Conheça as mulheres negras que influenciaram a história do Brasil

Em comemoração ao Dia da Mulher, saiba quem são as negras brasileiras que revolucionaram a sociedade

8 mar 2023 - 05h00
Mulheres negras brasileiras que revolucionaram a história
Mulheres negras brasileiras que revolucionaram a história
Foto: Natalia Nunes/ Casa Lab

Neste Dia Internacional da Mulher, mais importante do que rememorar a data é trazer reflexões importantes para reforçarmos o quanto a contribuição intelectual das mulheres têm sido essencial para os avanços em áreas como a literatura, a ciência e a política. O constante apagamento das mulheres negras é uma delas.

"Nós, mulheres negras, somos a vanguarda do movimento feminista nesse país; nós, povo negro, somos a vanguarda das lutas sociais deste país porque somos os que sempre ficaram para trás, aquelas e aqueles para os quais nunca houve um projeto real e efetivo de integração social", escreveu a filósofa e escritora Sueli Carneiro, fundadora e atual diretora do "Geledés — Instituto da Mulher Negra" e considerada uma das principais autoras do feminismo negro no Brasil. 

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A fala de Sueli sintetiza a importância de não apenas trabalhar coletivamente pela efetivação do direito das mulheres pretas, mas relembrar constantemente a importância daquelas que vieram antes. 

Abaixo, listamos dez mulheres pretas que influenciaram diretamente na construção histórica do Brasil. Confira!

Carolina Maria de Jesus

Carolina Maria de Jesus, autora de Quarto de Despejo, Casa de Alvenaria e Diário de Bitita
Foto: Reprodução/ Divulgação

Autora do renomado livro "Quarto de Despejo", lançado em 1960, Carolina Maria de Jesus foi uma escritora brasileira que se destacou, principalmente, pelos seus relatos pessoais publicados. Nos textos, Carolina, que estudou apenas até o segundo ano do ensino fundamental, falava sobre as suas vivências de mulher negra e periférica no século XX. Nascida em 1914, em Sacramento, Minas Gerais, a autora morava na favela do Canindé, Zona Norte de São Paulo, e escrevia enquanto trabalhava como empregada doméstica e catadora. Em um ano, "Quarto de Despejo" vendeu mais de 100 mil cópias. Seus livros foram traduzidos em 14 línguas. 

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Dandara dos Palmares

Líder quilombola no Brasil colonial, Dandara atuou diretamente na proteção de centenas de homens e mulheres
Foto: Reprodução/ Divulgação

Muito se fala sobre Zumbi dos Palmares, mas pouco se aborda a importância de Dandara dos Palmares, sua companheira. Líder quilombola no Brasil colonial, Dandara atuou diretamente na proteção de centenas de homens e mulheres que tentavam sobreviver em meio à escravidão. Não se sabe quando ela nasceu, nem onde. Os registros não existem, porém, estudiosos acreditam que ela tenha crescido no quilombo dos Palmares, maior local de resistência preta da história brasileira, e participado da organização do espaço de resistência desde o início. Ultrapassando as funções domésticas, Dandara era uma excelente jogadora de capoeira e também aprendeu a manusear armas para participar da vigilância do quilombo. Ainda de acordo com pesquisadores, o governo português tentou capturar Dandara em fevereiro de 1694. Para escapar da escravidão, ela teria se jogado de um penhasco. 

Tereza de Benguela

Líder quilombola, Tereza de Benguela liderou por 20 anos o quilombo Quariterê, localizado na Serra dos Parecis, próximo ao Rio Guaporé e da Vila Bela da Santíssima Trindade, na fronteira do Mato Grosso com a Bolívia. Trabalhando ativamente contra o governo escravista, recebeu o título de rainha e coordenou as atividades políticas do espaço de resistência. Com sua liderança, a comunidade ocupada por negros e indígenas resistiu por mais de 20 anos. A descoberta de riquezas minerais da região despertou o interesse de portugueses colonizadores, que invadiram o Quariterê. Em 1770, uma invasão destruiu o quilombo e dizimou todos os seus integrantes. 

Ruth de Souza

A atriz Ruth de Souza abriu caminhos para gerações de atrizes negras brasileiras
Foto: Reprodução/ Divulgação

Responsável por revolucionar a arte e os costumes do Brasil, Ruth de Souza foi a primeira atriz negra a atuar no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Há 78 anos, ela encenou a peça 'O Imperador Jones', do dramaturgo norte-americano Eugene O’Neill (1888-1953). Nascida em terras cariocas, Ruth cresceu em Minas Gerais e, ainda criança, logo após assistir Tarzan, decidiu que queria ser atriz. Em 1948, a artista estreou no cinema com o longa 'Terra Violenta'. A indicação partiu do escritor baiano Jorge Amado. A repercussão foi extremamente positiva e, dois anos depois, ela embarcou para os Estados Unidos e estudou na renomada escola de teatro e cinema Rockefeller Foundation. Em 1953, brilhou no filme 'Sinha Moça', dirigido por Tom Payne. A atuação a levou ao Leão de Ouro, premiação na qual Ruth foi a primeira brasileira da história a concorrer. Ruth atuou por mais de 70 anos, e fez quase 40 filmes. Também participou de 20 novelas da TV Globo. A atriz faleceu em 2019, aos 98 anos, em decorrência de uma pneumonia. 

