Daniel Alves completou nesta segunda-feira 80 dias preso em Barcelona, no presídio Brians II. O lateral-direito responde por estupro e agressão sexual contra uma jovem em boate da capital catalã, ainda em dezembro. Desde então, a vida do jogador se transformou: sem clube, com o contrato com o Pumas, do México, rescindido, Daniel Alves não conseguiu junto à Justiça espanhola autorização para responder pelo caso em liberdade. Ele disputou a última Copa do Mundo com a seleção brasileira no Catar.
Próximo de completar três meses em Barcelona enquanto aguarda o julgamento, o Estadão preparou um levantamento dos últimos 80 dias do jogador, desde sua prisão preventiva até a separação de sua mulher, Joana Sanz, no último mês. Ex-jogador do São Paulo, Barcelona, Paris Saint-Germain e Juventus, Daniel Alves teve seu vínculo rescindido com o Pumas, do México, imediatamente após a prisão. Desde então, sua rotina se resume em algumas poucas atividades, como jogar futebol com outros presos e algumas poucas visitas.
Por que Daniel Alves foi preso?
Daniel Alves é acusado de estuprar e agredir sexualmente uma jovem em uma boate de Barcelona, no último dia 30 de dezembro. Convocado por Tite para disputar a Copa do Mundo pela seleção brasileira, ele teria trancado, agredido e estuprado a denunciante em um banheiro da área VIP da casa noturna. A mulher, que não teve sua identidade divulgada, procurou as amigas e os seguranças da balada após o ocorrido.
A equipe de segurança da casa noturna acionou a polícia catalã (Mossos d’Esquadra), que colheu depoimento da vítima. Uma câmera usada na farda de um policial gravou acidentalmente a primeira versão da vítima sobre o caso, corroborando o que foi dito por ela no depoimento oficial. A mulher também passou por exame médico em um hospital. Daniel Alves foi embora do local antes da chegada dos policiais.
O relato da vítima batia totalmente com as imagens registradas pela câmera de segurança do local, onde o jogador teria agredido sexualmente a mulher. Além disso, a mulher descreveu com detalhes uma tatuagem entre o abdômen e o pênis do jogador. Em janeiro, o jornal espanhol El Correo publicou uma reportagem sobre o plano, que a polícia traçou, dois dias após a gravação da primeira versão da vítima, para “pegar” Daniel Alves em seu depoimento.
Inconsistências nas versões dadas pelo jogador à Justiça, além da possibilidade de fuga da Espanha, fizeram com que a juíza Maria Concepción Canton Martín decretasse a prisão de Daniel Alves no dia 20 de janeiro, uma sexta-feira, após prestar depoimento. O Ministério Público pediu a prisão preventiva do atleta de 39 anos, sem direito à fiança, e a titular do Juizado de Instrução 15 de Barcelona acatou o pedido, ordenando a detenção.
A defesa de Daniel Alves, encabeçada pelo advogado Cristóbal Martell, chegou a apresentar recurso para que o lateral-direito respondesse em liberdade, mas o pedido foi negado pela Justiça. Martell chegou a incluir no pedido que o jogador tivesse seu passaporte retido — para que não pudesse fugir da Espanha — e que utilizasse pulseira eletrônica.
Quais foram as versões de Daniel Alves ao caso?
Antes de ser preso preventivamente, Daniel Alves chegou a conceder entrevista negando que tivesse estuprado a jovem. No dia 5 de janeiro, ao programa “Y Ahora Sonsoles”, do canal espanhol Antena 3, confirmou que estava na boate Sutton na data do ocorrido, mas negou a agressão e alegou que não conhecia a mulher.
“Primeiramente, gostaria de desmentir tudo. Eu estive nesse lugar (casa noturna), com mais gente, aproveitando. Todo mundo que me conhece sabe que eu adoro dançar. Eu estava aproveitando, mas sem invadir o espaço dos demais. Sempre respeitando o entorno”, disse.
No depoimento, de acordo com os meios de comunicação da Espanha, o atleta chegou a defender que esteve com a mulher, mas sem ato sexual. Posteriormente, admitiu o ato sexual, mas alegou que a relação foi consentida. Segundo a rádio Cadena SER, imagens da vigilância interna do local confirmam que Daniel Alves ficou 15 minutos com a mulher no banheiro. Material coletado encontrou vestígios de sêmen, tanto internamente quanto no vestido da denunciante.
Uma das justificativas para a multiplicidade de versões era esconder a sua infidelidade de Joana Sanz, com quem estava casado à época. Além disso, um dos motivos para Daniel Alves ter prestado depoimento na Espanha foi a sua ida, ao lado de sua mulher, ao velório de sua sogra.
