Na bio do Instagram os termos "Deus, crossfit e bem-estar". No feed, fotos de looks do dia, rotina de exercícios físicos, dancinhas e viagens. Descrevendo assim, nada de muito diferente no perfil da influenciadora Vithória Papel de 30 anos a não ser um detalhe: seu 1 metro e 33 centímetros de altura.
Vitthy, como é conhecida por seus mais de 1 milhão e 700 mil seguidores, é uma pessoa com nanismo, e entende sua deficiência mais como uma de suas características físicas do que como uma deficiência em si.
"Hoje, ser diferente é mais legal. Se eu tivesse outra estatura não teria tanto destaque na internet. Faço questão de ser como eu sou e, com os anos, vi que posso fazer o que eu quiser", conta ela, que percorreu um longo caminho para lidar com o nanismo.
Mais baixa da turma
"Minhã mãe sempre foi muito protetora, então, não falamos muito sobre isso em casa. Quando eu era criança, perguntava sobre minha altura e a resposta era sempre que eu seria a 'mais baixinha da turma'", conta Vitthy, em entrevista ao Terra NÓS.
Foi só ao chegar na adolescência que soube efetivamente que era uma pessoa com nanismo, uma deficiência no crescimento que leva a pessoa a ter baixa estatura se comparada com a média da população de mesma idade e sexo.
O Tratado de Pediatria Nelson, produzido pela Sociedade Brasileira de Pediatria, aponta que a média da altura máxima de mulheres com nanismo é de 1 metro e 40 centimetros.
Entre saber que era uma pessoa com nanismo e aceitar o fato foi um processo e, de imediato, sendo a primeira pessoa com nanismo na família e em seu convívio social, acabou desenvolvendo um quadro de transtornos alimentares.
"Quando tive consciência da minha estatura, quis desviar o foco com exercício em excesso e pouca comida. Cheguei a pesar menos de 29 kilos", relembra. Hoje, Vithy pesa 40 quilos.
"Parei de menstruar, sentia muito frio, fiquei um ano sem comer doces, que é algo que amo, e entrei em depressão", completa. Quando viu que as coisas não iam bem, pediu ajuda e começou um acompanhamento médico com profissionais de psicologia e psiquiatria, voltando a comer regularmente em um ano.
O processo, no entando, levou para um quadro de sobrepeso. Depois disso, incentivada pela irmã que é personal trainer, começou a praticar crossfit. "Sempre fui da dança, do ballet, do jazz. Sempre tive meu corpo em ação e isso que fez eu me encantar pelo crossfit: cada dia é um treino. É motivador, não é aquela monotonia", explica Vitthy que é, segundo ela, a primeira mulher com nanismo a ter a imagem vinculada à modalidade.
Foi a prática, inclusive, que deu destaque a ela nas redes sociais: um vídeo seu levantando 100kg em pesos em uma atividade de crossfit viralizou e desde então ela foi acumulando seguidores que acompanham sua rotina de exercícios e estilo de vida.
Do limão ela fez uma limonada
Formada em publicidade e técnica em teatro, que lhe garantiu um DRT, o registro profissional de artista, Vitthy destaca ainda o público que chegou em suas redes graças à participação na Tiru House Comedy, o projeto de humor do comediante Tirulipa.
"Foi uma grande exposição. Fui para a comédia, ganhei muitos seguidores e visibilidade lá. Para mim é muito surreal, eu sempre quis ser famosa, quis ser conhecida. Desde criancinha eu falava sobre isso, mas não me tornei conhecida por ser atriz e, sim, pelo que eu sou, pelo conjunto: a crossfiteira, a atriz, a produtora de conteúdo e a pessoa com nanismo", conta.
E com a fama veio, infelizmente, o assédio. "Eu faço crossfit. Ter um corpo legal é inevitável. Eu me sinto bem, mas vinha muito comentário inconveniente quando postava foto de biquíni", explica ela que encontrou uma solução para ter alguma vantagem sobre isso: um perfil no Onlyfans, site de conteúdo adulto.
"Minhas fotos de biquíni já viralizaram e eu não ganhava nada com isso, então agora eu monetizo. Não tem nenhum conteúdo erótico ou nu no meu perfil. Não tem nada demais", finaliza.
As fotos de biquíni no Only Fans são apenas uma das frentes de carreira que Vitthy pretende seguir: a de modelo. "Esses dias até comentei em uma sessão de fotos que é isso que eu gosto de fazer, é isso que eu quero. Meu sonho é fazer um comercial na televisão. Quero ser um exemplo para qualquer pessoa que não se aceita e mostrar que você pode ser o que quiser", celebra a influenciadora, animada com os novos planos.