Crescimento do futebol feminino pode estar ameaçado?

Mudanças na CBF, falta de ambiente sustentável e crise criada pela covid-19 podem gerar retrocesso na modalidade

12 abr 2022 - 08h00

A ideia de que 2022 poderia ser o ano de maior crescimento para o futebol feminino no Brasil está ameaçada. Três anos depois da Copa do Mundo feminina de 2019, torneio que gerou a maior visibilidade para a modalidade no País, ainda há falta de planejamento na Confederação Brasileira de Futebol (CBF) para as mulheres. 

Em meio a cobranças, futebol feminino cresce no Brasil
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“As conquistas que a gente teve nos últimos anos [para a modalidade] não são lugares seguros e fixos. Basta ver todo esse movimento antidemocrático que a gente está vivendo no Brasil, onde a gente tem uma fragilidade de conquistas que a gente considerava normais”, afirmou Aira Bonfim, historiadora e pesquisadora do futebol feminino no Brasil, ao Papo de Mina

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“Pensando na entidade de poder, representada pela CBF, e as recentes modificações que estão acontecendo lá, precisamos ficar atentos para além do futebol feminino, para as mudanças de gestão. Acabou de entrar um presidente novo, que está vindo de um outro histórico, que não precisa estar sujeito a todo esse projeto de desenvolvimento de mulheres. 

Um dos marcos nos últimos anos para a modalidade aconteceu na final do Paulistão Feminino de 2019, com o confronto Corinthians x São Paulo. O Clássico Majestoso na Neo Química Arena contou com aproximadamente 29 mil torcedores nas arquibancadas, recorde batido somente na decisão entre os dois clubes no ano passado, no mesmo estádio.

De lá para cá, a projeção era de um crescimento progressivo. Pia Sundhage, técnica com um histórico campeão, foi contratada para assumir a seleção brasileira e implementar um projeto de fomento ao esporte para as categorias de base; Aline Pellegrino, um dos principais nomes na gestão do futebol feminino, entrou na CBF para cuidar de competições. Enfim, eram novos horizontes. 

Aline Pellegrino é Coordenadora das Seleções Brasileiras Femininas
Aline Pellegrino é Coordenadora das Seleções Brasileiras Femininas
Foto: CBF/Divilgação

No entanto, no meio do caminho de expansão, a pandemia de covid-19 gerou graves consequências, principalmente por conta do ambiente economicamente nada sustentável em que as equipes femininas vivem. Há uma questão estrutural que precisa ser arquitetada. 

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“É importante que a gente comemore a presença da Pia e da Pelle em cargos na entidade, mas enquanto não tivermos mulheres ascendendo aos cargos de poder, de “dirigência”, tanto nas instâncias estaduais quanto da CBF, que é a mais importante instância do futebol no nosso país, sempre vamos ter um pé atrás”, afirmou Bonfim. 

“O futebol brasileiro é um ambiente de muito poder, de muito dinheiro e essas oportunidades que foram dadas para essas mulheres não foram dadas de bandeja, porque a entidade é boazinha. É por conta de uma cobrança que está vindo de fora. Isso pode ser fragilizado ou colocado em uma ‘geladeira’, dependendo da pessoa que está lá.”

Seleção feminina 

Pia Sundhage em amistoso da seleção feminina
Foto: Lucas Figueiredo/CBF

Um dos pontos que preocupam neste cenário, a pouco mais de um ano da Copa do Mundo Feminina da Austrália, em 2023, é a possibilidade de a treinadora sueca deixar o cargo na comissão técnica. A saída de Pia interromperia o trabalho que vem sendo construído nos últimos anos e, certamente, prejudicaria o desempenho da seleção no Mundial. 

“Por onde passou, a Pia foi campeã. Tanto na Suécia quanto na seleção dos Estados Unidos. E ela foi criticada logo na chegada ser estrangeira e ninguém conhecer o trabalho dela. Infelizmente, no Brasil nós sabemos que o que vale é resultado aqui. Pode ter medalha, história, ser campeã na carreira… Mas o que vai ser cobrado no País é o resultado”, disse Daniela Alves, ex-jogadora da seleção e atual treinadora. 

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Brasil venceu a Hungria com o placar de 3 a 1
Foto: Lucas Figueiredo/CBF

Nesta segunda-feira (12), o Brasil venceu a Hungria, por 3 a 1, em amistoso preparatório para a Copa América. No dia 7 de abril, a equipe empatou com a Espanha por 1 a 1, com um bom desempenho em campo. Os resultados são muito importantes após o torneio da França, em fevereiro, no qual a seleção não conseguiu nenhuma vitória.  

“Essa nova geração chega com uma pressão muito grande. E uma coisa que acrescenta é que, quando eu jogava, o Canadá não era forte, a Espanha não existia… A Nova Zelândia, por exemplo, a gente não colocava menos de três gols contra elas, mas agora as equipes evoluíram”, afirma Daniela.

“Então, qual é o resultado disso? As outras seleções se prepararam muito mais, fomentaram muito mais o esporte. O Brasil demorou, como sempre, para acordar. Mas ainda é hora de acordar”, assegura a ex-camisa 7 da equipe nacional.

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