também já sofríamos no governo Lula, com projetos como o da usina de Belo Monte e de Teles Pires, que matou locais sagrados para os mundurukus", afirmou ela para Folha de S. Paulo.
Sobre o trabalho, Alessandra é sincera e afirma que gostaria de não ter que fazê-lo, mas sabe que não existe outra possibilidade, caso queria que seus filhos tenham onde viver.
“Eu não queria ficar viajando. Eu queria ficar com meus filhos, cuidar da roça, banhar no rio, brincar, pescar. Não posso mais fazer nada disso. Isso dói. Mas, eu não vou desistir, eu vou estudar e lutar pelo meu povo contra o retrocesso, não posso me calar vendo o homem branco destruir a terra dos meus filhos. Ver outros povos sofrendo também, crianças sendo abusadas, como as Yanomami. Defender o território é defender a vida”, declarou Alessandra para o Instituto Socioambiental.