Conheça história da santa negra que vendeu joias compradas com dinheiro de prostituição e doou aos pobres

Rosa Egipcíaca foi a primeira mulher negra a escrever um livro no Brasil

20 nov 2024 - 05h00
Resumo
Rosa Egipcíaca, escravizada no Brasil colonial, enfrentou violências, prostituição forçada e doença grave, mas se tornou uma figura considerada santa por muitos.
Rosa Egipcíaca escreveu o livro "Sagrada Teologia do Amor Divino das Almas Peregrinas"
Rosa Egipcíaca escreveu o livro "Sagrada Teologia do Amor Divino das Almas Peregrinas"
Foto: Divulgação/Viradouro

Nascida na África Ocidental, no Benim, Rosa Egipcíaca foi trazida ao Brasil como escravizada em 1725, aos seis anos de idade. Vendida e submetida a anos de exploração, sua trajetória é uma das mais fascinantes do Brasil colonial. Rosa não apenas enfrentou as violências da escravidão e da prostituição forçada, mas também transcendeu essas condições, tornando-se uma figura considerada santa por muitos devotos.

Durante oito anos, ela viveu como escrava doméstica no Rio de Janeiro antes de ser enviada para Minas Gerais, onde foi submetida à prostituição, uma prática comum imposta às mulheres escravizadas na época. Entre abusos e exploração, Rosa acumulou joias e roupas que, anos mais tarde, seriam vendidas para ajudar os pobres.

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Quanto tinha cerca de 30 anos, enfrentou uma grave enfermidade no estômago que causava intensas dores. Nesse mesmo período, Rosa começou a ter visões místicas. Essa experiência a levou a mudar de vida: abandonou a prostituição, vendeu suas roupas e joias e doou aos pobres.

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Rosa passou a frequentar missas e começou a ser reconhecida como profetisa em cidades mineiras como Mariana, Ouro Preto e São João del Rei. Inspirada por Santa Maria Egipcíaca, também uma ex-prostituta convertida em santa segundo a tradição, Rosa adotou o nome Rosa Maria Egipcíaca da Vera Cruz.

Em 1751, retornou ao Rio de Janeiro e foi acolhida pelo Convento de Santo Antônio, onde recebeu orientação do padre Francisco Gonçalves Lopes, conhecido como "Xota-Diabos". Nesse mesmo período, ela fundou o Recolhimento do Parto, uma casa que abrigava mulheres, especialmente ex-prostitutas e negras.

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Após aprender a ler, Rosa escreveu "Sagrada Teologia do Amor Divino das Almas Peregrinas", o primeiro livro conhecido de autoria de uma mulher negra no Brasil. A obra, composta por mais de 250 páginas, narrava suas experiências místicas e sua relação com o divino. Rosa relatava ter recebido o título de "Mãe da Justiça" do menino Jesus e afirmava ser a esposa da Santíssima Trindade.

Apesar de sua devoção e das ações caridosas, Rosa não escapou da vigilância da Igreja. Suas práticas religiosas, que misturavam elementos cristãos e afro-brasileiros, despertaram suspeitas entre as autoridades religiosas. Em 1762, a Igreja Católica a acusou de ser herege e falsa santa.

Denunciada ao Tribunal da Inquisição, ela foi enviada para Lisboa junto ao padre Francisco. Durante o julgamento, Rosa não desmentiu suas visões nem suas declarações místicas. Em uma visão, Rosa disse que um dilúvio iria inundar o Rio de Janeiro e que apenas os que estivessem no Recolhimento do Parto seriam salvos, pois o local se transformaria em uma arca.

Rosa Egipcíaca permaneceu presa pelo Santo Ofício até sua morte por causas naturais, deixando um legado que mescla fé, resistência e controvérsia. No ano passado, a escola de samba do Rio de Janeiro, Unidos do Viradouro, homenageou Rosa no Carnaval 2023.

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Fonte: Redação Nós
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