Como é a vida de Daniel Alves na prisão?
Transferido para o Brians 2 no dia 23 de janeiro, Daniel Alves segue uma rotina sem privilégios em Barcelona. O local é conhecido por abrigar empresários, políticos e ex-policiais e possui um departamento de prisão provisória, onde está o brasileiro. O local já abrigou figuras importantes, como o ex-presidente do Barcelona, Sandro Rosell.
O Centro Penitenciário Brians 2 foi inaugurado em 1º de junho de 2007. Ele é localizado ao lado do Centro Penitenciário Brians 1, no município de Sant Esteve Sesrovires, uma cidade no norte da região de Baix Llobregat. Segundo a Secretaria de Justiça, Direitos e Memória, o Centro Penitenciário Brians 2 é composto por 14 módulos e cada um possui 3 andares e 72 celas; também possui mais dois módulos para determinados serviços e perfis.
Na prisão, Daniel Alves dividiu, segundo a imprensa espanhola, cela com outro brasileiro, chamado Coutinho. No jargão carcerário, seu papel, como “prisioneiro de confiança”, era de auxiliar o lateral a superar o sentimento de angústia e estresse que a entrada na prisão pode causar, especialmente para pessoas que nunca estiveram em uma penitenciária.
Ao longo dos últimos meses, o jogador recebeu diversas visitas na prisão, principalmente de sua ex-mulher. Daniel Alves e Joana se conheceram em 2015 e se casaram dois anos depois, em cerimônia secreta e privada em Ibiza, uma ilha no litoral da Espanha. Além da modelo, o chef e nutricionista brasileiro Bruno Brasil, que estava presente na boate no dia do ocorrido, também é uma das visitas frequentes ao jogador em Barcelona. Ele acompanhou também Joana Sanz nas vezes em que a mulher foi até a prisão.
A presença do jogador no presídio também movimenta um esquema da venda de camisas do Barcelona autografadas pelo brasileiro. Tricampeão da Liga dos Campeões pelo clube, suas camisas são trocadas por maços de cigarros. Segundo o site espanhol El Caso, funcionários da Brians 2 notaram a entrada de uma grande quantidade de camisas do Barcelona na penitenciária. As peças seriam para um preso que tem permissão para circular em diferentes módulos do complexo.
Separação de Joana Sanz
Em meio às diversas visitas a Barcelona, Joana anunciou, por meio de suas redes sociais, que iria se separar de Daniel Alves, em carta escrita a próprio punho. “Eu o amo e o amarei para sempre. Quem diz que um amor se esquece está se enganando ou não amou de verdade. Mas eu amo, respeito e valorizo muito mais a mim mesma. Perdoar alivia, então, fico com o mágico e encerro uma etapa da minha vida que começou no dia 18 de maio de 2015. Dou graças às oportunidades e aprendizados que a vida me dá. Por mais difícil que seja, aqui está uma mulher forte que passa à etapa seguinte da sua vida”, escreveu Joana.
Na mesma semana, em carta divulgada com exclusividade ao Estadão, Daniel Alves lamentou a decisão de sua mulher. “Compreendo a dor que está causando a injusta situação que estamos vivendo. Entendo que você não tenha sido capaz de suportar toda essa pressão. Os fatos de que sou acusado são alheios a mim e aos valores que me guiaram por toda a minha vida: o amor, o respeito e o esforço.”
Segundo a imprensa espanhola, na semana em que o término foi anunciado, Daniel esteve deprimido e irritado, sem nem conseguir comer direito.
Qual pode ser a pena de Daniel Alves?
Ainda não há uma data para que o caso de Daniel Alves tenha seu veredito na Justiça da Espanha, mas ele deve ocorrer ainda em 2023. Em outubro de 2022, o Código Penal da Espanha foi alterado com a adição de uma nova lei, a qual prevê que os crimes sexuais devem ser tipificados de acordo com o consentimento da vítima. Chamada de “Só sim é sim”, ela passou a considerar que todos os atos sexuais não consensuais passaram a ser considerados violência. A prisão do jogador está mantida até o final do julgamento.
De acordo com o jornal El Mundo, Daniel Alves poderá ser condenado a uma pena de oito a dez anos de prisão. No início de fevereiro, oito testemunhas, que estiveram presentes na madrugada em que o caso teria ocorrido, prestaram depoimento na Justiça espanhola: uma amiga e a prima da denunciante; dois garçons da área VIP da Sutton; o porteiro da casa noturna; o diretor da boate, responsável por acionar o protocolo contra agressão sexual e chamar os Mossos d’Esquadra (polícia catalã); e outras duas pessoas que estavam na discoteca na noite do ocorrido.