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Sônia Guimarães

Primeira mulher negra brasileira a ter um PhD, feito realizado em 1988
Foto: Reprodução/ Divulgação

Primeira mulher negra brasileira a ter um PhD (Philosophy Doctor, doutorado que só pode ser obtido na Inglaterra), feito realizado em 1988, Sônia Guimarães é uma cientista pioneira em física no Brasil. Nascida e criada em São Paulo, ela também é a primeira mulher preta a lecionar no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). Sônia, que tem 65 anos, é especializada em semicondutores, partículas que são parte essencial dos smartphones e da computação pessoal. Em toda a sua carreira, ela sempre batalhou para aumentar o número de mulheres negras na ciências, através de coletivos e organizações de fomento à educação. "Tem um ditado africano que diz que uma mulher puxa a outra e as duas puxam uma aldeia”, escreveu Sônia. 

Antonieta de Barros

Nascida em 1901, Antonieta de Barros foi uma professora, jornalista e escritora, natural de Florianópolis. Filha de Catarina e Rodolfo de Barros, é a primeira mulher eleita Deputada Constituinte e Deputada Estadual no Parlamento Catarinense, e a primeira representante negra a assumir mandato no Brasil. Ela é criadora do 'Dia do Professor'. Alfabetizada aos 5 anos, concluiu os estudos primários na Escola Lauro Müller e, aos 17 anos, ingressou na Escola Normal Catarinense - atual Instituto Estadual de Educação, onde cursou o Ensino Médio.  Ela foi a primeira da família a ter o ciclo escolar completo. Em 1922, aos 21 anos, fundou o Curso Particular Antonieta de Barros que era destinado à alfabetização. Dirigiu essa formação até o ano de sua morte, em 1952.

Maria Firmina dos Reis

Considerada a primeira romancista brasileira, é autora do livro Úrsula
Foto: Reprodução/ Divulgação

Considerada a primeira romancista brasileira, Maria Firmina dos Reis foi professora, poeta, compositora e colaboradora de jornais do Maranhão, onde nasceu, em 1822. Ela é autora de "Úrsula", o primeiro romance abolicionista do Brasil, publicado em 1859. Na obra, africanos e afro-brasileiros refletem sobre as relações opressivas que enfrentavam em uma sociedade escravista e patriarcal. Também fundou a primeira escola mista (para meninos e meninas) do estado, em 1880, quando o modelo ainda era escasso no Brasil. A instituição era gratuita para alunos sem condições de pagar. Sua contribuição na educação local a fez receber o título de 'Mestra Régia'. Na imprensa local, publicou poesia, ficção e crônicas. 

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Dona Ivone Lara

Nascida em 1921, a 'Grande Dama do Samba', como era chamada, foi uma cantora e compositora brasileira. Também chamada de 'Rainha do Samba', Dona Ivone Lara foi a primeira mulher a assinar um samba-enredo e a fazer parte da ala de compositores de uma escola, marco estabelecido na Império Serrano, no Rio de Janeiro. Também criou inúmeros clássicos do samba de raiz inspirados no cotidiano popular e conquistou respeito e reverência da MPB ao longo dos 96 anos de vida. Antes de seguir a carreira na música, ela se formou em Serviço Social e Enfermagem, ofício que exerceu por 37 anos. Sua especialização era em Terapia Ocupacional, e Dona Ivone também atuou no Serviço Nacional de Doenças Mentais com a doutora Nise da Silveira, uma das principais referências da luta antimanicomial no Brasil.

Hilária Batista de Almeida (Tia Ciata)

sambista e mãe de santo brasileira é um dos nomes mais marcantes no surgimento do samba carioca
Foto: Reprodução/ Divulgação

A sambista e mãe de santo brasileira é um dos nomes mais marcantes no surgimento do samba carioca. Nascida em 1854 em Santo Amaro, no Recôncavo da Bahia, Tia Ciata é uma das fundadoras da Irmandade da Boa Morte, confraria religiosa afro-católica responsável pela alforria de inúmeros escravos. A Irmandade existe até hoje. Iniciada na casa de Bambochê, da nação Ketu, a filha de Oxum se mudou para o Rio de Janeiro aos 22 anos, e lá continuou cumprindo as obrigações religiosas, estreitando também sua relação com o samba.Tornou-se símbolo da resistência negra pós-abolição e uma das principais incentivadoras do gênero musical, que ela costumava celebrar com festas escondidas dentro da sua própria casa, já que as reuniões eram proibidas. Faleceu em 1924, aos 70 anos.

Marielle Franco

Marielle foi reconhecida internacionalmente pelas formulações de projetos de leis e pautas em defesa dos direitos da população LGBTI e das mulheres pretas e faveladas
Foto: Reprodução/ Divulgação

Socióloga com mestrado em Administração Pública, nascida e criada no Complexo da Maré, no Rio de Janeiro, Marielle Franco foi eleita Vereadora da Câmara do Rio de Janeiro em 2016, com 46.502 votos. Foi também Presidente da Comissão da Mulher da Câmara e Coordenou a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). Em sua carreira política, Marielle foi reconhecida internacionalmente pelas formulações de projetos de leis e pautas em defesa dos direitos da população LGBTI e das mulheres pretas e faveladas. Uma das instituições foi a Anistia Internacional. Marielle se formou pela PUC-Rio, e fez mestrado em Administração Pública pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Sua dissertação teve como tema: “UPP: a redução da favela a três letras”. Trabalhou em organizações da sociedade civil como a Brasil Foundation e o Centro de Ações Solidárias da Maré (Ceasm) e construía diversos coletivos e movimentos feministas, negros e de favelas. Em 2018, foi assassinada em um atentado ao carro onde estava. 13 Tiros atingiram o veículo, matando também o motorista Anderson Pedro Gomes. 

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Fonte: Redação Nós
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